José Maria Couto Moreira

A Globo teme Bolsonaro?

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A opinião pública brasileira está, realmente, confusa quanto ao propósito do Sistema Globo de Rádio, Jornal e Televisão na guerra instalada contra o presidente Bolsonaro. Que a empresa desfecha golpes diários e sucessivos contra o presidente é visão geral, porém, o que coloca todos em perplexidade, é que a belicosa adversária não joga as cartas na mesa. Suas acusações continuam inespecíficas (atiram também em terceiros), embora ofensivas, lançando ao público a provocação de as distinguir valendo-se dos elementos que ela própria produz no exercício oral e escrito de suas requentadas notícias e reportagens.

No território do perseguido também não se encontra a razão desse fogo, o que se confunde com uma algazarra democrática. O que se pode imaginar, ou concluir, e os botões dos antagonistas, contudo, dizem para os personagens, é que os prejuízos sofridos pela ala eleitoralmente derrotada – em ações moralizadoras e necessárias – são contados em milhões, as correições atingiram pessoas e entidades de A a Z, e todas dispunham e viviam alegremente dos agrados, privilégios, dotes, distinções, benefícios e o que mais represente de dádivas abundantes saídas do erário, dispensadas ilegal e criminosamente pelos governos que antecederam o atual corpo do Planalto. A claque dos atingidos é numerosa e eclética, inclui até ex-presidentes, e eles é dos que se contam de maior plumagem, há artistas (e muitos), e mais bigodes acadêmicos de ilustre acaciano (Oh Machado, como o permitiste ?). Outros concertos também se fizeram em setores diversos, e mais se farão porque a algaravia foi longa. A restauração da moralidade identificou, ainda, motivos incompreensíveis para a concessão de obséquios que resultavam em gordas faturas mensais e mais sinecuras onerosíssimas ocupadas ociosamente (criaram-se 72 embaixadas e consulados, o mundo ficou maior !).

As escaramuças da nova refrega promovida pela Globo visam intimidar ou responsabilizar o filho do presidente como parte em “rachadinhas” que supostamente teriam acontecido no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando no mandato de deputado estadual. Não há limites para esta investigação, que já se arrasta por tantos meses. Na procura da mulher do idoso autor da alegada fraude (está declarada foragida), até a polícia mineira, acompanhada de membros do ministério público carioca, vasculhou minuciosamente quatro imóveis em Belo Horizonte, sem resultado, senão o de incomodar uma região inteira da cidade. Por este capricho da Globo o caso Fabrício tem merecido destaque em longas e diárias reportagens da emissora.

A solércia (leia-se provocação) da emissora não para por aí. Ainda anuncia e estimula um desacordo de manifestação do presidente com o amigo de quarenta anos, o ilustre e sério gen. Heleno, desejando cindir uma relação à prova de ventos e tempestades.

Não fosse a trabalhosa tarefa que a Globo exproba e censura, seria coerente para a companhia desenvolver a mesma intensidade de ação e investigação também no que toca a outros envolvidos no mesmo expediente infracional. Igualmente prevaricadores, para citar apenas 4, as “rachadinhas” mais graúdas  foram as supostamente praticadas pelos deputados André Ceciliano (49,3 milhões), Paulo Ramos (30,3 milhões), Marcio Pacheco, (25,3 milhões), Luiz Martins (18,5 milhões), são 19 os implicados. Há holofotes sobre eles ?

A tudo isto se acresce o fato da manifestação do presidente de que a concessão federal do serviço de radiodifusão e televisão carece de exigências legais para operar, entre elas as obrigações fiscais com órgãos federais. Não haverá mais facilidades ou transigências para com ninguém. No caso da Globo, o vencimento de sua concessão será no próximo ano, e pelo visto a emissora se tem como ameaçada, ou até julga-se fora do baralho dos concorrentes, porque a dívida imensa (quase impagável) que ela acumulou com o poder concedente arrisca-se a não ser adimplida a tempo. Tal manifestação, puramente impessoal, exalta os requisitos a cumprir, quando o rol das exigências legais é imposto a todos os concessionários, indistintamente. A propósito, esta tradicional emissora, que teve em sua história o impulso do timão lúcido do consagrado jornalista Roberto Marinho, está se distanciando da família brasileira por sua grade hoje pouco recomendável, transmitida a seu público com cenas de conteúdo chocante, exibidas em horário comum, banalizando o que, até agora, constituíam postulados de nossa crença. Não se entende, por isso, como uma emissora decide afrontar a maciça maioria de seus assistentes, que não são conservadores, mas obedientes a convicções éticas inafastáveis.

José Maria Couto Moreira é advogado.

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