PEC garante emendas de R$ 3 milhões por deputado, contra retaliações de Renan Filho
Jamais liberadas, emendas agora serão impositivas, e garantirão R$ 40 milhões para a saúde
Mesmo seguindo uma tendência nacional, os deputados estaduais alagoanos deram um passo definitivo, na sessão de ontem (24) da Assembleia Legislativa (ALE), para blindar o parlamento e as políticas públicas de retaliações políticas como as praticadas no início deste 2º mandato do governador Renan Filho (MDB). Os parlamentares aprovaram a alteração na Constituição Estadual, instituindo o orçamento impositivo, com destinação de aplicação obrigatória de uma cota individual de cerca de R$ 3 milhões em recursos, através de emendas de cada um dos deputados aos orçamentos anuais.
A aprovação da proposta de emenda à Constituição Estadual, PEC 76/2019, que será promulgada pelo presidente da ALE Marcelo Victor (SD-AL), garantiu a destinação às emendas impositivas de 1% da receita corrente líquida prevista na Lei Orçamentária Anual, sendo metade delas destinadas à política de saúde pública.
E é uma reação de 25 dos 27 deputados estaduais à política com característica coronelista praticada por Renan Filho, quando demitiu indicados dos parlamentares e pressionou aliados com ameaça a convênios para a saúde pública do Consórcio Intermunicipal do Sul do Estado de Alagoas (Conisul), ao não obter apoio para eleger seu tio Olavo Calheiros (MDB) como presidente da ALE.
Toda a reação de Renan Filho em perseguição dos deputados foi provocada pela foto em que deputados divulgaram união contra a candidatura de seu parente, em janeiro. Parte dos espaços tomados foi reconquistada no governo por alguns deputados. Mas o governador ainda não conseguiu consolidar uma reaproximação política, pela quebra de confiança e falta de demonstração de interesse de ambos os lados.
Com a mudança, os deputados passarão cada vez menos do governador para contemplar suas bases eleitorais com as suas demandas por ações que demandem recursos públicos. O que possibilita um cenário inédito de formação de possíveis grupos de oposição em um volume maior do que o historicamente registrado.
Tal cenário é ameaçador, para um governador que pretende se eleger senador e fazer um sucessor em 2022. Ainda mais quando também há a disposição de reeleger o deputado Marcelo Victor para comandar a ALE e ficar na linha sucessória de Renan Filho, cujo vice-governador Luciano Barbosa (MDB) é pressionado a disputar eleição em Arapiraca (AL), segunda maior prefeitura de Alagoas, comandada pelo PSDB do prefeito Rogério Teófilo, opositor de Barbosa.
Legislativo forte
O deputado de oposição Bruno Toledo (Pros) prefere analisar o avanço como uma forma de fortalecimento dos mandatos legislativos, porque o orçamento é matéria de vocação legislativa, mas a participação na execução ainda não ocorre em Alagoas. “Algumas necessidades são melhores diagnosticadas e solucionadas quando o parlamentar consegue indicar isso no orçamento. Com mandatos fortalecidos, acredito que acaba se firmando com mais efetividade, independentemente do gestor que estiver no Executivo. Isso é natural”, disse Toledo.
O também oposicionista Davi Maia (DEM) vê as emendas como de suma importância para o Legislativo. “É a verdadeira independência da instituição e faz valer uma das peças mais importantes de produção do processo que é o orçamento. É um caminho sem volta contra um orçamento fictício, que passará a ser real e o governo terá que cumprir”, disse Maia.
“A importância para o deputado é enorme. Porque a gente tem ideias, vontades e projetos que não conseguem ser executados por essa limitação que a gente tinha. É uma ação bastante democrática, porque a casa, com 27 deputados, representa de forma mais proporcional o povo de Alagoas; cada um na sua bandeira, região e ideologia”, conclui o deputado Cabo Bebeto (PSL), em entrevista ao Diário do Poder.
Para a deputada Jó Pereira (MDB), o orçamento impositivo é um processo democrático que protege comunidades de retaliações políticas. Ela argumenta ainda que cada parlamentar tem sensibilidade e representatividade das necessidades de regiões, municípios e comunidades, podendo contribuir com emendas para solução dessas necessidades.