Os Sessenta de Brasília

‘Marreta’ chegou a Brasília sem saber o que aconteceria e encontrou uma vida

"A massagem me deu tudo que tenho", diz o pioneiro que cuidou, por exemplo, de Mané Garrincha

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Raimundo Ribeiro Campos, o massagista Marreta, com a bandeira da terra que adora: "Essa terra abriu esses caminhos todos para mim. Eu saio daqui é nunca mais" - Foto: Dênio Simões.

Cearense, mas candango. Apaixonado por futebol, e talentoso, garante, Raimundo Ribeiro Campos – ou simplesmente Marreta – deixou o serviço militar e, acompanhado do pai, veio a Brasília para dar sua contribuição à nascente capital. Encontrou uma vida.

“Cheguei em 1960, não tinha esporte, só tinha lama e poeira. Eu fui para o Defelê (DFL), mas tive uma luxação. Como eu já trabalhava na Novacap, fui ser auxiliar de massagista. A massagem me deu tudo que eu tenho hoje”, relembra o pioneiro.

Raimundo Ribeiro Campos, o massagista Marreta, integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

O embrionário futebol do novo Distrito Federal dava os primeiros passos enquanto esporte profissional. Desde 1957 eram disputados os torneios, sobretudo entre os times formados por operários das empresas responsáveis pela edificação da cidade.

Chegado com uma Brasília ainda recém-nascida, Marreta acompanhou o desenvolvimento e é memória viva do desporto candango. “Eu vi todos os times surgirem, trabalhei com quase todo mundo dentro do futebol daqui”, diz ele.

As mãos de Marreta já ajudaram na integridade de certas pernas um tanto quanto… tortas. Quando Mané Garrincha, no final da carreira, vestiu a camisa do Centro Universitário de Brasília (hoje UniCEUB), lá estava o Raimundo na preparação física, memória da qual muito se orgulha.  Participou da criação de diversas associações esportivas, e esteve presente quando a bola de futebol foi trocada por uma maior, laranja.

Já se tornara hábito no ginásio da AsCEB ver uma toalha branca voando alto a cada ponto do Brasília, franquia tricampeã do Novo Basquete Brasil (NBB) e da Liga Sul-Americana e campeã das Américas. O costume, porém, veio graças a um momento de superação. “O time nosso teve uma queda tremenda; eu era o pai dos caras. Num jogo contra o Flamengo estava todo mundo com a cabeça baixa, e eu os chamei e disse que era para levantar”, conta o massagista.

Quando Arthur Belchor, filho da cidade, hesitou em arremessar de fora do garrafão – sua especialidade -, Marreta não se conteve: “Daí dá!”, gritou, do banco. “Ele arremessou, a bola caiu e aí entrou no imaginário”, lembra Marreta, entre risos.

A dedicação ao esporte candango não morreu com a dissolução da franquia, em 2017. “Nossa luta é essa, quero expandir o esporte em Brasília”, crava. A última das lutas gerou a reforma do antigo estádio do Defelê – clube que defendeu – o primeiro palco desportivo da nova capital.

Brasília vive sua história nas histórias de Marreta. Às vésperas dos 80 anos, transformou uma tarde anual de confraternização entre amigos em evento oficial do calendário do DF. O sábado anterior ao Natal é o dia da Pelada do Marreta.

Que figura, o Raimundo. “Eu agradeço ao esporte, aos meus amigos. Eu sou feliz”, comemora o cearense-candango amante da nova capital. “Brasília é tudo; eu saí do Exército e vim para cá sem nem saber o que ia acontecer. Essa terra abriu esses caminhos todos para mim. Eu saio daqui é nunca mais”, declara-se à terra.

Marreta cercado de algumas das melhores recordações de sua vida no esporte e em Brasília – Foto: Dênio Simões.

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