Chico Rodrigues

Senador ‘cuecão’ atuava como ‘gestor paralelo’ da Saúde de Roraima, diz PF

Ex-vice-líder do governo Chico Rodrigues foi flagrado com R$ 33 mil entre as nádegas em operação que apura desvios na área da saúde

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Senador Chico Rodrigues (PSB-RR). Foto: Jane de Araújo/Agência Senado

O ex-vice-líder do governo Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com R$ 33 mil entre as nádegas, na última semana, liderava o esquema que desviava recursos da pandemia destinados ao estado de Roraima, segundo relatório da Polícia Federal.

O inquérito que investiga o parlamentar, que se afastou do cargo para fugir do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), teve o sigilo levantado pelo ministro Luís Roberto Barroso, na noite desta quarta-feira, 21.

No relatório, a PF diz que Chico Rodrigues atuava como se fosse um “gestor paralelo” da Secretaria de Saúde de Roraima, cobrando a liberação do dinheiro de emendas parlamentares para o pagamento a empresas investigadas no esquema.

Um dos contratos investigados era para o fornecimento de álcool em gel para esterilização contra o coronavírus. Em uma das mensagens encontradas no celular de Chico Rodrigues, ele questiona o funcionário responsável pela liberação do dinheiro. “Você adiantou o pagamento da Gilce/18: serviços?”, indagou no dia 29 de fevereiro a  Francisvaldo de Melo Paixão, servidor público que ocupou os cargos de Coordenador e Diretor na Coordenação Geral de Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde de Roraima nos primeiros meses de 2020.

“Tudo indica que o senador estaria cobrando o pagamento da empresa Haiplan Construções Comércio e Serviços Ltda tendo em vista que um dos sócios da empresa é Júlio Rodrigues Ferreira, marido de Gilce de Olliveira Pinto”, afirma a PF.

Para a Polícia Federal, “a forma com que o senador cobrava o pagamento indica que o parlamentar estaria atendendo não apenas aos interesses do estado de Roraima, mas também aos seus próprios”.

A empresa, segundo as investigações, ainda entregou o produto errado: álcool 65%, indicado para limpar móveis, mas inadequado para esterilização. A Polícia Federal também descobriu que Chico Rodrigues permitiu que assessoras dele trabalhassem na empresa privada do filho, Pedro Rodrigues, que é suplente do pai e vai assumir a vaga dele no Senado.

No relatório da PF, os investigadores afirmam que “a estrutura parlamentar do senador, o que inclui a atividade de suas assessoras Adriana e Cláudia, está sendo utilizada para a administração da empresa privada de seu filho Pedro, a San Sebastian, o que evidencia, no mínimo, o desvio de função de suas assessoras parlamentares”.

A defesa do senador divulgou nota na qual afirmou que Chico Rodrigues jamais interferiu indevidamente em prol de interesses privados nos contratos do estado de Roraima. Ainda segundo os advogados, as funcionárias exercem regularmente suas funções públicas.

A investigação contra o ex-vice-líder do governo se iniciou a partir de depoimento prestado na sede da Polícia Federal, em Roraima, por Francisvaldo.

A partir da colaboração de Francisvaldo, a Polícia Federal identificou a existência de quatro contratações da empresa Quantum Empreendimentos em Saúde especificamente relacionadas ao combate à epidemia de covid-19. Desses contratos, um apresenta empenho zerado, e os outros três somam, em empenho em favor da empresa, o montante de R$ 9.144.660,70.

Avião da FAB

Ainda segundo a Polícia Federal, Chico Rodrigues acionou o Palácio do Planalto para obter um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar material da Quantum Empreendimentos em Saúde. A PF localizou troca de mensagens nas quais o senador relata ter solicitado ao Ministério da Defesa e ao Palácio do Planalto a disponibilização de um avião da FAB para transportar material da Quantum em meio à pandemia.

Tratava-se de equipamentos de proteção comprados em São Paulo e Santa Catarina para abastecer os órgãos de Roraima.

Quando a operação foi deflagrada, o presidente Jair Bolsonaro tentou se desvincular do senador e disse que irregularidades envolvendo o aliado não significam que haja corrupção no governo. A investigação aponta que Chico Rodrigues usou influência política junto ao Planalto para beneficiar uma empresa investigada. A PF não conclui se ele conseguiu liberar a aeronave.

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