Agricultura e pecuária, exorcistas da crise
Não fosse pelo excelente desempenho do setor agropecuário nos últimos anos, o Brasil muito provavelmente já estaria imerso numa profunda crise econômica.
É alvissareiro, pois, o Banco Central estimar – com base no desempenho do agronegócio e apesar dos efeitos negativos da pandemia sobre a atividade econômica – que a balança comercial feche o ano na casa dos 70 bilhões de dólares, bem acima dos 53 bilhões inicialmente previstos.
Não é só isso, com tal desempenho da balança comercial (puxado pelo desempenho das commodities) devemos conseguir em 2021 algo que não ocorria desde 2007: a obtenção de um superávit no balanço de pagamentos em conta-correntes, o índice que mede o total das contas externas do país (além do comércio, serviços – como fretes e seguros – , viagens, transferência unilaterais, investimentos e remessas). É esse o indicador preliminar para o qual olham analistas e investidores para avaliar a situação econômico-financeira de um país.
Nosso déficit em conta-corrente, no ano passado, foi de 12,5 bilhões de dólares. Estimava-se para este ano um novo déficit, próximo da casa dos vinte bilhões. Agora, com as novas estimativas, prevê-se um superávit, pequeno, de cerca de dois bilhões de dólares, mas de qualquer modo, um superávit.
Em março, não apenas o saldo positivo do comércio do agronegócio foi elevado – US$ 10,2 bilhões–, como permitiu a obtenção do melhor resultado já havido em doze meses. Para os demais produtos da balança comercial, verificou-se saldo negativo de US$ 3,7 bilhões.
Não se trata de um acontecimento episódico. Comunicado técnico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), mostra que os saldos da balança comercial do agronegócio foram positivos ao longo dos últimos doze meses. O que é extraordinário é que o valor das exportações de março passado tenham superado em 28,6% às do mesmo mês de 2020.
Para alguns produtos, o desempenho foi mesmo vertiginoso, como no caso da soja, cujas exportações no mês passado – US$ 5,4 bilhões – aumentaram 43,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. A carne bovina foi o segundo produto com melhor desempenho em março: US$617,2 milhões de exportação, com aumento de 11,6% em relação ao mesmo mês de 2020.
Os dados da CNA quanto ao destino das exportações de produtos agropecuários, mostram que a China continua a ser nosso principal mercado consumidor, com participação de 43,3% do exportado pelo setor.
A pauta de exportações do Brasil para os chineses, na esfera do agronegócio, foi constituída, em março de soja em grãos (77,3%), carne bovina in natura (6,5%), celulose (4,2%) e carne suína in natura (3%).
Em última instância, é o setor de commodities que está oferecendo à economia brasileira (cujo principal segmento é tradicionalmente o de serviços) a sustentação necessária para que o País possa atravessar o período pandêmico sem incorrer num desastre completo.
As mais recentes projeções para o crescimento do PIB brasileiro para 2021, feitas pelo Banco Mundial, são de cerca de 3,1%. Sem o agronegócio teríamos um ano de recessão; sem uma China compradora estaríamos nos encaminhando para uma crise nas contas externas, a despeito da segurança oferecida por nossas respeitáveis reservas cambiais (hoje na casa de US$ 350 bilhões).
Reservas altas são como bóias, confortáveis e seguras quando se está numa piscina, mas sempre insuficientes em mares revoltos.