Escritório do Crime

Jornalistas que apuravam morte de miliciano são detidos pela polícia da Bahia

Repórteres investigavam caso do ex-PM, ligado a Flávio Bolsonaro e da vereadora Marielle Franco, e acabaram liberados na delegacia

acessibilidade:
O ex-PM Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar grupo de matadores de aluguel e que foi morto em operação policial. Foto: Divulgação/Polícia Civil

A Polícia Militar da Bahia deteve na manhã desta sexta-feira, 14, dois jornalistas da revista Veja que investigavam as circunstâncias da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em uma ação policial no último domingo (9) em Esplanada (a 170 km de Salvador). O miliciano era apontado como um dos líderes do grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime, do qual supostamente fazia parte o ex-PM Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora carioca Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018.

Os repórteres Hugo Marques e Cristiano Mariz estavam na cidade de Pojuca (a 90 km de Salvador), a caminho de uma das fazendas do pecuarista Leandro Guimarães quando foram cercados por duas viaturas da polícia.

Os jornalistas queriam entrevistar Leandro, fazendeiro que hospedou o miliciano por cerca de uma semana antes de ele seguir para o sítio do vereador Gilsinho de Dedé (PSL), onde acabou morto ao ser alvo de operação policial.

Mesmo após se identificarem como repórteres, os jornalistas foram revistados pelos policiais com armas em punho. Um dos soldados teria indagado por várias vezes: “Como é que vocês descobriram esse endereço?”

Em seguida, um policial apreendeu o gravador de um dos repórteres, no qual haviam sido gravadas diversas entrevistas da apuração sobre o caso. Eles ordenaram que os jornalistas os seguissem para uma delegacia no município vizinho de Pojuca.

Os jornalistas ficaram cerca de 20 minutos na delegacia, onde foram liberados. O gravador foi devolvido.

O episódio com os jornalistas ocorreu um dia após a revista ter revelado imagens do corpo do ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, indicando que ele teria sido morto com tiros disparados a curta distância, versão negada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

A publicação teve acesso a fotos feitas após a autópsia do ex-policial que mostram que ele também tinha um ferimento na cabeça e uma marca vermelha no lado esquerdo do peito.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia, ligada ao governo Rui Costa (PT), afirmou que moradores de uma localidade em Pojuca ligaram para a polícia informando que homens estavam rondando a região.

“A Polícia Militar foi acionada, abordou o grupo e fez a condução até a Delegacia Territorial. Após se identificarem como jornalistas, foram liberados. Nenhum equipamento foi danificado, alterado ou ficou apreendido”, disse, em nota, a secretaria.

Chefe de milícia no Rio, Adriano foi homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio pelo hoje senador Flávio Bolsonaro. Ele é citado na investigação que apura a prática de “rachadinha” (esquema de devolução de salários) no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. O miliciano teve a mãe e a mulher nomeadas para cargos quando Flávio era deputado estadual no Rio. (Com informações da Folhapress)

Reportar Erro