Miguezim de Princesa

A audiência da covardia (para Mariana Ferrer)

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I
Um defensor empolado,
Espancando a fidalguia;
Um juiz acovardado,
Um promotor que se via
Vestido de omissão,
E a marca da opressão
Em uma mulher que sofria.

II
Audiência de covardes,
De onde a coragem sumia:
A vítima, como uma Geni,
Os impropérios ouvia
E ao juiz apelava,
Pedia por favor, rogava,
Que findassem a covardia.

III
Dizia o advogado:
– Você não foi estuprada!
Quem mandou ser tão bonita,
Andar com roupa apertada,
Perfumar o corpo inteiro,
Exibir o bagageiro
Quando chega na balada?

IV
– A sua palavra é nada:
Você posou num retrato
Com a genitália de fora;
O meu cliente é de fato,
Um homem de péssimo gosto,
Não viu direito o seu rosto,
Vai ver que foi só no tato.

V
O promotor, disfarçando,
Foi com a vítima conversar:
– Tome aqui um copo d´água,
Deixe isso tudo pra lá,
O doutor tá provocando,
Faça que não tá ligando
E comece a respirar.

VI
O juiz deixou rolar,
Defensor público também,
Quem viu aquele massacre
Fez a revolta ir além,
Porque a grande impressão
É que naquela sessão
A vítima era ninguém.

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