Polêmica

Policiais militares reagem a artigo de Lucena no 'Diário do Poder'

Para Lucena, há a estratégia para enfraquecer a Polícia Civil

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Um corajoso artigo publicado no Diário do Poder gerou desconforto e trouxe à tona o embate entre as polícias Civil e Militar do DF. O jornalista e delegado da PCDF Miguel Lucena tem artigos publicados diariamente na página. Este, em questão, criticou a greve ilegal da PM do Espírito Santo e supostas práticas irregulares dos militares. Em consequência, além da corporação, entidades que representam a PM, no DF e no Goiás, publicaram nota de repúdio.

No texto, Lucena afirma que a greve no ES é um “ensaio” para a “estratégia”  de enfraquecer e sucatear a Polícia Civil. Diz também que “oficiais passaram a dominar o mercado da segurança privada”. Em outro ponto que causou polêmica, o delegado diz que a PM “passou a avançar no território do adversário, cumprindo mandado de busca e passando a lavrar Termo Circunstanciado”.

Lucena critica ainda o serviço velado da PM, “que nada mais é do que investigação policial, com o agravante de que, no caso dos militares, ela se dá sem nenhum dos controles a que estão submetidos os policiais civis por meio do Inquérito Policial”.

Em nota de repúdio, a PMDF diz ser “lamentável a postura descabida do delegado em levantar questionamentos totalmente infundados”. Para a corporação, o ataque foi “gratuito” e não contribui “em nada para a causa da Segurança Pública do país”. “As ofensas causam estranheza por seu posicionamento incoerente com as reais necessidades da população e, ao mesmo tempo, geram indignação em milhares de profissionais que arriscam suas vidas para proteger os brasileiros contra a barbárie e a violência que ameaçam nossas famílias.”

A Caixa Beneficente da Polícia Militar (Cabe) também criticou o artigo, afirmando que ele “ofendeu a dignidade dos policiais militares de todo Brasil”. “Em realidade posições destemperadas, e com firmes objetivos políticos, carece de fundamentos jurídicos e conhecimento policial”.

A Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (Assof-GO) afirmou ser “Lamentável que um agente público, e ainda mais da área policial, acredite que as reivindicações pelas mínimas condições dignas de trabalho e salário, façam parte de um plano orquestrado para enfraquecer a outra instituição policial”. Ainda segundo a Assof-GO, o delegado faz afirmações “desprovidas de bom senso e lógica”.

Outro lado

Após a repercussão nas redes sociais, o delegado chegou a publicar novo artigo, em que afirmou que analisou a recente situação de greve da PM no Espirito Santo, além de uma “estratégia para fragilizar e sucatear as polícias civis no Brasil”. “Não me referi em específico à PMDF nem a nenhum de seus integrantes, razão por que estranhei a nota de repúdio, justificada apenas pela necessidade de algum protagonismo na liderança de um possível movimento militar de polícia em gestação no Brasil”, apontou,

Em nota, o delegado diz que responde como “cidadão e delegado de carreira, não como servidor”. Segundo ele, as notas de repúdio reafirmam o “propósito das polícias militares de todo o país de avançar sobre as atribuições das polícias civis, a quem manifestam respeito aparente”

Confira a nota do delegado na íntegra:

"Respondo como cidadão e delegado de carreira, não como servidor comissionado obrigado a fingir.

As notas articuladas de entidades diversas reafirmam o propósito das Polícias Militares de todo o país de avançar sobre as atribuições das Polícias Civis, a quem manifestam respeito aparente mas não impedem que suas tropas realizem pelas redes sociais campanhas de terra arrasada contra a Polícia Judiciária.

O tratamento mais ameno que policiais militares dão Brasil afora aos policiais civis é o de balconistas, desmerecendo, por má-fé ou ignorância, uma atividade que exige análise, técnica e ciência.

Amesquinham tanto as nossas funções que consideram o capô de uma viatura um espaço digno para a realização de um procedimento que exige formalidades previstas em lei.

Após a sociedade brasileira lutar arduamente pela conquista das liberdades democráticas, solapadas por um regime de exceção, os militares querem levar os civis de volta aos quartéis, onde funcionam como um organismo à parte da sociedade.

Se as entidades subscritoras das notas encomendarem uma pesquisa de opinião pública, saberão que a polícia ostensiva sumiu das ruas do Brasil e no Espírito Santo tentou garrotear, intimidar e impor sua vontade às instituições democráticas.

Fingir que está tudo bem, quando se trava uma guerra de bastidores para açambarcar atribuições e até impedir conquistas específicas, imitando o invejoso que prefere perder dois a ver o vizinho ganhar um, é prestar um desserviço à verdade e eu não estou disposto a encenar esse papel.

Miguel Lucena – Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal, jornalista e cidadão brasileiro."

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