Olhar de Nise ganha dois prêmios no Festival de Trieste
Obra sobre psiquiatra Nise da Silveira emocionou italianos
Dirigido por Jorge Oliveira e Pedro Zoca, o filme Olhar de Nise foi o grande ganhador de prêmios do 31º Festival de Cinema de Trieste que se encerrou no último domingo (30). O documentário que ficará este mês em cartaz em Brasília, Vitória e Maceió deixou a Itália sob aplausos dos espectadores das cidades de Trieste e Montegrotto, onde a obra da Sétima Arte foi exibida.
O diretor e a produtora Ana Maria da Rocha trazem na bagagem para o Brasil os troféus de melhor filme de Público e o prêmio especial do Juri Oficial, que considerou o filme “uma obra de arte, conduzido com maestria pelo diretor para revelar, com muita habilidade e sensibilidade, a psiquiatria democrática de Nise da Silveira”. O júri, presidido pelo documentarista Juan Carlos Rulfo, foi composto por cineastas e críticos de cinema do México, da Itália e da Colômbia.
O festival exibiu durante a semana de 22 a 30 de outubro oitenta filmes de diversos países, mas apenas trezes deles faziam parte da programação oficial para concorrer os prêmios em cinco categorias: melhor filme, direção, trilha sonora, público e prêmio especial. Dos cinco, Olhar de Nise ganhou dois, sendo, portanto, o filme mais premiado entre os que concorriam na mostra competitiva.
Na cidade de Montegrotto, na região de Vêneto, província de Pádua, Olhar de Nise foi exibido, a convite do prefeito da cidade, para uma plateia de seguidores de Franco Basaglia, conhecido na Itália pelo trabalho revolucionário que desenvolveu com pacientes esquizofrênicos, a exemplo do que fez a Nise no Brasil, precursora desse tratamento, que se rebelou contra o eletrochoque.
PÁREO DURO
O festival de cinema de Trieste é um dos mais importantes da Europa. Presidido pelo chileno Rodrigo Diaz, já está na sua 31º edição. Ele reúne anualmente as produções cinematográficas mais importantes e de vanguarda da América Latina. Durante uma semana, exibiu 80 filmes do Peru, Venezuela, Brasil, México, Colômbia, Argentina, Uruguai, além de retrospectivas de diretores consagrados e produções baseadas em livros de escritores como Gabriel Garcia Márquez. Este ano, o festival apresentou a retrospectiva dos filmes do documentarista mexicano Juan Carlos Rulfo, um dos mais premiados e consagrados diretores do México.
Outro filme brasileiro exibido na mostra também teve suas qualidades reconhecidas pelo júri oficial. Tizuka Yamasaki ganhou o prêmio de melhor diretora pelo filme Encantados, uma película feita em parceria com a Globofilmes, que conta a história de uma lenda indígena na Ilha de Marajó. O prêmio de melhor filme do júri oficial coube ao colombiano Salvador del Solar por Magallanes.
Esse é o quinto prêmio internacional de Olhar de Nise que tem se destacado na Europa e nos Estados Unidos como um dos melhores documentários brasileiros deste ano. O filme tem sido muito requisitado por universidades e entidade psiquiátricas interessadas em conhecer a obra da Nise da Silveira, narrada por ela própria, numa entrevista inédita gravada dois anos antes da sua morte e só agora levada às telas do cinema. Além do reconhecimento cinematográfico da obra, Olhar de Nise chama a atenção do público porque apresenta, pela primeira vez, as pinturas dos pacientes do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro.
No filme, Almir Mavignier, artista plástico, conta como orientou os pacientes que tinha vocação para pintura e modelagem no trabalho de arteterapia introduzido pela Nise no manicômio com a sua ajuda. O pintor, que mora na Alemanha, há mais de 70 anos, conta a história da descoberta desses artistas em entrevista à equipe do filme em Hamburgo.
Circuito
Depois da incursão este ano pelos principais festivais de cinema da Europa e dos Estados Unidos, Olha de Nise chega ao circuito comercial. Em novembro agora ficará em cartaz em Brasília, Vitória e Maceió. Em dezembro no Rio de Janeiro e outras praças que ainda serão programadas pelos exibidores.