Rezende, do interior do Piauí para 22 anos chefiando o plenário da Superior Tribunal Militar

"Nosso trabalho sempre foi muito técnico", define Rezende sua dedicação ao STM

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José Herbert de Rezende Filho confere as várias condecorações que fez por merecer - Foto: Dênio Simões.

O Superior Tribunal Militar (STM) instalou-se em Brasília no dia 15 de fevereiro de 1973. Seis anos depois, a instância máxima da Justiça Militar receberia em seu quadro funcional um piauiense que se misturaria à própria história da Corte na nova capital. José Herbert de Rezende Filho, 62 anos, chefiou os trabalhos no Plenário por 22 anos, onde conviveu com almirantes, generais, brigadeiros e demais ministros.

Nascido em 17 de maio de 1957, na pequena Piripiri, Rezende passou a infância no campo, ajudando a família no plantio e criação de animais na fazenda de seu avô. Estudou no colégio da cidade, onde fez amigos e prospectou seu futuro. “Já na década de 60, um tio veio a Brasília. Ele voltou ao Piauí e logo trouxe alguns primos meus que, posteriormente, me convidaram para vir também”, conta.

José Herbert de Rezende Filho, o Rezende, integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

Os anos se passaram quando finalmente, em 1978, Rezende resolveu se aventurar no Planalto Central. Ao desembarcar na Rodoviária do Plano Piloto, no dia 26 de fevereiro, o piauiense se maravilhou com o Eixão Sul, por onde passou em direção a Taguatinga.

“Eu nunca tinha visto um prédio na minha vida. Lá em Piripiri só existia casa e eu nunca tinha saído de lá. Ver os prédios suspensos foi algo que me marcou muito. Como poderia existir uma casa em cima da outra? Sempre me perguntava isso”

Durante o curso de eletrotécnica do Senai, Rezende ouviu dizer sobre um concurso público para o STM. Estudou, foi aprovado e tomou posse em 23 de fevereiro de 1979. E é aí que a história de sua vida mudou radicalmente. Rezende saiu do Piauí noivo e tinha entre seus planos trazer a noiva para morar em Brasília. “Foi tudo muito rápido. Conheci a mulher que viria a ser minha esposa no tribunal. Terminei meu noivado por carta mesmo, pois naquele tempo as coisas eram mais difíceis. E, em julho de 1980, já estava casado”.

Lotado inicialmente na Diretoria de Apoio Geral durante nove anos, Rezende aproveitou a realização de um concurso interno (o que já não existe mais no funcionalismo público) para ingressar em outra carreira no órgão. Foi então que, em 1988, assumiu um cargo na Secretaria de Tribunal Pleno e, posteriormente, a chefia dos trabalhos na Sessão de Registro das Atividades do Plenário. Tinha início, aí, uma das chefias mais longa da história desta repartição do STM.

Rezende era servidor de um órgão militar em pleno Regime Militar. Segundo ele, os trabalhos na Corte seguiram sempre os mesmos ritos, até mesmo depois da redemocratização. “Nunca vimos nada de diferente daquilo que era o dia-a-dia mesmo. Nosso trabalho sempre foi muito técnico, fazendo com que o tribunal não sofresse com nada. O servidor público precisa fazer a máquina funcionar e era isso que fazíamos”, resume.

Esse comprometimento fez do servidor um dos mais condecorados da história da Justiça Militar. Rezende recebeu medalhas de honra da Marinha, Exército, Aeronáutica e Procuradoria da Justiça Militar. Além disso, foi premiado diversas vezes pelo próprio STM. Honrarias que, segundo ele, sempre motivaram a não desanimar no exercício de suas funções. “Sim, eu tenho muito orgulho de ter trabalhado na Corte mais antiga do Brasil, com 212 anos, e de ser um dos únicos servidores da Justiça Militar com medalha das três forças. Saí lá do interior do Piauí e nem eu mesmo acreditaria nisso, se me contassem”, revela.

Ao todo, Rezende trabalhou 36 anos, 2 meses e 25 dias no STM. Ele gosta de contar cada hora que permaneceu na Corte e se orgulha de ter se ausentado dos afazeres por apenas duas vezes: uma por questão de saúde e outra pelo falecimento do pai. Querido pelos colegas de trabalho e apaixonado por futebol, chegou a ter um torneio interno com seu nome. “Torço pelo Flamengo, mas no Piauí sou 4 de Julho”, ressalta.

Como muitos brasileiros que vieram para Brasília em busca de dias melhores, Rezende conseguiu encontra-los. Ao lado da esposa, criou e educou seus dois filhos, ambos servidores públicos como o pai e a mãe. Ao olhar para trás e relembrar tudo que viveu nesses 42 anos de Brasília, ele resume:

“Brasília me deu tudo. Esposa, filhos, amigos, carreira, reconhecimento, aposentadoria… E Brasília continua a ter o que nenhuma outra cidade tem: árvores, pássaros, muito verde e espaços amplos. Ela sempre foi e continua a ser muito bonita”.

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