Jorge Oliveira

Nos bastidores do Bolsonaro todo mundo joga

acessibilidade:

Brasília – Mesmo sendo do baixo clero e de nunca ter presidido uma comissão na Câmara dos Deputados, Bolsonaro sabe muito bem que até a Madre Teresa de Calcutá cederia às cooptações se lá estivesse como parlamentar. Portanto, essa história de que as nomeações – com exceções dos generais – não obedecem o “toma lá dá cá” é conversa pra boi dormir. Dizer também que a sua equipe é puro sangue, que ninguém responde a processo, e quem se envolve em corrupção não participa do governo, é marketing de quem ainda não saiu do palanque.

Agora mesmo a Polícia Federal indiciou Paulo Guedes, o czar da economia, por crime financeiro. E o ministro Edson Fachin, do STF, abriu processo contra o deputado Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, principal cargo de articulação do governo, pelo crime de caixa dois. O homem de confiança de Bolsonaro é réu confesso. Recebeu 200 mil reais da JBS – 100 mil em 2012 e outros 100 mil em 2014 – para suas campanhas no Rio Grande Sul.

Outro que responde a processo e está na bica de receber um cargo público é o senador Magno Malta. Depois da reação dos militares contra o amigo do peito do presidente eleito, Bolsonaro não sabe mais onde enfiar o Malta, evangélico, cantor gospel.

O senador do Espírito Santo – que perdeu a reeleição – responde a processo no MP por envolvimento em tortura contra um trocador de ônibus. Acusado de estupro pelo político, o trabalhador, que ficou cego de um olho, foi inocentado. Hoje recebe uma pensão do estado pela reparação aos danos causados pelos maltratos.

Não devemos, por isso, condenar um governo que ainda nem começou. No mínimo, ficar alerta para o que se falou nas campanhas e o que se pratica na hora de formar uma equipe. O que me parece mais preocupante, de verdade, é a declaração do ex-juiz Sérgio Moro que reafirmou sua confiança em Onyx Lorenzoni quando perguntado o que ele achava do caixa dois do companheiro: “Ele tem a minha confiança pessoal”.

Será que Moro também pensa assim de Paulo Guedes? Se pensa, Moro começa a mostrar seu jogo de cintura, aquele em que o político, com habilidade, joga o jogo jogado, ou seja: o jogo das velhas raposas que saem das perguntas mais embaraçosas com um sorriso amaciante para refrescar a resposta.

O ex-juiz, até então um cara durão, implacável, impenetrável, parece que vestiu muito rapidamente a capa de político. E deixa isso muito claro ao se distanciar da sua função recente quando se nega a falar sobre os processos do ex-presidente: “O Lula para mim é passado”.

Pois bem, o Onyx que se cuide. Essa frase de merece “minha confiança” é assustadora pois é dita por um ministro da Justiça que tem como missão banir a corrupção no país e prender empresários e políticos envolvidos em maracutaias. Que vai ter sob seu controle o Coaf, órgão que fiscaliza o sistema bancário para investigar contas atípicas de seus correntistas.

Com todo esse poder, Moro não estaria longe de ser comparado ao bruxo Golbery, o general da ditadura que tinha o SNI nas mãos, sabia a vida de todos os empresários e políticos, e os manipulava à sua maneira quando interessava silenciá-los. Como o ministério da Justiça, em outros governos, exercia o papel de intermediar as negociações entre governo e o parlamento, Onyx precisa botar as barbas de molho para não perder o poder depois dessa pendência judicial no STF.

Onyx também deve ficar de olho no general Santos Cruz que o Bolsonaro indicou para exercer a secretaria Geral da Presidência para dividir com com ele as negociações com o congresso. Se lá na frente Bolsonaro tiver que decidir por um ou outro, é claro que o capitão fica com o seu superior hierárquico, um assessor que não é questionado na justiça.

É sempre bom lembrar, Onyx, que a primeira equipe do governo é transitória, experimental. A que chega depois é a que realmente vai conduzir o governo. Se o seu caixa dois começou a aparecer nas manchetes antes de você assumir o governo desconfie, pois, jabuti não sobe em árvore.

 

Reportar Erro