Alberto Rostand Lanverly

A espetacular Praga

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Dias atrás, me impressionei ao tomar conhecimento que o atual governante do Rio de Janeiro, outrora respeitado juiz federal, teve motivado por roubalheira, o seu pedido de impeachment aprovado pelo plenário da Assembleia Legislativa local, pavimentando, para si próprio, caminho percorrido com êxito rumo a cadeia por seus quatro antecessores.

E em época de pandemia, quando o carioca vive uma forte septicemia política, ao ver seu dirigente máximo, Wilson Witzel eleito como medicamento, virar parte da infecção, recordei os dizeres de Luís Fernando Veríssimo: “A diferença entre o Brasil e a República Tcheca é que o país europeu tem o governo em Praga enquanto a nossa pátria tem essa praga no governo.”

E foi assim que, mesmo tendo o coração dolorido, com a situação crítica que envolve o Brasil, que senti meu pensamento deslizar até as plácidas águas do rio Moldava, em Praga, também conhecida como cidade das cem cúpulas.

A capital da República Tcheca apesar de pequena, encantadora e repleta de bem conservadas construções medievais, é a maior metrópole do leste europeu, não por seu tamanho, mas por sua importância econômica, qualificações culturais e artísticas.

A espetacular cidade de Praga, capital da República Tcheca.

Não é preciso muito tempo para se apaixonar pelo lugar. Basta caminhar por suas irregulares artérias em paralelepípedo, para se maravilhar. O charme medieval é indisfarçável, igrejas, castelos, escadarias, ruas e casas históricas estão por toda a parte.

Tudo isso sem falar na Ponte Carlos, protegida por três torres, verdadeiras relíquias da arquitetura gótica e decoradas por inúmeras estátuas de santos, construídas em estilo barroco, e também , na bela Catedral São Vito, revestida por pedras semipreciosas e afrescos de temas bíblicos edificada no complexo do Castelo de Praga, sede do governo real e onde hoje estão suas tumbas.

Curioso que tempos atrás, vias não possuíam identificação, tão pouco residências eram distinguidas por números, mas sim por símbolos acima de suas portas de acesso. Esses normalmente tinham relação com os moradores, podendo ser instrumentos musicais, espada, animais, pena de escrever, ferramentas, entre outros exemplos.

Porém fantástico mesmo é percorrer o entorno da praça da cidade velha, e se encantar com o prédio da Prefeitura e o Relógio Astronômico, com o desfile dos doze apóstolos todas as vezes que marca a hora cheia, e logo abaixo deste, o calendário no qual os meses do ano são representadas por belas pinturas do celebre Mánes.

Apreciada não somente por suas excelentes cervejarias, fabricas de cristais renomados, ali também podemos encontrar a estátua do famoso filho da terra, Franz Kafka, um dos maiores nomes da literatura mundial no século XX.

Com o passar das horas, praticamente acordei de um sonho bom que vivi na espetacular Praga dos meus encantos e retornando à realidade tupiniquim, imaginei ainda sob o efeito da comparação, que se o Brasil pudesse falar conceberia uma estrofe poética mais ou menos assim: os meus rios e florestas são as minhas rosas, os estados, cidades e seus habitantes, os meus jasmins, mas o político que aqui milita, é a praga que estraga os meus jardins.

Alberto Rostand Lanverly é presidente da Academia Alagoana de Letras (AAL).

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