Silvia Caetano

Abstenção eleitoral assusta dirigentes europeus

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Lisboa – Ao lado do possível crescimento da extrema-direita e dos antieuropeístas nas próximas eleições europeias, nos dias 23 e 26, a abstenção eleitoral é o fantasma que mais assusta os dirigentes da União Europeia. Desde a primeira eleição, em 1979, quando a participação dos europeus foi de 61,9%, vem diminuindo seu interesse pela escolha dos eurodeputados. No pleito de 2014, a participação foi a mais baixa de sempre.42,5% dos eleitores preferiram não aparecer naquele dia de sol ameno.

Naquelas eleições, as duas grande famílias do Parlamento Europeu -PE-, o PPE, de centro direita, e socialistas e democratas, fizeram enormes esforços mas conquistaram apenas 53% das cadeiras, contra 61% em 2009.Se a tendência não se inverter, é possível que sejam ainda menos no próximo Parlamento, perdendo condições para aprovar leis do interesse coletivo. Portugal ficou entre os oitos países com as taxas mais baixas de presença.66% dos portugueses deixaram de comparecer às urnas

São visíveis os sinais de alerta em toda União Europeia-UE-, que está em plena campanha contra o desinteresse crônico dos seus eleitores. No dia 25 de abril passado, lançou campanha para incentivar o voto dos cidadãos e investiu 36 milhões de euros na disputa dos 28 Estados-membros. O apelo é nervoso diante da escalada dos eurocéticos, nacionalistas e dos que defendem valores contrários aos seus princípios, sobretudo no que diz respeito aos direitos humanos.

Todos os ex-presidentes do Parlamento Europeu, incluindo o atual, Antônio Tajani, já apelaram ao exercício do voto, sobretudo à juventude, com a campanha “Desta vez eu voto”. Embora 76% deles admitam que pertencer à UE é “uma coisa muito Boa”, sua participação nas suas eleições tem sido reduzida. A iniciativa apresentou alguns resultados. Jovens de todos os países uniram-se em várias plataformas para motivar o eleitorado. Uma delas, “O que a Europa faz por mim”, tenta mostrar o nível de impacto nas decisões do PE no seu dia a dia.

Na União Europeia, como no Brasil, as pessoas distanciaram-se dos políticos porque não se sentem representadas pelos eleitos. No caso brasileiro, também porque legislam em causa própria e não defendem seus interesses. Como ainda não se inventou outra via para o exercício da democracia fora da representação parlamentar, torna-se indispensável escolher o melhor possível para evitar a eleição de desqualificados e meliantes, batalha ainda não ganha no Brasil no contexto da falta de educação da maioria da população.

É outra a situação na UE, embora com culpa registrada no cartório. Ao longo dos anos, seus dirigentes ignoraram a maioria das reivindicações dos cidadãos, com pouca ou nenhuma compaixão pelas suas necessidades e aflições. As políticas de austeridade que aplicaram nos países do Sul e que quase levaram a Grécia a deixar o clube, foi a gota que faltava para entornar o copo da insatisfação. Agora, nos poucos dias que restam de campanha, tentam motivar os eleitores, o que será difícil acontecer. Tempo insuficiente para demonstrar porque todos precisam de uma União Europeia forte e consolidada.

Pelo menos em Portugal, não se percebe presença espontânea nos atos eleitorais, cujos candidatos estão sempre cercados de comitivas partidárias organizadas para evitar o vazio ao redor. Raros eleitores à vista. Ainda assim, com poucas exceções, os candidatos continuam cometendo o erro estratégico de sempre, enfatizando as questões da província, com olhos postos nas próximas eleições legislativas de outubro, em detrimento dos grandes problemas europeus.

A campanha não sai dos temas nacionais, o que é um desperdício de tempo e de energia para demonstrar a importância da participação nas eleições com vistas ao aperfeiçoamento da União Europeia, para que se torne de todos. Não se menciona, por exemplo, que desde sua criação, o Continente vive seu mais longo período de paz. Os conflitos bélicos nos Balcãs, na invasão da Geórgia e na anexação da Criméia ocorreram fora do seu espaço.

Com 500 milhões de habitantes, terceira maior população do mundo, a União Europeia é dos maiores espaços econômicos, políticos e de democracia liberal do Globo. Precisa dos seus cidadãos para se manter unida e capaz de enfrentar seus inimigos. Fracionada, como logo descobrirão os britânicos favoráveis ao Brexit, nenhuma das suas nações terá força global num cenário dominado pelos Estados Unidos e pela China. É preciso defender a Europa. É preciso votar e eleger um Parlamento capaz de fazê-lo.

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