Nissan Versa tinha tudo para ser ótimo, não fosse o motor e o preço
Testamos a versão topo de linha do sedã, que peca no valor e no propulsor ultrapassado
A nova geração do Nissan Versa chegou ao mercado brasileiro há pouquíssimo tempo, em novembro de 2020. O modelo, o lançamento mais importante da marca desde o Kicks, passou por uma reformulação profunda, mas não o suficiente para trocar o ultrapassado motor 1.6 aspirado, apesar de, tecnicamente, ele não ser o mesmo da geração anterior.
Além disso, como vem do México, chega aqui por uma pequena fortuna. Testamos a versão topo de linha do sedã compacto, a Exclusive. Bastante completa, ela conta com uma excelente lista de equipamentos, o abundante espaço interno que consagrou o modelo e um visual bem mais moderno mas tudo ao custo de insanos R$ 96.690.
Sobre o preço, são dois poréns. O primeiro, é que mesmo lançado há pouco mais de dois meses, ele já teve um aumento de R$ 3.700. Em novembro, custava já salgados R$ 92.990. O segundo é que o valor atual o coloca como o segundo sedã compacto mais caro do país, atrás apenas do Volkswagen Virtus que ultrapassou a impressionante barreira dos R$ 100 mil.
Além do banho de tecnologia, a grande revolução do modelo foi no design. Não que a marca tenha feito algo muito fora do comum, mas como a geração anterior — até então produzida no Brasil — era, sem meias palavras, horrenda, a nova se sobressai bem.
Muito melhor
Certo que visual, beleza — ou falta dela — é mais questão de gosto, é algo pessoal. Algo que uma pessoa diz ser bonito, outra pode falar que não é. Mas é inegável que o novo Versa está “anos-luz” do antigo em relação ao design.
O visual ressalta a nova visão de design da Nissan, com um exterior mais marcante, utilizando a grade V-Motion (presente no Kicks). Os faróis e lanternas em LED tem um formato que lembram bumerangues, deixando o visual mais elegante.
Por dentro, outra agradável surpresa. A cabine, claramente inspirada no Kicks, é bem elegante, principalmente por causa do acabamento em dois tons. São detalhes que dão um charme a mais. Um ponto alto é que no painel e nas portas além do plástico, há partes em couro, o que eleva a qualidade do interior. Além disso, as peças são muito bem encaixadas.
Se o maior destaque do Versa já era o espaço interno generoso, imagina agora que ele está maior. O sedã cresceu 50mm na largura e 20mm no entre-eixos, o que deixa o espaço para as pernas no banco traseiro ainda mais confortável. Com isso, mesmo pessoas grandes viajam com conforto atrás, claro que o ocupante do meio sempre sofre um pouco mais, mas nada demais. O porta-malas também está maior, agora com excelentes 482 litros.
Para justificar
Como falamos, um dos grandes poréns do Versa é o preço. Para tentar “compensar” o alto valor pedido, a Nissan equipou muito bem o sedã compacto. A lista de equipamentos da versão topo de linha é generosa e com itens exclusivos na categoria.
O foco maior são os itens de segurança. Ele conta com o Nissan Intelligent Safety Shield, um “escudo inteligente de segurança” que conta com alertas de colisão frontal com assistente de frenagem e de tráfego cruzado traseiro, câmera 360° com detector de movimento, monitoramento de ponto cego e alerta de objetos no banco traseiro.
Isso sem falar em equipamentos básicos para um veículo dessa faixa de preço, como seis airbags, controles de tração e estabilidade, auxiliar de partida em rampa e sensores de estacionamento traseiro e crepuscular, faróis, incluindo a luz de circulação diurna, em LED e piloto automático.
Na parte da comodidade, bons itens, mas o único de destaque é o aquecimento nos retrovisores. No mais, ele conta com abertura das portas e partida do motor com chave sensorial, central multimídia com tela sete polegadas, Android Auto, Apple CarPlay e GPS integrado, três portas USB, ar-condicionado automático e digital e um display de sete polegadas no painel de instrumentos.
