Silvia Caetano

A violência destrói o poder

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Lisboa – O poder decorre da capacidade humana para agir em conjunto, o que requer o consenso de muitos com relação ao curso comum de uma ação. Por isso, poder e violência são termos opostos. Quando o poder se desintegra,ou existe tal ameaça, surge a violência, já ensinava Hanna Arendt, em seu livro” Sobre a Violência”. Hanna ainda alertou que quando os comandos não são mais generalizadamente acatados, por falta de consenso e da opinião favorável, implícita ou explicita, de muitos, os meios violentos não têm utilidade, situação- limite que pode conduzir ao pior.Será o que vai acontecer no Brasil?

A violência se expressa de muitas formas. Uma delas, através da fala, do discurso político, que tanto pode ser singular como plural. Quando o clã Bolsonaro destila raiva e ódio através das redes sociais, comete violência, mas também deixa transparecer insegurança com relação ao poder que ainda possui, contribuindo para perdê-lo. Violência não significa autoridade, não cria poder, mas paralisa-o e o destrói. É isso que está ocorrendo no Brasil da atualidade. Os filhos vociferam e o papai desperdiça tempo e energia para defendê-los em vez de governar.

Quando o deputado Eduardo Bolsonaro deixa-se se fotografar com uma arma na cintura e com outras de maior calibre, não exibe poder nem autoridade, mas sua negação, falta de conhecimento sobre o país e incapacidade para cumprir as funções para as quais foi eleito. Além de se abrigar atrás de meios bélicos, o 03 integra a turma dos que acreditam que ganha a parada quem grita mais alto.

Nunca esqueci conselho dado pelo reitor da faculdade de Direito onde estudei quando nos ouvia discutindo política aos berros:” não gritem, pois quem ouvir pode pensar que vocês têm razão.” Mas é outra a percepção do clã Bolsonaro, que não possui a sabedoria do velho reitor, que era padre, nem discernimento ,formação e competência para desempenhar seus papéis no governo e no Legislativo.Só sabem gritar, propagar mentiras, acusar e ofender atrás de um teclado, sem oferecer nada de bom e produtivo para construir um país melhor, mais justo e igual.

A última valentia dos 03 foi ameaçar com a reedição do infame AI5 caso ocorram manifestações das esquerdas, existentes apenas na sua mente sombria. Diante das reações, exceto do Presidente do STF, Dias Toffoli, e do PGR, Augusto Aras, que fizeram ar de paisagem, Eduardo Bolsonaro fingiu arrependimento e pediu desculpas. Não convenceu porque este é seu pensamento, tantas vezes declarado em alto e bom som.

Enquanto lideranças políticas e parlamentares repudiavam sua declaração, teve a desfaçatez de divulgar vídeo em que seu papai, então deputado federal, exalta o coronel Brilhante Ustra, condenado por tortura e um dos símbolos da repressão da ditadura militar.

Seu pedido de desculpas representa apenas uma tentativa de se render a ritos formais, que não incluem arrependimento. É uma estratégia usualmente adotada pela família e no mundo político para escapar de alguma penalidade, que não deve acontecer porque o papai, sempre protetor dos rebentos, vai colocar suas tropas de choque na Câmara dos Deputados para livrá-lo de qualquer, digamos, contratempo.

Suas desculpas soaram como propaganda em que o reconhecimento de culpa é usado na tribuna para proclamar falsos sentimentos de pesar pelos seus erros. Eduardo é reincidente. Utiliza esse método como instrumento para manter uma falsa imagem de democrata, tudo o que ele não é. Nas situações extremas, repete o script. Quem não se lembra de seu pedido de desculpas pelo twitter quando disse que bastava um soldado e um cabo para fecharem o Supremo Tribunal?

Este jogo de morde e sopra já virou padrão quando investigações policiais em curso aproximam-se do clã. O truque também é utilizado para medir até onde devem ir com seus rompantes autoritários, para aumentar ou reduzir o tom em função de suas estratégias políticas. Como todo ser humano, os Bolsonaros interpretam o mundo através do que são, pensam e conhecem. Como são toscos e não possuem as competências necessárias, seja para exercer um mandato parlamentar ou liderar o país, não conseguem perceber corretamente sua realidade, negando problemas, crises e dificuldades que afetam a vida dos brasileiros.

Em 1999, os psicólogos da Universidade de Cornell, Justino Kruger e David Dunning ,publicaram estudos onde avaliaram esse tipo de gente sem cultura, que passa longe dos livros.Concluíram que quando uma pessoa nada sabe a respeito de determinados assuntos, ocorrem dois problemas: primeiro ,chega a conclusões erradas e toma decisões desastradas devido à sua própria ignorância; segundo,sua ignorância e incompetência roubam sua capacidade de metacognição, de se dar conta quanto despreparada é para o exercício do cargo que ocupa.É o que nos governa no momento.

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