É massa, e para todos

Maceió se agiganta como destino turístico seguro em plena pandemia

Setor turístico e autoridades buscam unir belezas naturais, segurança sanitária, modernidade e visão social

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Visitantes formam fila para garantir fotos na cadeira gigante, na orla de Maceió. Foto: Davysson Mendes/Secom Maceió

Principal fonte de arrecadação municipal e garantia de renda para parte importante da população mais pobre da capital alagoana, o turismo vive um momento de intensa retomada em plena pandemia de covid-19, em Maceió. A cidade de praias urbanas paradisíacas e de um povo que preserva tradições que cativam visitantes com gastronomia, artesanato e cultura foi contemplada com a união de autoridades públicas e de trabalhadores e empreendedores do setor turístico. Estes agentes investiram e ainda investem em segurança sanitária e novos atrativos, como os pontos “instagramáveis” da campanha “Maceió É Massa”, lançada pela Prefeitura de Maceió.

Os interesses sociais e econômicos pela retomada das atividades turísticas uniram-se ao desejo dos visitantes de deixarem suas casas em segurança, após a vacinação reduzir as mortes pelo novo coronavírus. E este ambiente ideal, emoldurado pelos encantos de seus coqueirais e do mar cristalino em tons de verde claro e azul turquesa, deu ao destino turístico projeção comparável à cadeira gigante fincada no cartão postal da Ponta Verde pela equipe do prefeito João Henrique Caldas, o “JHC” (PSB).

A secretária do Turismo de Maceió, Patrícia Mourão, expôs ao Diário do Poder os números que indicam a dimensão deste momento de retomada, e destaca que Maceió tem se consolidado cada vez mais no cenário do turismo nacional.

Casal registra visita à orla de Maceió, durante a pandemia. Foto: Itawi Albuquerque/Secom Maceió

“Somente no réveillon, registramos mais de 92% de ocupação hoteleira, número maior que o registrado em 2019 (73,44%) e 2020 (78,38%). Além disso, temos despontado entre os destinos mais procurados nas principais plataformas de viagens, como a Decolar, Booking e Hotel Urbano. Em uma pesquisa recente do HUB (Hotel Urbano) Maceió foi um dos destinos mais vendidos em 2021 e segue na liderança em vendas para 2022 e 2023”, destaca Mourão.

O prefeito JHC avalia que a natureza que presenteou a cidade com tanta beleza não basta para garantir um bom desempenho do setor turístico. O turismo é responsável pela maior fonte de arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) no município, a ser revertido em políticas públicas. E e o prefeito destaca ações como a revitalização de pontos de visitação, com a criação de novos atrativos para divulgação, como a cadeira gigante da Ponta Verde, que ampliou em 6.000% as buscas por Maceió na internet, no início deste ano de 2022, de acordo com o Google Trends.

“Fomos agraciados por Deus com tantas belezas naturais, mas cabe ao poder público cuidar e levar esse destino fantástico que é Maceió para o conhecimento de todo o mundo. É isso que estamos fazendo desde o início da nossa gestão. Revitalizamos diversos pontos da cidade, cuidamos do nosso povo e trouxemos elementos que atraem pessoas para cidades do mundo inteiro, como os espaços criativos. Esses ‘pontos instagramáveis’ são um sucesso e tem auxiliando na retomada do turismo na nossa capital, somados, claro, a uma série de ações da Prefeitura. Estamos muito felizes com os resultados que nossos esforços, inclusive na vacinação, têm trazido para Maceió, que é, de fato, a cidade de todos nós”, disse o prefeito de Maceió, ao Diário do Poder.

Multidão acompanha pôr do sol no Mirante Natural da Santa Amélia, em Maceió, em plena segunda-feira. Foto: Davi Soares

Novos olhares

Outro efeito da campanha Maceió É Massa foi a oportunidade dada ao maceioense de enxergar melhor as belezas escondidas pelo cotidiano e pela visão tradicional focada apenas para os já batidos cartões postais e a área nobre da cidade.

O simples ato de a Prefeitura instalar um balanço gigante como “ponto instagramável”, diante de um cenário pouco explorado na periferia de Maceió, no Mirante Natural da Santa Amélia, passou a atrair pequenas multidões diariamente, formadas por vendedores ambulantes, ônibus de turismo, fotógrafos, turistas e nativos, que exibem nas redes sociais a paisagem, tão exuberante quanto óbvia, da Lagoa Mundaú, que já existia antes mesmo de inspirar o nome do estado de Alagoas.

