PF indicia Abílio Diniz por organização criminosa e estelionato
Ex-diretor-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria também foi indiciado na terceira fase da Operação Carne Fraca
O empresário Abilio Diniz, o ex-diretor-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria e outros 41 investigados foram indiciados pela Polícia Federal nesta segunda-feira, 15, no âmbito da Operação Trapaça, terceira fase da Operação Carne Fraca, que investiga supostas fraudes laboratoriais e informação de dados fictícios ao Ministério da Agricultura.
Diniz e Faria foram indiciados por estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e crime contra a saúde pública.
A PF usou a troca de mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e acesso a e-mails para indiciar os executivos. O delegado da PF Maurício Moscardi Grillo afirma que a análise de arquivos durante a investigação, “concluiu-se a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF”.
“Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, diz o relatório.
As investigações apontam que quatro fábricas da BRF Brasil Food são suspeitas de fraudar laudos relacionados à presença de salmonela em alimentos para exportação a 12 países que exigem requisitos sanitários específicos de controle da bactéria do tipo salmonella spp.
O grupo inclui China, África do Sul e países da União Europeia. Nesses países, a porcentagem de salmonella spp tolerada é menor que a tolerada no Brasil.
“Destaca-se a participação ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridades chinesas (Dioxina), de Pedro de Andrade Faria (à época diretor-presidente global do grupo BRF), Abílio dos Santos Diniz (à época Presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimentos “, segundo o documento.
Para a PF, o contexto das conversas indica o conhecimento dos principais executivos da BRF sobre os problemas.
“Abílio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquica que ostentavam no quadro corporativo do grupo, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinação a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinasse a causa-raiz da contaminação química dos produtos destinados ao consumo e a regularização do processo industrial.”
O delegado anota que, contudo, o que ocorreu na conversa foi a “lamentação” dos executivos do vazamento da informação, a interlocução com a então ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), e a tomada de medidas com o objetivo de “abafar” a disseminação de fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional.
Abílio Diniz foi presidente do conselho de administração da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e desde 2016 é membro do conselho de administração do grupo Carrefour.
Caberá ao Ministério Público Federal decidir se oferece denúncia com base nas conclusões da polícia, se pede novas diligências ou se arquiva a apuração, por não considerar haver provas para fazer uma acusação criminal contra os citados.