Os Sessenta de Brasília

Ninguém é mais apaixonado por Brasília que Orlando Brito , fotógrafo de 20 presidentes

Ele fotografa presidentes desde Castelo Branco, quanto tinha apenas 16 anos de idade

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Orlando Brito, ícone do fotojornalismo brasileiro, era um apaixonado por Brasília - Foto: Dênio Simões.

Brasília é uma cidade bonita, leve e boa para se fotografar. A sentença é nada mais nada menos que de Orlando Péricles Brito de Oliveira, 70 anos, um dos mais conhecidos e premiados fotógrafos do Brasil, que garante: “Saio para clicar a capital toda semana. Duvido que exista alguém mais apaixonado por Brasília que eu”.

Orlando Brito integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

Nascido em Janaúba (MG), em 1950, desde menino Orlando Brito convive com Brasília. Seu pai foi vereador do município ao mesmo tempo em que Juscelino Kubitschek era governador de Minas Gerais. Durante a campanha presidencial de 1955, JK anunciou que, se eleito, construiria a nova capital.

O fotógrafo conta que seu pai ficou entusiasmado com a ideia e que, desde então, se preparou para a mudança. “JK ganhou e começou aquela saga. Antes mesmo da inauguração, em 1956, vim para Brasília com meu pai. Minha mãe ficou em Minas e só veio dois anos depois”, recorda.

Ao comentar sobre o início do que chama de “uma nova etapa do Brasil”, Orlando Brito conta um fato curioso. A foto histórica que marcou a primeira missa celebrada em Brasília, no que hoje é a Praça do Cruzeiro, conta com a presença de algumas crianças brincando. Entre essas crianças estava Orlando Brito. “Isso é interessante porque mostra minha relação com a cidade. Eu sempre estive por aqui. Já morei no Rio de Janeiro, em São Paulo, mas nunca deixei de ter residência aqui”, afirma.

A carreira de sucesso de Orlando Brito não foi um acaso. Trabalhou desde muito cedo até alcançar a excelência na fotografia. Foi contínuo na sucursal do jornal Última Hora, do icônico jornalista Samuel Wainer. Serviu café antes de começar a trabalhar na revelação de filmes como laboratorista. Em 1966, como no roteiro de bons filmes, teve sua grande chance. O presidente Castelo Branco foi visitar o arcebispo de Brasília, Dom José Nilton. “O jornal estava sem seus fotógrafos e aí disseram: ‘pede para o menino ir lá fazer a foto’. Eu tinha 16 anos e minha primeira foto foi de um presidente da República num período de Ditadura Militar”.

Esse período tenebroso da história do Brasil também é lembrado pelo fotógrafo, que chegou a ser preso por conta de seu trabalho. De acordo com Orlando Brito, lhe tomaram o filme e não o deixaram levar para a redação. “Não sofri nenhuma agressão física, mas era um tempo terrível. A gente até fotografava muita coisa, mas poucas eram publicadas por conta da censura”, relata.

No decorrer de sua carreira, o fotógrafo clicou quase 20 presidentes da República, visitou mais de 60 países, ganhou diversos prêmios e marcou em seu currículo fotos como a que fez do presidente Jair Messias Bolsonaro. Numa ocasião, Bolsonaro saiu do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional a pé, atravessando o Eixo Monumental. Durante o caminho, no asfalto ensolarado, uma frase pintada no chão: “Lula Livre”. “Impressiona a reação das pessoas a esta imagem. Algumas diziam, nas redes sociais, que o Lula continuava resistindo. Outras, no entanto, diziam que Bolsonaro havia ganho as eleições e estava passando por cima do Lula. E acho que a graça de fotografar um fato seja essa”, diz.

Pai da Carolina e avô do Théo e do Tomaz, Orlando Brito lista alguns lugares de sua preferência em Brasília. O primeiro é o Templo da Boa Vontade que, segundo ele, é de beleza rara. A Praça dos Três Poderes também encanta o fotógrafo. “Gosto de pegar o carro e subir o Eixo Monumental, contemplando cada obra e espaço presentes nele. Brasília é hospitaleira e seus moradores precisam aproveitar a cidade, que também é muito humana. Me encanta a bravura do JK, que nos deu essa cidade tão maravilhosa”, finaliza.

Orlando Brito está entre as crianças que aparecem brincando nesta foto de 1956, na primeira missa de Brasília.

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