O projeto instalou até uma capela, próxima de onde, há poucos anos, havia os barracos “invisíveis” da vila de pescadores de Jaraguá. Hoje o local está disponível para agendamento, praticamente gratuito, de casamentos à beira do mar, junto ao poder público municipal.

Primeiro casamento da Capelinha do Jaraguá, em Maceió. Foto: Itawi Albuquerque/Secom Maceió

Impactos da pandemia

Além dos resultados econômicos e da satisfação oferecida aos visitantes, o setor turístico tem o poder de transformação social, ainda mais no contexto da pandemia e de uma cidade impactada por uma tragédia geológica que expulsou milhares de maceioenses de suas casas, em cinco bairros afetados pelo desastre provocado pela atividade de extração de sal-gema pela Braskem. O maceioense também desfruta do capital gerado pelo turismo, seja com emprego e renda, com maior arrecadação para financiar políticas sociais ou com a oportunidade de desfrutar dos atrativos turísticos cobiçados por visitantes de todo o planeta.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis de Alagoas (ABIH-AL), André Santos, destaca que o setor hoteleiro até 2019, individualmente, já era o setor que mais arrecadou para a Prefeitura de Maceió, através do ISS. E ainda exalta que, falando em IPTU, a diferença é ainda maior comparando a outros setores.

“Vínhamos contribuindo anualmente para a Prefeitura de Maceió, em torno de R$ 20 milhões líquidos, em 2018. Em 2019, chegamos a cerca de R$ 21 milhões pagos. Em 2020, não temos esses dados. Mas, pelo fato de termos passado aproximadamente de seis a oito meses fechados, desfavoreceu, logicamente, o recolhimento de ISS. Houve uma queda. Éramos o primeiro colocado de Maceió, e caímos muito”, disse André Santos, antes de ressaltar que o setor vive com entusiasmo a retomada.

Barraca do Seis Horas e da Ozana resistiu à pandemia com criatividade e solidariedade. Foto: Divulgação Instagram

Resistência e solidariedade

O Diário do Poder não conseguiu obter números de arrecadação do setor turístico entre 2020 e 2021. Mas um exemplo do impacto dessas perdas é a história de luta do vendedor ambulante Erisvaldo Nascimento. Conhecido como “Seis Horas”, o baiano que há 12 anos aluga cadeiras e guarda-sóis de seu bar ao ar livre na praia da Ponta Verde teve que recorrer a uma campanha para garantir seu sustento e de mais cinco pessoas com quem trabalha, quando a pandemia impôs o fechamento das praias.

A corrente do bem propôs: “Alugue sua cadeira hoje e a desfrute depois”. O apelo ganhou projeção internacional e garantiu R$ 23 mil para suprir a renda para os trabalhadores da Barraca do Seis Horas e da Ozana, que ele monta e desmonta diariamente, exceto às quintas-feiras. Hoje, ele tem precisado organizar bem as reservas de suas cadeiras e guarda-sóis, para garantir a retribuição da promessa feita àqueles que compraram os vouchers solidários com validade indeterminada.

Hoje, Seis Horas garante que Maceió vive uma explosão do número de visitantes, bem incomum até para esse momento de alta temporada. “Hoje está muito maior o movimento. Na alta temporada, o fluxo mais intenso é de 15 de dezembro a 15 de janeiro. Janeiro é quando os visitantes se unem à população nativa de férias. Mas está se estendendo. E muito tem relação com esse projeto Maceió É Massa”, conclui o vendedor ambulante. 

Há 21 anos, o baiano que vivia em São Paulo chegou a Alagoas para trabalhar em União dos Palmares, transferido de uma multinacional que fabricava achocolatados. Mas, há 12 anos, passou a viver do que vende na orla marítima de Maceió. Começou vendendo água nos dias de folga da fábrica. Depois aliou-se a um dono de uma barraca, e acabou comprando-lhe toda a estrutura desta barraca, que comanda hoje, ao lado de sua esposa, com o nome de “Barraca do Seis Horas e da Ozana”.

