Imperatriz da Lava Jato

Nelma Kodama vira ré por falso testemunho em inquérito da Lava Jato

Doleira testemunhou contra um delegado e um escrivão da Polícia Federal

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Nelma foi beneficiada com indulto de Temer no mês passado, e virá ré novamente Foto: Facebook

A doleira Nelma Kodama, 52 anos, virou ré sob acusação de falso testemunho em inquérito relacionado à operação Lava Jato. A acusação foi aceita no dia 14 de agosto pelo juiz Luiz Antônio Bonat, que assumiu a 13ª Vara Federal do Paraná no lugar de Sergio Moro.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Nelma fez as declarações no âmbito de um inquérito que apurava a suspeita de envolvimento de alguns delegados e advogados na produção de um dossiê contrário à Lava Jato.O inquérito foi arquivado em 2017, por falta de provas.

Ao aceitar a denúncia contra a doleira, conhecida como a Imperatriz da Lava Jato, o juiz destacou que a denúncia  do MPF tem fundamento tanto nas informações prestadas por Nelma, como por testemunhas, o que “permite concluir pela presença de indícios da existência de crimes e de sua autoria”.

Ele abriu prazo para que os advogados da acusada apresentassem defesa no caso.Os fatos ocorreram em 15 de abril de 2015, quando a doleira afirmou reconhecer uma fotografia do delegado da Polícia Federal Rivaldo Venâncio, relatando que, quando Alberto Youssef estava preso, em 2014, o delegado “constantemente frequentava o corredor em frente às celas de Youssef, mantendo contato com o mesmo”.

Em 2016, ele foi convocada novamente, e reafirmou o que havia dito no outro depoimento, porém, ressaltou que não podia afirmar “precisamente o número de vezes que tais encontros ocorreram, mas foi mais de uma vez” e que acreditava “que tenha sido uma conversa sobre amenidades, pelas risadas que ouviu”.

O delegado da PF entrou com uma representação contra a doleira. No documento, apontou que havia um único registro de entrada dele no local, em meio a uma inspeção realizada pelo MPF, na qual estava acompanhado por procuradores e por agentes da PF. Rivaldo salientou que, na ocasião, havia outros presos no local e “viu pela primeira e única vez o preso Alberto Youssef”.

No inquérito foram ouvidos dois carcereiros e dois agentes da Polícia Federal, que negaram que o Rivaldo frequentasse a cela, como disse a doleira. O próprio Youssef afirmou que não conhecia o delegado.

O outro falso testemunho, envolve um escrivão da PF, Nelma apontou Cleverson Ricardo Hartmann como membro do grupo que “visava prejudicar o andamento da Lava Jato, deduzindo que, pelo fato de ele trabalhar na sala ao lado daquela em que ela estaria prestando depoimento, tentava escutar o teor de sua conversa mantida com a delegada Tânia Fernanda Prado Pereira”.

A doleira disse que a delegada acabou mudando de sala, inclusive, por causa do escrivão. Versão que foi desmentida pela delegada Tânia ao negar que tivesse qualquer desconfiança sobre o escrivão, e esclareceu que a mudança de sala ocorreu porque o espaço era muito pequeno para tomar depoimentos.

A defesa de Nelma sustenta que a doleira não mentiu, e alega, que como na época das declarações, ela estava presa, seu depoimento e não teve “o intuito de manchar a reputação de qualquer profissional da Polícia Federal”.
“Ela estava presa, estava frágil, estava com problema psiquiátrico e em nenhum momento ela imputou, através de dolo, qualquer conduta criminosa a membros da Polícia Federal”, afirma o advogado.

A doleira volta a ser alvo da Justiça, pouco tempo depois de ter sua pena, na Lava Jato, perdoada pelo indulto natalino de Michel Temer, em agosto, fato que extinguiu a pena imputada a ela em 2014. Nelma Kodama havia sido condenada pelos crimes de corrupção, evasão de divisas e organização criminosa. Após acordo de delação premiada, teve a pena diminuída de 18 anos, para 15 anos.

Em 2016, a doleira havia conseguido passar para um regime aberto diferenciado, com uso da tornozeleira eletrônica.

Bazar de luxo

Com a obrigação de pagar a dívida de R$ 100 mil para Justiça, Nelma está realizando um bazar com itens luxuosos, vestidos, sapatos, bolsas, chapéus, calças, casacos, das mais variadas grifes do mundo, para arrecadar dinheiro e liquidar dívidas. Além de roupas e acessórios, muitas joias e itens que merecem destaque, como um belíssimo lustre italiano feito de pérolas de cristais, talhadas à mão e revestidas com platina.

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