Operação Boca de Lobo

Pezão ajudou a estruturar esquema de propina por mais de 8 anos, entrega Cabral

Ex-governador afirmou ao juiz que seu sucessor recebeu R$400 milhões

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Os ex-governadores do Rio, Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta segunda-feira, 3, que o também ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) ajudou a estruturar o esquema de propina investigado na Operação Boca de Lobo. Segundo ele, Pezão “participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo”.

Segundo Cabral, isso se estendeu desde a campanha eleitoral, permaneceu durante os oito anos em que ele foi governador do Rio de Janeiro e continuou posteriormente. “Tenho algumas informações a respeito (da continuidade do esquema)”, disse em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

Outros dois delatores, Sérgio Castro e Carlos Miranda, responsáveis por entregar dinheiro da quadrilha, também confirmaram os pagamentos.

Cabral afirmou ainda que esquema começou na administração da família Garotinho – os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus negam. Cabral e o sucessor, na versão do emedebista, diminuíram o valor cobrado das empresas em propina.

Ainda segundo Cabral, Pezão foi o inventor da chamada “taxa de oxigênio”, mas esta propina estava englobada nos 5% cobrados dos valores.

“Pezão estabeleceu isso [a taxa de oxigênio] porque dizia que tinha que abastecer as subsecretarias dele.”

Além disso, segundo Cabral, Pezão recebia uma mesada de R$ 150 mil. “Recebeu durante os 8 anos os pagamentos extras”, disse.

O ex-governador disse ainda que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor. Em abril de 2014, ao renunciar ao cargo para o sucessor, afirmou que Pezão deveria receber. Além disso, Pezão teria recebido R$ 30 milhões só da Fetranspor para a campanha a sucessão.

“Foram R$ 30 milhões [da Fetranspor] para o governador Pezão para sua estrutura [de campanha) e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (…) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu. Essa situação [do repasse de Pezão a Cabral, de R$ 500 mil] ficou 4, 5 meses em 2015.”

Pezão negou nesta segunda ter recebido propina do esquema de seu antecessor.

Ele foi o único governador do estado a ser preso durante o mandato. O Rio de Janeiro já teve outros quatro ex-governadores presos por motivos distintos: Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco.

Pezão foi preso no dia 29 de novembro de 2018, faltando 33 dias para terminar seu mandato. Foi solto por decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogério Schietti em dezembro.

Pezão negou as propinas e classificou os três depoimentos como “inverdades”.

“Num dos depoimentos, o Serjão [Sérgio Castro] diz que me pagou um dia antes do assalto à minha casa. Eu estava na Itália nesse dia. São informações tão mentirosas que não tenho nem como rebater”, disse Pezão.

Conhecido por ter uma imagem pública de vida simples, Pezão afirmou que atualmente vive da aposentadoria de sua esposa e que aguarda a liberação da sua própria no INSS. “É o dinheiro que vou ter”, disse ele.

Cabral, contudo, afirmou que Pezão tinha mordomias que não tornava públicas para manter sua imagem “low profile”, disse o ex-governador.

“Pezão tinha um estilo de vida simples. Passava a impressão de que esses benefícios não ocorriam. Mas eu sabia que ocorriam e como não usava para ter um estilo de vida low profile. Mas sabia que tinha determinadas mordomias”, disse Cabral.

Pezão citou ainda a investigação aberta contra ele em razão da delação de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que mencionou pagamento de caixa dois a sua campanha.

“Fui investigado por três anos pela força-tarefa da Lava Jato. Tive minha vida vasculhada de tudo o que é jeito. A PF pediu arquivamento. De março de 2015 a março de 2018 fui investigado. O que aconteceu de março de 2018 a novembro de 2018 para a PF aparecer com uma força-tarefa para me prender?”, questionou Pezão.

Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus negam participação no esquema citado por Cabral. “Seu ressentimento em relação a mim e a Rosinha ficou evidente ao afirmar que ‘diminuiu a taxa de corrupção antes praticada’. Se tem alguma prova contra mim, deve entregá-la ao Ministério Público, como fiz em relação a ele seus comparsas. Não respondo a nenhum processo na Lava Jato, apenas ações movidas pela Justiça de Campos, por perseguições de grupos locais”, disse o ex-governador nas redes sociais.

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