Os Sessenta de Brasília

Marcelo Petrarca, o chef que reflete em seus pratos a diversidade de Brasília

Para o gaúcho que vive na capital desde o dez dias de vida, “a graça de Brasília é ter espaço para todo tipo de culinária"

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À frente dos cobogós do seu restaurante Bloco C, o chef Marcelo Petrarca exibe a bandeira da Brasília que tanto o orgulha - Foto: Dênio Simões.

Expressões como embaixo do bloco, na banca da quadra ou subir em árvores podem parecer estranhas a quem não é de Brasília. Guardar o rodo ou a vassoura com o cabo para fora do cobogó, então, não deve dizer muita coisa para quem não cresceu na capital. Mas para o chef Marcelo Petrarca, as lembranças da infância vivida na 316 Sul são como tempero em suas conversas com clientes.

Nascido em Pelotas, no Rio Grande do Sul, Petrarca chegou a Brasília com apenas 10 dias de idade. Cresceu em uma quadra de apartamentos funcionais, o que lhe permitiu conviver com pessoas de diversos Estados do Brasil. “Meus primos do Sul não têm amigos cearenses, por exemplo. Já eu e meus irmãos temos amigos do Brasil inteiro e isso só foi possível por causa de Brasília”, conta, orgulhoso.

Marcelo Petrarca, chef admirado na capital, integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.

Essas amizades lhe mostraram uma outra particularidade da nova capital, a de chamar os pais dos amigos de “tio” e “tia”. Petrarca acredita que isso só foi possível pelo fato de as famílias não virem completas para Brasília. “Era comum amigos não terem primos por aqui. Aí acabava que o vizinho de porta virava parte da família. Eu costumo dizer que tenho várias famílias em Brasília e até hoje chamo os pais dos meus amigos de tio e tia”.

Apaixonado por futebol, Petrarca relembra o dia em que encontrou o Pelé tomando picolé na banca de sua quadra. “Ele morou lá na quadra quando foi ministro do Esporte e ainda namorava a Xuxa. Numa manhã, encontrei o rei do futebol tomando picolé na banca de revista. Imagina a alegria que foi para mim. Só Brasília mesmo para oferecer isso”, relata.

Fachada do restaurante de Marcelo Petrarca – Foto: Google.

Flamenguista, o chef chegou a jogar profissionalmente pelo América, no Rio de Janeiro. Deixou os gramados para retornar a Brasília depois do falecimento do pai, em 2007. Incentivado pela irmã, cursou gastronomia no IESB e, assim, se apaixonou pelas panelas. Dedicou um ano de sua vida para aprimorar seus conhecimentos em escolas renomadas da Espanha e Itália. Ao regressar ao Brasil, abriu o Restaurante Bloco C, na 211 Sul, em homenagem a Brasília.

De acordo com Petrarca, que tem outros dois restaurantes e um buffet, o cardápio do Bloco C foi pensado para atender à variedade culinária presente na capital. “A graça de Brasília é ter espaço para todo tipo de culinária. A diversidade que fez Brasília precisa ser refletida em nossos pratos. E é isso que buscamos”, afirma, listando pratos como strogonoff e filé com risoto de queijo e rapadura para mostrar a variedade em sua cozinha.

Aos 32 anos, Petrarca é casado, tem uma filha e voltou a morar na 316 Sul. “Eu vou passar essa coisa do ‘tio’ para a Bela. Quero que ela cresça e faça amizades fortes assim como eu fiz, com envolvimento entre as famílias. Os amigos da quadra são amigos que ficam para o resto da vida. Essa é uma coisa boa de Brasília que eu espero passar a ela”, diz, com um sorriso no rosto.

Para os 60 anos de Brasília, o renomado chef espera que o brasiliense demonstre mais amor pela cidade que, segundo ele, “morre na seca e com uma gota d’água revive como num passe de mágica”. “Temos de defender mais Brasília. Amar mais Brasília. Valorizar mais nossa gente, nossa miscigenação. Essa é nossa grande riqueza”, finaliza.

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