Pós-Moro

AGU pede para STF levantar apenas o sigilo das falas de Bolsonaro em vídeo

Vídeo da reunião ministerial é alvo do inquérito que investiga suposta interferência de Bolsonaro na PF

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José Levi Mello do Amaral Junior. Foto: Bruno San/AGU.

A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal onde se manifesta a favor da retirada do sigilo de partes do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, alvo do inquérito que investiga a suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, após denúncias do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. A AGU defende que sejam divulgados apenas os trechos onde existam falas do presidente, poupando as intervenções dos outros, ministros de Estado que participaram da reunião.

PF mencionada

A transcrição do primeiro trecho mostra que o presidente se manifesta na reunião de forma crítica de à PF, às Forças Armadas, à Abin e “todos” os serviços de informação, momento no qual ele diz que vai “interferir”. Leia a íntegra abaixo:

“Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da… da… da.. porta ouvindo o que o seu filho ou sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. [referências a Nações amigas]. Então essa é a preocupação que temos que ter: a “questão estratégia”. E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade (…)

‘Troca’ na segurança pessoal

No segundo trecho, o presidente trata da “segurança nossa no Rio de Janeiro”, quando também diz que não vai “esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura”. A AGU explica que a segurança do presidente e sua família é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional, por isso não faz sentido a acusação de que ele quer interferir na Polícia Federal, que ele não menciona. Íntegra abaixo:

“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe. troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira (…)”

Cogitação, opiniões etc.

Segundo a Advocacia-Geral, os outros trechos do vídeo, onde há falas de diversos ministros, tratam de assuntos diversos, entre “políticas em cogitação, análises e opiniões”. Por isso pede que sejam mantidos sob sigilo.

“Todos eles discorrem sobre os assuntos mais diversos, inclusive, sobre políticas públicas em cogitação, seja como for, assuntos absolutamente estranhos ao objeto do presente inquérito, e alguns bastante sensíveis, aí incluídas análises e opiniões, pela ordem da autoridade monetária e do ministro das Relações Exteriores”.

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