Primeiras impressões: Peugeot 208, um tigre que mais parece um gatinho
A nova geração do hatch chama a atenção pelo visual, mas deixa a desejar no resto
Após muito burburinho, a Peugeot apresentou a nova geração do 208 no Brasil. O modelo, lançado em 2019 na Europa, chegou rodeado de expectativas, principalmente por causa do visual agressivo, e sobre como seria o conjunto mecânico, lista de equipamentos e, claro, o preço.
Neste último quesito a francesa errou feio. Há um bom tempo a montadora adotou uma política de tentar mudar a visão da marca perante o brasileiro com o Peugeot Total Car, mas o programa se “mostra inútil” com o valor exorbitante pedido no hatch compacto.
Não é de hoje que carro no Brasil está caro, o mercado nacional vem errando no quesito preço há um bom tempo, com modelos cada vez mais caros. Mas a Peugeot conseguiu ir muito além, pedindo quase R$ 100 mil em um veículo que não apresentada nada muito além de um visual diferenciado.
Não bastasse pedir R$ 95 mil na versão topo de linha, a Griffe — que tivemos um rápido primeiro contato –, a marca equipou o hatch com um motor ultrapassado, o 1.6 aspirado de 116 cavalos. Em um momento onde as marcas estão apostando em caixas pequenas e turbinadas, foi mais um “tiro no pé” da francesa.
Agressivo
Como gostamos de afirmar, gosto é algo pessoal, cada um tem uma percepção sobre o que é bonito ou não. Mas há de se convir que, no quesito visual, a Peugeot acertou em cheio. No pouco tempo no qual tivemos contato com o 208, foi possível ver como ele atraiu olhares. Principalmente por causa da dianteira.
A gigantesca grade frontal poderia ser a parte que mais chama atenção no hatch, mas é impossível não ficar impressionado com a luz de circulação diurna em LED. A marca adotou um visual que parece a boca de um tigre dentes de sabre, com três barras ao lado do farol como os dentes e uma quarta, grande, que faz a vez das presas do felino pré-histórico.
A traseira também ficou bem elegante, principalmente na versão topo de linha com as lanternas em LED. Uma barra em black piano liga as duas peças. Nela, o nome da marca foi centralizado. Um pequeno aerofólio na parte superior da tampa do porta-malas aponta para um lado esportivo que simplesmente não existe no hatch.
Se a carroceria merece aplausos, o mesmo não podemos dizer da cabine, que é bem controversa. Enquanto o desenho é legal, diferente e ousado, os por materiais utilizados não conversam. Os bancos contam com um ótimo couro alcântara, o resto é todo em plástico duro e seco, o que mostra que o hatch é um carro de entrada, mas com preço de premium.
A marca até tentou dar um ar diferenciado, com uma faixa centralizada de um lado a outro no painel no que deveria ser fibra de carbono, mas é apenas um plástico simplório com um desenho diferente. Pelo menos os encaixes são bem feitos e não há rebarbas em nenhuma parte.
O ponto alto do interior é o volante, no estilo do 3008 com base dupla achatada e que encaixa perfeitamente na mão. O painel de instrumentos 100% digital também ajuda a melhorar a cabine. O mesmo não podemos dizer da tela da central multimídia, muito simplória e que poderia ser maior. Ela até ocupa uma área grande, mas a parte da visualização é bem diminuta.
Mais que a obrigação
A lista de equipamentos da Griffe é até generosa, mas deveria ser ainda melhor para, ao menos, tentar justificar o alto valor pedido por ela. Ela vem com ar-condicionado digital e automático (poderia ser dual zone, mas não é), teto solar panorâmico (mas a tela é de acionamento manual), os bancos em couro (sem qualquer regulagem elétrica) e o painel de instrumentos digital.
Ele ainda conta com carregamento sem fio para smartphones, chave sensorial para abertura das portas e partida do motor, sensor de estacionamento (mas apenas traseiro, deveria ter dianteiro também), câmera de ré, faróis full LED, sensores de chuva e crepuscular.
Na parte da segurança ele ainda vem com alerta de colisão (avisos visual e sonoro apontam quando o veículo da frente está mais lento) com auxiliar de frenagem e assistente de farol alto e airbags de cortina (deveria ter de janela também).
Os diferenciais ficam pela câmera 180º, sistema de reconhecimento de placas de velocidade e auxiliar de permanência em faixa, que quando ativo ajuda a evitar “invadir” a outra via sem dar seta. Mesmo eles não justificam o alto valor pedido. O 208 ainda deveria contar com sensor de ponto cego e até um piloto automático adaptativo, pelo preço, era mais que justo.
Sem graça
Com o visual agressivo do 208 e o formato do volante, era esperado um conjunto mecânico diferenciado, com um motor turbo esperto e bom de guiar. Mas não é o que acontece, pelo contrário. O ultrapassado 1.6 é lerdo, principalmente nas retomadas e ultrapassagens.
No nosso primeiro contato com o modelo, rodamos pouco mais de 200 quilômetros pela BR 060, que liga Brasília a Goiânia. O trajeto, feito em asfalto de boa qualidade, poderia ser mais divertido em um veículo turbinado. O propulsor do 208 não é nada dinâmico, em subidas, ele perde o fôlego é é preciso afundar o pé no acelerador para não diminuir muito a velocidade.
Na hora de fazer uma ultrapassagem, é preciso redobrar a atenção, já que as respostas são longe de serem as melhores. De final, ele até vai bem, sem muita dificuldade em manter uma velocidade estabilizada, o problema é na hora de uma retomada mesmo.
O câmbio é confortável, sem trancos nas trocas, mas nada esperto também. O modo “sport” só faz o giro subir mais, não melhora muito a dinâmica da direção. Quase não rodamos pela cidade, então não dá para dizer como ele se comporta nessas situações, será preciso uma avaliação completa e não só umas primeiras impressões.
O ponto alto do conjunto mecânico é a direção/volante. Como já falamos, a peça encaixa bem nas mãos, o que faz a condução ficar mais confortável. A direção elétrica funciona muito bem, ficando firme em alta velocidade. Com o auxiliar de permanência em faixa ativo, fica ainda mais fácil levar o hatch dentro do traçado correto na faixa de rolamento.
A opinião do Diário Motor
Enquanto a Peugeot acertou em cheio no visual da nova geração do 208, ela errou em praticamente todo o resto. O preço é praticamente um ultraje. Se pensar que ele sai por R$ 94.990, se for colocar pintura metálica ou perolizada (na média entre R$ 1.500 e R$ 2.000 a mais) ele quase bate em R$ 100 mil, para um hatch compacto aspirado, é muito dinheiro.
A lista de equipamentos é até generosa, mas não faz valer o preço final. O interior ficou bem desenhado, mas erraram na escolha dos materiais, com muito plástico duro. O conjunto mecânico é fraco e sem fôlego. Só o visual não compensa. Não vale a compra! Nota: 3.