Entrevista

‘Não adianta plantar 10 milhões de árvores sem inclusão social’, diz o presidente da Caixa

Em entrevista exclusiva, Pedro Guimarães destacou também o alcance da Caixa nos menores municípios

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Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa. Foto: Isac Nóbrega

Esta semana, a Caixa lançou uma série de iniciativas em torno de práticas ESG, voltadas à responsabilidade social, ambiental/climática e de governança. Além de financiamentos específicos a empresas que atuam nesse setor, o banco também aposta num “selo” para municípios que adotem essas boas práticas.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Poder, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, explica que esses esforços têm efeito prático na vida do cidadão, além de impactar também as empresas e até os municípios brasileiros.

No ano passado, por exemplo, a Caixa aderiu ao programa Adote um Parque, do Ministério do Meio Ambiente, e se comprometeu a proteger 3,5 milhões de hectares de floresta amazônica. À época, Guimarães classificou o programa como “o maior programa de preservação ambiental do mundo” e agora a Caixa lançou uma série de iniciativas em torno do tema.

“Muito importante destacar o que já foi feito. Primeiro, mais que o Adote um Parque, é o Caixa Florestas. Já fizemos 11 programas dentro do Caixa Florestas. Nós temos 96 milhões de reais de investimento; beneficiando 1,86 milhões de pessoas. Foram preservadas 2,6 mil nascentes de rios, 1,1 milhões de árvores plantadas, tudo em 119 municípios, de nove estados. Isso já aconteceu”, comemorou.

Guimarães, na feira de Campina Grande (PB), durante as visitas Caixa Mais Brasil. Foto: Caixa

O presidente da Caixa ressaltou também o projeto de fogões ecoeficientes na Bahia e no Tocantins, que difundiu essa tecnologia na região. “São 7 mil fogões. [Na Bahia e Tocantins] utilizam fogão a lenha. Impossível de ter dentro de casa, mas é o que as pessoas têm”, lamentou. “Ficam com carvão nas paredes, [ficam] cobertas”, apontou Guimarães, que explica que a tecnologia permite beneficiar a saúde das pessoas, além de preservar a madeira. “Eu fui. Eu construí”, contou Guimarães, ao relatar o impacto dos fogões ecoeficientes para as regiões pobres desses estados.

“Não acredito em preservação do meio ambiente sem inclusão. Não adianta plantar 10 milhões de árvores, sem inclusão social”, afirmou Pedro Guimarães. “Essa conjunção entre preservação da natureza, plantando árvore, por exemplo, ou recuperando nascentes de rios, mas realizando inclusão social. Sem inclusão social não acredito na preservação”.

O presidente da Caixa explicou que a atuação do banco público é fundamental em diferentes frentes da administração. Além de ser o banco responsável pela execução de diversos programas sociais federais, como o Casa Verde e Amarela e o Auxílio Brasil, a Caixa estrutura outros diversos programas de financiamento de infraestrutura básica, como saneamento e energia elétrica, no nível estadual e municipal.

“Já participamos de 12 projetos de saneamento básico, R$3 bilhões de investimento, 5 milhões de pessoas beneficiadas”, ressaltou Guimarães ao Diário do Poder. Para ele, o alcance da Caixa permite que o banco público possa oferecer apoio até aos menores municípios; com produtos financeiros, como linhas de crédito ou financiamento, mas também com serviços técnicos especializados.

“[Somos] muito mais forte nos municípios menores. A Caixa é muito menor, relativamente, nos maiores que nos menores municípios” disse Guimarães, que explica: “nos [cerca de] 5.400 municípios menores a Caixa é o maior banco”.

O presidente da Caixa (à direita) visita o processo produtivo da Prime Seafood, no Sul da Bahia. Foto: Caixa

Essa conexão é parte do motivo pelo qual o banco lançou também o Selo Município + Azul Caixa, para municípios que observam as práticas de responsabilidade social e ambiental. O selo reconhece o nível de maturidade dos municípios nos eixos ambiental/climático, social e de governança. Quanto melhor a avaliação, melhores as condições de empréstimos, financiamentos e até da assistência técnica para os municípios.

“Da mesma forma que temos na habitação, aqui é a mesma coisa. A gente faz uma avaliação dos municípios”, explicou Guimarães. E aqueles municípios que obtenham os selos “terão condições diferenciadas”, explicou. São nível Diamante (100 ponto), Safira (80), Topázio (70) e Cristal (60), detalhou.

A ideia é oferecer condições melhores a municípios e também empresas dedicadas a projetos de desenvolvimento sustentável, como de tratamento de resíduos, reciclagem ou de geração de energia renovável. Essas empresas agora têm acesso a uma nova linha de crédito.

“Exemplo claro: placa solar. A aquisição reduz em 80% a 90% de custo na energia elétrica”, disse Guimarães ao destacar o prazo de carência de dois anos oferecido pela linha de crédito ESG Ecoeficiência. “Permite que as empresas [de placas] façam investimentos e capitalizem durante dois anos para começar a pagar depois”. “Isso a gente viu no agro. Em especial para os pequenos produtores. Pequenos produtores chegam a ter gastos de 40% só com energia elétrica”, alertou o presidente da Caixa.

Pedro Guimarães explica que a atuação de uma das principais instituições financeiras do País é crucial para ajudar na transição para uma economia de baixo impacto ambiental. “As empresas investem [na responsabilidade ambiental, social e de governança] e tem taxas menores. Estamos induzindo todos a fazerem isso”.

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