Chevrolet Cruze tenta se mostrar ‘vivo’ em uma categoria à beira da extinção
Testamos a versão topo de linha do sedã, um dos poucos que ainda consegue ter volume de venda
Quando os SUVs começaram o “plano de dominação” global, uma das primeiras categorias a sucumbir às forças dos utilitários foi a de station wagons, principalmente no Brasil. As famosas peruas simplesmente sumiram do mercado. O segmento seguinte a “sair de cena” foi o dos hatches médios. Agora, mais um corre sério risco de extinção, os sedãs médios.
A categoria que já foi a mais desejada das famílias brasileiras, está ficando de lado. Atualmente, apenas quatro modelos têm um volume significativo de vendas — se é que podemos chamar menos de quatro mil unidades de expressivo. Toyota Corolla, Honda Civic, Volkswagen Jetta e Chevrolet Cruze ainda lutam bravamente para “sobreviver”. Testamos a versão topo de linha deste último.
Nos últimos anos, a categoria vem perdendo espaço aos poucos, vendo seu — até então — fiel público debandar para o lado dos SUVs. Mas a crise causada pela pandemia do novo coronavírus “abriu a ferida” do segmento. Para se ter uma ideia, até o momento, pouco mais de 40 mil sedãs médios foram vendidos no Brasil. O Onix Plus sozinho quase emplacou isso.
O Cruze, sempre isolado no terceiro lugar, até que está encostando no segundo colocado, o Civic. No entanto, mesmo sendo um veículo muito bom, um detalhe pesa contra, o preço. A versão topo de linha do sedã, a Premier II, custa salgados R$ 128.990, se adicionarmos a pintura metálica (como a Marrom Capuccino da versão testada), pula para insanos R$ 130.390.
Tecnológico
Não é de hoje que o Cruze é bem equipado. O modelo foi o primeiro a receber o sistema OnStar, ainda na geração anterior. A nova trouxe o carregador sem fio para smartphones e, para a linha 2020, ganhou wifi nativo integrado e uma nova câmera traseira que impressiona pela qualidade.
Ainda falando em comodidade, o sedã conta com ar-condicionado digital (aqui um dos maiores deslizes da marca, ele não é dual zone e não tem saída para o banco traseiro), abertura das portas e partida com chave por sensor, assento do motorista com ajuste elétrico, retrovisores externos elétricos, aquecidos e com rebatimento.
Ele ainda conta com central multimídia com tela de oito polegadas, navegador nativo, conectividade com smartphones via Android Auto e Apple CarPlay e duas portas USB, painel de instrumentos com display TFT e velocímetro digital e partida remota.
A lista de itens de segurança é ainda mais completa. O Cruze vem com controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, seis airbags, alertas de colisão frontal, de detecção de pedestre com auxílio de frenagem, de ponto cego e de esquecimento de pessoa ou objeto no banco traseiro.
Completa os equipamentos: monitoramento de pressão dos pneus, assistente de permanência em faixa, farol alto adaptativo, frenagem de emergência, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, crepuscular e de chuva, piloto automático, luz de circulação diurna e lanternas em LED.
Os auxiliares de condução, apesar de não serem semi-autônomos, ajudam muito na direção, principalmente os alertas de ponto cego e de mudança de faixa. Um item que evoluiu é a câmera de ré, em alta definição, é uma das melhores do mercado.
Ainda moderno
O Cruze é um sedã clássico, com os três volumes bem definidos (motor, cabine, porta-malas). O visual pega para um lado mais esportivo, com uma dianteira mais curta e caída suave do teto em direção a traseira. O modelo recebeu uma profunda alteração visual há quatro anos e um pequeno facelift em 2019 tem um estilo moderno.
A imponente grade frontal, mesmo o uso — quase — exagerado de cromado, não destoa do resto do veículo. Gosto é sempre uma questão pessoal, mas ele não faz feio perante os principais concorrentes, mesmo os recém atualizados.
Por dentro, um detalhe interessante é a cor do acabamento dos bancos, painel e portas, em marrom. Em um primeiro momento, pode ser estranho, mas a cor não é cansativa e deixa o sedã com um ar mais premium. Com o uso generoso de couro, o interior é muito bem montado, sem rebarbas ou peças mal encaixadas.
Como em quase todo veículo a venda no país, o ideal é levar quatro passageiros. Nessa configuração, há bastante conforto. Um quinto, gera aperto, principalmente por causa do túnel central. O porta-malas, apesar de ter um tamanho bom, é um dos menores da categoria. Ainda assim, são 440 litros de espaço.
Força econômica
O Cruze foi o primeiro modelo da categoria a contar 100% com versões turbinadas. O sedã, assim como o irmão hatch, utiliza um motor 1.4 turbo de 153/150 cavalos e 24,5/24kgfm de torque. A transmissão é automática de seis velocidades e a direção elétrica.
Com essa combinação, o sedã consegue otimizar dois fatores importantes: dirigibilidade e consumo. Com o propulsor trabalhando em baixa rotação, basta um leve toque no acelerador para ele disparar pelo asfalto. Todas as manobras são feitas com extrema facilidade e segurança, de ultrapassagens a retomadas de velocidade.
A direção elétrica atua muito bem também, leve em baixas e firme em altas velocidades. A suspensão absorve bem as imperfeições do asfalto, sem repassá-las para a cabine. Mas como nem tudo são flores, falta uma coisa no sedã: borboletas no volante.
Ele até tem opção de trocas, mas é na alavanca do câmbio. O que não tem muita graça. Afinal, um veículo turbo, com apelo mais esportivo merecia os paddle shift, otimizaria ainda mais a já boa condução do modelo.
Outro ponto positivo do conjunto mecânico foi o consumo. Rodando pelas largas e planas ruas de Brasília, ele chegou a marcar acima dos 14km/l. Por fim, o consumo médio ficou em excelentes 12,7km/l, isso com uma misto de tocada mais agressiva e mais tranquila.
A opinião do Diário Motor
No geral, o Cruze é um veículo bom. O acabamento interno é muito bem feito, o espaço é correto. A lista de equipamentos é completa e conjunto mecânico atende muito bem ao sedã. O grande problema é o preço e a concorrência “desleal” dos SUVs.
Mesmo com todos os adjetivos, está longe de valer R$ 130 mil. Quando a linha 2020 foi apresentada no fim do ano passado, o valor já assustava, com a alta do dólar, ficou ainda pior. O que mostra que, mesmo sendo uma categoria com bons representantes, os sedãs médios deve ter o mesmo fim das peruas e dos hatches médios: o ostracismo.
Ainda assim, quem quer fugir da moda dos utilitários — e tiver disposto a gastar todo esse valor — pode encontrar no modelo uma boa solução, qualidades para isso ele tem. Pode valer a compra! Nota: 8.
Ficha Técnica
Motor: 1.4 turbo
Potência máxima: 153/150cv
Torque máximo: 24,5/24kgfm
Transmissão: automática de 6 velocidades
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e semi-independente na traseira
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 440 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.484 x 1.807 x 4.665 x 2.700mm
Preço: R$ 130.390