A explosão de uma nação

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As aparências enganam. Por trás de uma paisagem de aparente tranquilidade social existe um imenso drama humano de violência, sofrimentos e de fome. A frequência dos atos criminosos, em todo o país, da corrupção no serviço público, das milicias, do banditismo urbano, do tráfico de drogas, do crime organizado, agora com ligações internacionais e corrompendo membros dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, principalmente nos Estados, são tão frequentemente noticiados que já não escandalizam a população.

O Brasil pode “explodir” a qualquer momento. A eclosão de confrontações violentas entre a união do crime organizado com a miséria desesperada, enfrentando uma classe dominante insensível à pobreza de milhões de pessoas e inoperante para conter a corrupção, nos conduz para este enfrentamento social de amplitude nacional.

Vários problemas sociais, políticos e econômicos aflorando ao mesmo tempo, com intensidade e a ausência de competentes propostas de soluções e de lideranças políticas confiáveis, contribuem para piorar a atual conjuntura.

O desemprego de milhões de pessoas num ambiente aonde não haverá ocupação para todos, ou por falta de investimentos ou pela utilização crescente de tecnologias que substituem a mão de obra, é um fato que não pode ser desconhecido. Os desníveis na distribuição da riqueza gerada é uma imoralidade com que a população também já se acostumou. Na longa história das organizações sociais, algumas pessoas foram incluídas nas conquistas das sociedades, por esforço próprio ou por terem nascido já fazendo parte do grupo privilegiado e outras simplesmente são marginalizadas. Não se trata de discutir como o sistema capitalista propiciou o extraordinário progresso dos últimos dois séculos, ao mesmo tempo que se criava lado a lado do mundo da inovação uma multidão de excluídos dos benefícios produzidos. A Democracia, outro importante conquista da humanidade, não soube resolver a questão da diferença de qualidade de vida dos dois grupos: a classe dos beneficiados pelo progresso e a maioria de marginalizados pobres. As sociedades foram organizadas para atender a todos, com o mínimo que seja de bens e serviços necessários à vida digna.

Os estragos feitos no meio ambiente, principalmente com o aquecimento da atmosfera e suas consequências climáticas, que já estão se manifestando, obrigará as sociedades, para sobreviverem, a se adequar a novos padrões de organização, de comportamento e de austero consumo.

É importante que o povo esteja consciente de que será necessário sacrifícios adicionais, como por exemplo, disciplina social e o aumento dos impostos, de tal forma que o Estado possa atender às demandas do povo: emprego e todos os demais bens e serviços necessários a uma vida digna.

É preciso repensar os sistemas eleitorais. A representação do povo precisa ser melhor qualificada, intelectual e moralmente, de tal forma que o enfrentamento dos problemas sociais contemporâneos seja devidamente equacionado e resolvido. Talvez seja importante voltar a debater, se neste mundo altamente tecnológico, global e interligado, se os candidatos aos cargos eletivos não devessem, previamente, se submeter a uma prova de conhecimentos, de tal forma que possam, se eleitos, melhor discernir as alternativas na permanente construção do bem comum. O mesmo com os eleitores: a exigência de um mínimo de escolaridade para se qualificarem como eleitores, capazes de exercerem juízo critico sobre as propostas dos Partidos e dos candidatos.

Estamos vivendo, sem lideranças políticas de relevância nacional ou regional, o instante de um importante e decisivo ponto de inflexão histórico: ou enfrentamos solidaria e democraticamente, num ambiente social e político de alta densidade ética, os problemas citados, com competência e justiça, ou teremos o caos social da confrontação entre a elite dirigente e a multidão de marginalizados excluídos dos benefícios do progresso.

Eurico de Andrade Neves Borba foi professor da PUC RIO e Presidente do IBGE, é membro do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS. [email protected]

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