Oportunismo

Morto em dezembro, Niemeyer continua fazendo projetos públicos sem licitação

Parentes usam grife do arquiteto para ganhar contratos sem licitação

acessibilidade:

Reportagem de Marcelo Bortoloti para a revista Época revela que os herdeiros do arquiteto Oscar Niemeyer usam a reputação do arquiteto, que morreu em dezembro do ano passado, para ganhar projetos de obras públicas sem licitação.

“Até os 104 anos de idade, Niemeyer continuou assinando contratos com a União, Estados e municípios, sempre com base na lei que permite a isenção de concorrência para profissionais reconhecidos como ele”, destaca a reportagem, lembrando que essa atitude sempre foi malvista pelos colegas. Mas a grife de Niemeyer continua produzindo novos projetos ? e a prerrogativa de fazer negócios com o poder público sem participar de licitação foi, ao que parece, estendida a seus herdeiros. Desde dezembro do ano passado, sua neta Ana Elisa Niemeyer, de 62 anos, e o sócio Jair Valera já foram contratados para elaborar pelo menos três projetos com dispensa de concorrência pública, no valor global de R$ 3,5 milhões, nos Estados de Rondônia, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

?Niemeyer tinha um talento excepcional, não era um arquiteto qualquer. O Brasil teve a sorte de contar com ele, e é positivo que a lei dê esse espaço para casos assim?, diz o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sérgio Magalhães. ?Mas a dispensa é para um profissional, não para um currículo associado a esse nome.?

A neta de Niemeyer, Ana Elisa, que está ganhando contratos sem licitação usando a grife do avô, diverge. Ela afirmou à revista que “qualquer um com longa experiência como a nossa tem o mesmo direito?. Além dela, trabalhavam direta ou indiretamente com Niemeyer outros três netos, três bisnetos e um sobrinho. A Fundação Oscar Niemeyer tem em arquivo 151 projetos inéditos, em estágios diferentes de elaboração. Alguns são apenas croquis, outros têm até maquete. Também existem projetos nas mãos de colaboradores e familiares. Boa parte tem potencial para se transformar em obras reais ? possivelmente, com dispensa de licitação ? e há muitos gestores públicos interessados.

Reportar Erro