Ele lembrou ao Diário do Poder que, em seu primeiro dia de trabalho após comprar a barraca, vendeu apenas um refrigerante e bateu o carro no caminho para a capital. Mas persistiu. Hoje mora próximo ao seu local de trabalho e e tem uma casa em União dos Palmares. Nesta quarta-feira (26), não abriu sua barraca, explicando que estava pintando umas cadeiras e que precisava se preparar para garantir que dará seu melhor, ao reabrir sexta-feira (28), respeitando todos os protocolos sanitários.

“Toda vez que saio da praia, à noite, para minha casa. No outro dia, quero dar meu melhor. Já espero isso há 12 anos. Mas acredito que, sexta-feira, volto com tudo esperando esse momento que aguardo há 12 anos. Serviço de praia, é árduo. Mas se torna mais leve quando se ama o que faz. Além da questão financeira, fica o aprendizado, de conhecer famílias novas, pessoas novas, trocar ideias e relatos”, conclui Seis Horas, que já ofereceu energia solar nos guarda-sóis, em parceria com o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), e tem projetos como a parceria com autoridades para busca de crianças perdidas, e outro para acessibilidade.

Vista da Lagoa Mundaú no Mirante da Santa Amélia, na periferia de Maceió. Foto: Davi Soares

Perdas e desafios

As dificuldades enfrentadas pelo vendedor ambulante também foram sentidas no setor hoteleiro, como relata o presidente da ABIH de Alagoas, André Santos. Além de terem sido fechadas as empresas, a ocupação hoteleira foi muito baixa durante o ano de 2020. O que prejudicou muito a arrecadação para a Prefeitura de Maceió e também resultou em muitas demissões.

“Hoje, eu diria até que estamos quase com o mesmo quadro. Em torno de 10% a 15% não foram recontratados. Mas a gente vem crescendo com entusiasmo. O setor hoteleiro é entusiasmado, dedicado e persistente em atingir o que ele quer. E, independente das circunstâncias que já passamos e estamos passando ainda, a gente continua nessa luta para termos um produto com bastante qualidade para nosso turismo”, disse Santos.

Ele lembra que o setor ainda vive muitos problemas decorrentes da pandemia. A exemplo dos valores médios das diárias, que ainda não chegaram ao patamar que estávamos trabalhando, em 2019.

“E isso é terrível, porque tudo aumentou. E a recuperação da hotelaria é lenta; não é imediata. Não conseguimos vender o mesmo apartamento duas vezes no dia. Mas existem expectativas bastante favoráveis que se encerre esse ciclo com essa cepa da Ômicron. Maior exemplo desse entusiasmo do nosso setor é que temos dados de 19 hotéis em construção ou próximo a serem abertos em Alagoas. A grande maioria é de portes médios a grandes, o que fortalecerá o destino não apenas na capital, comprovando nosso profissionalismo”, conclui.

Para André Santos, os bons resultados que impulsionaram o destino Maceió também são frutos de uma divulgação muito forte nos meios que trabalham diretamente com o turismo, em uma parceria com o estado de Alagoas, junto a várias operadoras, empresas aéreas e parcerias.

“Não se atingiu a ocupação que nós desejávamos, devido a essa nova onda, que provocou uma estagnada. Porque o perfil do brasileiro mudou um pouco. Devido à pandemia, tivemos uma mudança do processo. Antigamente, o turista já fazia reserva antecipadamente. Já tínhamos, meses antes da temporada, uma segurança. Agora, por causa da pandemia, só estão fazendo reserva em cima da hora. E, quando haveria um fluxo maior, em janeiro, não teve esse resultado por causa dessa nova cepa da covid-19”, avalia o presidente da ABIH de Alagoas.

Ele ainda destaca a modernidade da rede hoteleira de Maceió, com a maioria de hotéis novos ou que atualizaram suas estruturas. E também a melhoria na segurança pública, definição de protocolos sanitários, opções de lazer, praias e restaurantes, o que leva o turista a, por exemplo, colocar nas pesquisas a gastronomia de Maceió como um item altíssimo e de surpresa.

“[A qualidade que temos hoje] é um reflexo do turismo de muitos anos, que faz com que se invista cada vez mais na qualificação da mão de obra, no produto ofertado para o turista”, concluiu.

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