fraude bilionária

Gigante controladora da Inframerica é investigada por não entregar obra em Cusco

Corporación América opera dezenas de aeroportos pelo mundo e é investigada por lavagem de dinheiro e suborno

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Projeção digital do Aeroporto Internacional Chinchero. Foto: Reprodução

A Corporación América, uma gigante operadora de dezenas de aeroportos em sete países, incluindo a Inframerica que é a administradora do Aeroporto de Brasília, é investigada pela construção de um aeroporto na cidade de Cusco, Peru, avaliada em US$ 500 milhões.

Segundo apurado pelo jornal argentino Perfil, a agência de checagem Convoca.pe, do Peru e a agência de notícias Búsqueda, do Uruguai, uma investigação conduzida na Argentina provava um esquema de corrupção envolvendo a Corporación América e os Estados Unidos. O processo teve pouca repercussão e foi arquivado pelos tribunais federais, conforme aponta estudo dos três veículos de comunicação.

A obra em questão é do Aeroporto Internacional de Chinchero, na cidade de Cusco, que está atrasada há seis anos. O andamento da construção foi comprometido após as autoridades peruanas declararem irregularidades no contrato que trariam prejuízos ao Estado. O problema encontrado pelo Ministério Público peruano desencadeou em um escândalo político e o aeroporto ainda não saiu do papel.

Sob a tutela da norte-americana Rede de Combates a Crimes Financeiros (Financial Crimes Enforcement Network – FinCEN), a investigação do caso mostra um suposto esquema de lavagem de dinheiro na Argentina. A equipe do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (International Consortium of Investigative Journalists – ICIJ) consultou as empresas envolvidas nas transações financeiras e encontrou explicações contraditórias. Duas delas informaram que o pagamento foi feito a um fornecedor argentino, mas este negou ter conhecimento sobre a transação, além de alegar não ter cobrado tal valor.

O novo aeroporto estava planejado para ser três vezes maior que o operante em Cusco. A concessão para as operações do aeroporto estava prevista para os próximos 40 anos. O contrato foi assinado em 2014 durante o governo do ex-presidente Ollanta Humala  com as empresas Corporación América e a Andino Holding Investment.

Segundo os promotores que investigaram a contratação, os empresários tentaram modificar as condições do contrato após vencer o processo licitatório, alegando que não conseguiram o financiamento para realizar a obra. Em 2017, o presidente Pedro Pablo Kuczynski modificou parte do contrato, entretanto, o escândalo das supostas fraudes o fez rescindi-lo.

Com o cancelamento da contratação, a Corporación América e o consórcio Kuntur Wasi processaram o governo peruano no tribunal internacional do Centro Internacional para Solução de Controvérsias sobre Investimentos (ICSID), do Banco Mundial. A construção do aeroporto está em fase de nova licitação.

Origem da suspeita

A megaobra estava orçada em US$ 500 milhões,  equivalente a cerca de 38,5 bilhões de pesos argentinos. Entretanto, o que deu origem às suspeitas e à investigação das autoridades americanas, foi um valor de US$ 98.085 denunciado pela instituição financeira escolhida para o depósito, o Banco de Nova York Mellon Internal (BNYM), em junho de 2015.

O relatório mostrava mais de 3 mil transações suspeitas realizadas por diferentes entidades que passaram por esse banco norte-americano. Dentre as quais, destacavam-se duas a financeira uruguaia Columbusnet e a empresa peruana Proyecta y Construye.

Dois anos depois, o Peru deu início às investigações que tinham como alvo o consórcio Kuntur Wasi, que corresponde as empresas Corporación América e Andino Investment Holding. Segundo apurado pelas autoridades peruanas, os contratos apontavam um suposto esquema de lavagem de dinheiro, além de supostos subornos ao governo para obter o contrato pela construção do aeroporto.

O trabalho dos investigadores não durou, sendo arquivado no final de 2019. As duas empresas que formam o consórcio são sócias e gestoras de cinco outros aeroportos no Peru: os Aeropuertos Andinos del Perú SA, formados por Arequipa, Ayacucho, Juliaca, Puerto Maldonado e Tacna. A tutela dos empreendimentos é da Proyecta y Construye, formada por 50% do capital da Corporación América e 50% da Andino Investment.

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