O calcanhar de Aquiles
Como falamos na época do lançamento, uma pessoa menos atenta pode achar que o conjunto mecânico da nova geração do Versa é o mesmo da anterior, que ainda equipa o V-Drive (a geração antiga mudou de nome e continua sendo produzida na planta de Resende, no Rio de Janeiro, da marca).
O novo, utiliza o mesmo conjunto que equipa o Kicks. Apesar de ser um mais novo que o anterior, ainda se trata de um motor aspirado e de baixa cavalaria. Principalmente quando os principais rivais já estão utilizando propulsores turbo e, quem não tem ainda, está para receber.
O motor do Versa é um 1.6 aspirado de míseros 114 cavalos e 15,5kgfm de torque, tanto com gasolina, quanto com etanol. A transmissão é automática CVT, a mesma do Kicks, assim como o propulsor. A direção é elétrica. Os freios são a disco apenas na dianteira, pelo preço do veículo, deveriam ser nas quatro rodas.
Naturalmente, câmbios CVT não são espertos, e com um motor longe de ser forte como esse, as manobras são feitas com certo “sofrimento”. É preciso pisar fundo no acelerador, deixar o giro subir e ter um cuidado redobrado, principalmente nas ultrapassagens e nas retomadas de velocidade. A aceleração, como de costume deste tipo de câmbio, é muito progressiva.
As saídas também são morosas, o motorista precisa ter atenção redobrada, já que as respostas não são nada imediatas. Pelo menos, a Nissan trabalhou bem no isolamento acústico do carro. Outro problema comum de câmbios CVT é o excesso de ruído, coisa que não há no Versa. Com os vidros fechados, o barulho da transmissão trabalhando fica todo do lado de fora.
O consumo do sedã não foi ruim, mas também não foi excepcional. Durante nosso teste, rodamos a maior parte do tempo por rodovias. Isso sem falar que em Brasília a topografia da cidade permite um gasto mais perto do rodoviário. Em média ele fez 7,9km/l com etanol. Não é ruim, mas se olharmos para o líder da categoria que fez 11km/l com o mesmo combustível, deixa a desejar.
A opinião do Diário Motor
O novo Versa tinha tudo para ser um excelente carro, não fosse o motor e o preço. Se ele fosse mais barato ou tivesse um propulsor mais moderno, já seria muito melhor. Em um mundo ideal, o correto seria os dois.
Até porque, ele é quase R$ 7 mil mais caro que o líder da categoria (o Chevrolet Onix Plus), um pouco mais barato que o segundo colocado (Volks Virtus), mas custa mais de R$ 12 mil que o Hyundai HB20S, o quinto sedã compacto mais vendido de 2020. Em comum, todos os rivais utilizam motorização turbo, bem mais modernos que o 1.6 aspirado do Versa.
Na parte dos equipamentos, ele manda bem, principalmente na segurança, inclusive com itens exclusivos da categoria como o sistema de câmeras 360º, sem falar em alerta e auxiliar de frenagem e monitoramento de ponto cego. Na parte do conforto, o que se deve ter em um veículo desta faixa de preço.
O grande destaque continua sendo o espaço interno, ainda mais generoso, e o porta-malas, de longe o maior da categoria. Se você não se preocupa com um motor ultrapassado e nada esperto, o Versa pode ser uma boa escolha pelos predicados que citamos. No geral, vale o teste drive com possível compra! Nota 7.
Ficha Técnica
Motor: 1.6
Potência máxima: 114cv
Torque máximo: 15,5kgfm
Transmissão: automática do tipo CVT
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: a disco a frente e tambor atrás
Porta-malas: 482 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.475 x 1.740 x 4.495 x 2.620mm
Preço: R$ 96.690