Arte contra abusos

Nise da Silveira poderá ter nome no ‘Livro de Heróis e Heroínas da Pátria’

Alagoana combateu eletrochoque e confinamento, ao usar arte nos tratamentos psiquiátricos

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Nise da Silveira utilizou a arte para revolucionar o tratamento psiquiátrico. Foto: Reprodução/Casa das Palmeiras

A médica psiquiatra alagoana, Nise da Silveira, poderá ter seu nome inscrito no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. A homenagem foi aprovada pela Comissão de Educação (CE) do Senado, e será analisada pelo Plenário.

A relatora da homenagem, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), ressaltou que Nise lutou contra práticas como o eletrochoque e o confinamento e inseriu a arte nos tratamentos de transtornos mentais.

“Não há dúvidas que a homenagem é justa e meritória. Inscrever o nome de Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um ato de reconhecimento dessa corajosa médica, que dedicou sua vida a transformar uma realidade de abusos e confinamentos”, disse a senadora maranhense.

O reconhecimento a Nise da Silveira, proposto pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) por meio do PL 6.566/2019, já passou na Câmara dos Deputados e, caso seja aprovado no Plenário do Senado, seguirá para a sanção da Presidência da República.

Revolução pela arte

O presidente da Comissão de Educação, senador Marcelo Castro (MDB-PI), que também é psiquiatra, também destacou que o legado de Nise da Silveira para a profissão foi “revolucionário”.

Pioneira da terapia ocupacional, Nise da Silveira mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil. Ela também ganhou projeção internacional, tendo seu trabalho reconhecido por outros psiquiatras mundo afora, como o suíço Carl Gustav Jung.

Ao começar a atuar, na área na década de 1940, Nise rebelou-se contra os métodos agressivos então aplicados a pacientes com transtornos mentais, como o eletrochoque e o confinamento, entre outros.

Nise colocou-se contra os tratamentos agressivos enquanto trabalhava no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Avessa ao eletrochoque, lobotomia, camisa de força e isolamento, foi transferida para a área de terapia ocupacional como forma de punição. Mas foi lá que a psiquiatra encontrou o espaço necessário para desenvolver métodos humanizados.

Um dos tratamentos desenvolvidos por Nise foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente a pintura. A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação.

Muitas destas obras estão hoje expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Esses trabalhos também já foram expostos no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

A Casa das Palmeiras, aberta por Nise em 1956 com foco em reabilitar sem internação, também investiu no processo criativo e afetivo dos pacientes. Além da arte, o contato com gatos e cães foi outro tratamento introduzido por ela no Brasil. Os pacientes podiam cuidar de animais nos espaços abertos do centro, estabelecendo vínculos afetivos.

A psiquiatra morreu no Rio de Janeiro em 1999, aos 94 anos. Entre 1971 e 2014, recebeu 29 homenagens, entre títulos, medalhas, prêmios e diplomas. A partir de seu trabalho, outras 16 instituições foram criadas. (Com informações da Agência Senado)

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