Desprezou a Alerj

CPI quer levar à força presidente do Flamengo para discutir mortes no Ninho do Urubu

Rodolfo Landim ignorou convite para reunião na Alerj, e terá que atender à convocação

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga os recorrentes incêndios no Estado vai convocar o presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Rodolfo Landim, para prestar esclarecimentos ao grupo sobre o incêndio do Ninho de Urubu, que há um ano vitimou 10 atletas da base do time. Após faltar à audiência que discutiu o tema nesta sexta (7), Landim poderá ser conduzido coercitivamente, caso não compareça ou não envie como representante o vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee.

A reunião de hoje da CPI dos Incêndios que durou quase sete horas foi ignorada por Landim e pelo ex-vice-presidente de patrimônio Alexandre Wrobel, convidados pelo debate que ocorre um ano após o desastre em um contêiner-dormitório. Por isso, segundo o presidente da CPI, deputado Alexandre Knoploch (PSL), ambos serão convocados, com a possibilidade de condução coercitiva.

“Se eles não estiverem presentes ao primeiro minuto da próxima reunião, serão alvos de condução coercitiva imediata pela Polícia Civil. Estamos cumprindo o que determina a justiça. Primeiro convidamos esses dirigentes, agora eles serão convocados. Esperamos não ter que usar a condução coercitiva, já que o advogado do Flamengo informou que eles virão à reunião”, afirmou o parlamentar.

Wedson Matos, pai do jogador Pablo Henrique, lamenta mortes em incêndio no Ninho do Urubu. Foto: Julia Passos/Alerj

Famílias reclamam de desprezo

Após um ano do incêndio no alojamento das divisões de base do Flamengo, onde 10 meninos morreram e três ficaram feridos, familiares e advogados das vítimas presentes à reunião reclamaram da falta de acolhimento por parte do Flamengo. O clube chegou a acordos de indenização com apenas três famílias.

Segundo Wedson Candido de Matos, pai de Pablo Henrique – uma das vítimas -, ele ficou sabendo da tragédia pela mídia e o clube não prestou nenhuma tipo de atendimento. Ele lamentou ter confiado o filho de 13 anos ao clube e o Flamengo tê-lo devolvido dentro de um caixão, sem condições sequer de ver seu rosto pela última vez.

“Nesse um ano não tivemos quase nenhum contato com o Flamengo. Total desprezo. O Flamengo nos abandonou. Não procura, não conversa. Não tive atendimento psicológico, não tive nenhum tipo de atenção. Apenas pagam a pensão, que é a conta de comprar os remédios que eu e minha esposa passamos a tomar depois da tragédia”, revelou Wedson.

Advogada da família de Pablo Henrique, Mariju Maciel disse que o que se pede é acolhimento e carinho. Ela disse que o Flamengo só a procurou uma vez, estipulando um teto de indenização, sem querer dialogar. E lembrou que todas as famílias tinham aceitado o acordo feito em conjunto pelo Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública.

“O clube é que não aceitou e preferiu tratar com cada família individualmente. Ainda não tivemos acesso aos autos do processo e estamos há um ano enfrentando o descaso. O que queremos é ouvir do Flamengo ‘desculpa por ter colocado seu filho para dormir num contêiner de alta combustão'”, disse a advogada.

Visita ao Ninho

Mariju Maciel relatou que a família de Pablo veio de Minhas Gerais para a reunião e pediu, por e-mail, ao clube a liberação para visitar o Ninho do Urubu na manhã deste sábado (08), quando completa exatamente um ano da tragédia, para colocar uma vela onde o adolescente morreu.

A advogada disse que, inicialmente a diretoria do Flamengo havia negado o pedido, informando que o time principal se concentraria para o jogo contra o Madureira pelo Campeonato Carioca. No entanto, durante a reunião, o CEO do clube, Reinaldo Belotti, chegou a um consenso e as famílias poderão visitar o CT sem a presença da imprensa.

O vice-presidente da CPI, deputado Rodrigo Amorim (PSL), disse que o Flamengo está fugindo do debate. “A instituição usa a sua força para intimidar. Se nós parlamentares estamos enfrentando dificuldades em dialogar, imagina como está sendo para essas famílias”, questionou Amorim.

Representando a família do Jorge Eduardo, a advogada Paula Wolf, argumentou que o clube trata os advogados dos parentes das vítimas como entraves. “O Flamengo age como se as famílias não tivessem direitos. O presidente Landim diz que nós estamos atrapalhando as negociações, mas o clube não procura essas pessoas”, lamentou.

Posição do Flamengo

Presente à reunião da CPI na Alerj, o advogado do Flamengo, Willian Oliveira, pediu desculpas aos familiares presentes e disse que após o incêndio, o clube realizou todos os procedimentos legais para que o Centro de Treinamento (CT) pudesse voltar a funcionar. O advogado disse que a nova gestão constituiu um diretor para cuidar do CT.

Com mais de três horas de reunião da CPI em andamento, o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e o atual CEO do clube Belotti chegaram à Alerj.

Segundo Bandeira de Mello, único dirigente do clube indiciado inicialmente pela polícia, sua gestão havia acabado em 2018 e ele não era mais presidente do Flamengo em fevereiro de 2019. Ele negou todas as acusações e disse que não tinha acesso às informações de manutenção dos equipamentos e nem sobre as licenças e alvarás do Corpo de Bombeiros e da prefeitura.

“Essas questões não chegam diretamente ao presidente do clube. Só soube dos problemas de alvará, das licenças e do pedido de interdição do CT pela prefeitura através da mídia e depois do incêndio. Agora eu sou um torcedor. Fiquei seis anos na presidência e melhoramos todo o patrimônio e as finanças do clube. Quando eu sai de lá todos estavam vivos e com saúde”, finalizou.

Em ambiente controlado, Landim concedeu entrevista coletiva ao lado de Dunshee e de Belotti, transmitida hoje pela FlaTV. Assista:

‘Culpa da chuva’

Já o CEO Reinaldo Belotti afirmou que o incêndio pode ter sido causado por possíveis problemas elétricos devido às chuvas que caíram na cidade do Rio dois dias antes da tragédia. “Foi uma das maiores tempestades registradas no ano passado. Soubemos de relatos de quedas de energia no CT, além de um ar-condicionado ter parado de funcionar. Esclareço que o aparelho foi reparado e não foi o mesmo que causou o incêndio. Além disso, os jovens estavam eufóricos com um treino e há relatos de que foram dormir mais tarde naquele dia, o que pode ter dificultado a saída deles do alojamento”, disse.

Ele assegurou, ainda, que no Flamengo está tomando todas as providências possíveis. “Oferecemos ajuda e apoio médico aos 16 atletas sobreviventes, como auxílio psicológico. Quanto às vítimas fatais, sabemos que nenhum valor indenizatório vai ser o suficiente devido à perda dos jovens. Mas já fizemos acordo com três famílias e tem outro caso em que os país da vítima eram separados e um dos parentes também já aceitou um acordo com o clube”, concluiu. (Com informações da Ascom da Alerj)

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