Falência iminente

Restaurantes pedem socorro e terão R$100 milhões por danos com pandemia em Alagoas

Após pressão de empresários e da Abrasel, setor obtém sobrevida, com descontos, isenções e crédito

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Presidente da Abrasel-AL mobilizou campanha por socorro ao setor de bares e restaurantes de Alagoas. Foto: Márcio Ferreira/Agência Alagoas

O retorno de Alagoas à fase laranja de restrições sanitárias contra a nova onda da pandemia da covid-19 resultou no fechamento de bares e restaurantes que consideraram insustentável abrir nos novos horários impostos pelo decreto do governador Renan Filho (MDB). Diante das dificuldades, empresários pediram socorro, com anúncio de fechamento definitivo e apelos por ajuda aos governantes. Dois dias após a ajuda emergencial anunciada pelo prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o ‘JHC’ (PSB), o governo estadual anunciou nesta sexta (12) um pacote de R$ 100 milhões, com descontos, isenções e crédito sem juros, para conter os danos da pandemia no setor fundamental para o estado dependente do turismo.

Em áudio que viralizou nas redes sociais nesta semana, o proprietário de um dos bares mais tradicionais da área nobre e turística de Maceió, o Caruaru Carnes e Brasa, na Ponta Verde, pediu socorro imediato, para não fechar as portas. E relatou parte do drama vivido pela empresa, sua família e os empregados prestes a perder seus postos de trabalho.

“Infelizmente, também vou fechar minhas portas. A situação é muito difícil, tenho empregados para pagar, estou sem movimento, tenho boletos, compromissos com a família[…]. Peço socorro aos governantes, que esse áudio meu possa chegar a todos. Não para comover ninguém, é para que essa realidade chegue a todos e possamos fazer alguma coisa para salvar o meu restaurante, que emprega pessoas que infelizmente serão demitidas, e os demais que pedem ajuda também”, apelou Caruaru.

Dono de restaurante, Caruaru pediu socorro e elogiou pacote emergencial para o setor. Foto: Roprodução Instagram

Seu pedido converteu-se em esperança, ao avaliar o pacote como uma solução maravilhosa, que ajuda a todos. Mas destaca que, o que gostaria de ver é o cliente dentro de seu restaurante. Mas ele ainda não descarta o risco de

“Eu sei que é uma ajuda, é fabuloso. Tudo foi de grande valia. Porém, a gente fica analisando é a ausência do cliente dentro do estabelecimento, que é preocupante. Até porque, em breve tempo, não sabemos como vai ser a volta à normalidade. Vamos analisar durante esse fim de semana e a semana que chega, para ver o quanto isso aí vai trazer de benefício. Se tiver de fechar, vamos fechar. Mas, primeiro pensar em manter o restaurante aberto, para manter minha vida e a dos colaboradores em dia. Vamos esperar para ver o que vai acontecer de melhor”, disse o Caruaru.

Pressão pela divisão da conta

A ajuda emergencial ao setor de bares e restaurantes é resultado de pressão de empresários e da Associação de Bares, Restaurantes e Similares (Abrasel) de Alagoas, com a campanha #VamosDividiraConta. E foi elogiada pela entidade por superar a demanda apresentada pelo setor para obter sobrevida em meio à ampliação do rigor das medidas sanitárias, que fecharão os bares e restaurantes neste fim de semana.

Thiago Falcão, presidente da Abrasel Alagoas, representa 370 empreendimentos do segmento, e reconheceu o pacote apresentado hoje pelo governo de Alagoas, pela rapidez e superação das expectativas do setor.

“Precisamos reconhecer que as ações foram além do nosso pedido. Isso é muito bom, ver que as nossas expectativas estão sendo superadas. Assuntos que estávamos debatendo desde o início da pandemia, estão se concretizando. É muito importante dentro desse momento de restrição, de queda de faturamento, ter essa injeção no mercado, fazendo circular de novo a economia do estado. Agradeço em nome de todo o setor, tenho certeza que meu grupo de empresários está muito feliz com o que ouviu”, elogiou Falcão.

Medidas

Ampliando a ajuda emergencial do prefeito JHC, que ampliou de 10% para 15% o desconto no pagamento à vista do IPTU (cota única) e instituiu um desconto de 10% para quem quitar o imposto até o dia 30 de abril, o governador Renan Filho anunciou hoje as seguintes medidas do pacote emergencial:

– Extinção do pagamento da Substituição Tributária para a aquisição de alimentos (medida aplicada em definitivo);

– Isenção do ICMS do Simples Nacional para o período de março a junho de 2021;

– Isenção do ICMS da energia elétrica para o período de março a junho de 2021;

– Isenção do IPVA de veículos de empresas do segmento de bares e restaurantes para o exercício de 2021

– Suspensão da cobrança de ICMS antecipado para o período de março a junho de 2021;

– Suspensão do pagamento dos parcelamentos do ICMS para o período de março a junho de 2021;

– Dois novos programas de Recuperação Fiscal (Profis): um para todos os contribuintes e um programa especial para os contribuintes do Simples Nacional;

– Abertura de linha de financiamento de até R$ 4 mil com 0% de juros e carência de seis meses para MEIs;

– Abertura de linha de financiamento entre R$ 20 mil até R$ 50 mil com 0% de juros e carência de seis meses para empresas do Simples Nacional, a depender da faixa de faturamento anual, com prazo para quitação em até cinco anos.

Tragédia ampliada

A mesma esperança já não tem o senhor José Vieira, 76, fundador do lendário Caldinho do Vieira, que encerrou suas atividades após meio século atuando no bairro do Pinheiro, atingido pelo desastre geológico provocado pela exploração de sal-gema numa falha geológica, pela Braskem. O bairro foi evacuado após tremores de terra, afundamento do solo e surgimento de fissuras e crateras em imóveis.

“Foram 50 anos de bem servir e muito amor ao povo alagoano! Anos esses encerrados de maneira trágica e desonrosa pela irresponsabilidade da empresa Braskem. O Zé Vieira, que aos 18 anos saiu de sua terra natal, Pão de Açúcar, no sertão das Alagoas, para ganhar a vida em Maceió, construiu um legado por 50 anos em seu amado ‘Caldinho’. Hoje, aos 76 anos de idade e sem forças para continuar seus trabalhos em um bairro deserto e prestes a desmoronar, depois de tantos desgastes e sem qualquer suporte até então da empresa que destruiu seu legado, pede que os trabalhos se encerrem”, diz a nota que anunciou o fechamento do bar, na última quarta-feira (10), em plena pandemia.

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