A polêmica vacina para crianças
A vacinação contra a Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos está dividindo opiniões, mobilizando o poder público e as entidades da área da saúde.
O governo lançou na última quinta-feira (23) uma consulta popular para ouvir os brasileiros sobre a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de liberar a vacina Pfizer para o público infantil. Qualquer pessoa pode responder ao questionário. A consulta pública ficará aberta até dia 2 de janeiro.
Uma das polêmicas sobre o tema envolve a necessidade de receita médica para a imunização. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou na noite de quinta-feira (23) que a vacinação para crianças será feita somente para quem apresentar prescrição médica e um “termo de consentimento livre declarado”.
Mas a exigência está longe de consenso. Pelo menos 12 estados já anunciaram que não seguirão a medida de exigir prescrição na vacinação.
Entidades médicas – como as sociedades brasileiras de Pediatria (SBP), Imunizações (SBIm) e de Infectologia (SBI) – foram favoráveis à inclusão da imunização desse público-alvo no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Uma das justificativas é de que a Covid-19 matou quatro crianças e adolescentes por dia no Brasil desde o início da pandemia.
Os pesquisadores observaram que, desde setembro, o ritmo de vacinação da primeira dose no Brasil vem desacelerando porque a vacinação já está próxima do seu limite, com 74,95% da população imunizada com a primeira dose.
Segundo o estudo, uma das formas de superar essa curva de estagnação é ampliar as faixas etárias, com a imunização das crianças.
Mas a estratégia enfrenta resistências de pais que não consideram emergencial a vacinação infantil. A tese é defendida também pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que defende a necessidade da vacina ser autorizada pelos pais e só com receita médica.
Entendo que precisamos criar novas estratégias para aumentar a aplicação da primeira dose em pessoas que vivem em locais distantes e reforçar as campanhas de conscientização sobre a importância da vacina.
Ao abordamos o público infantil, as dúvidas aumentam. Quando falamos em coronavírus, apesar dos dois anos convivendo com esse vírus devastador na economia e que ceifa vidas, ainda podemos nos considerar aprendizes.
Em muitos aspectos a pandemia da Covid-19 tem exigido um aperfeiçoamento não somente da saúde, mas da gestão do país e das posturas da sociedade e das famílias. Qual a postura correta que um pai deve adotar nesse caso? Quando há crianças envolvidas, de quem é a palavra final? Da família ou do Estado? O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz no artigo 14 que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.
A questão da liberdade religiosa, porém, também precisa ser levada em conta. É um dos motivos apresentado pelos pais que rejeitam a vacinação, amparados por direito previsto no artigo 5º da Constituição Federal.
Mas o fato é que todos queremos o mesmo: o direito à vida, que também é um direito constitucional. Que possamos ter discernimento para escolher o que é melhor para a nossa família e para todos. E que haja compreensão para novos procedimentos e atitudes que forem necessárias, de todos os lados pelos personagens envolvidos nesse processo. Não se trata de uma queda de braço entre o governo, os estados e as famílias. Mas de uma tentativa em conjunto de combater a pandemia e salvar nossas crianças. Os melhores caminhos, ainda nos cabe buscá-los.