Jogo de automedicação viraliza em rede social e preocupa profissionais da saúde
‘Roleta russa de medicamentos’ cresce entre os jovens e preocupa profissionais da saúde

A adesão de jovens à prática da ‘roleta russa de medicamentos’, envolvendo doses elevadas de diferentes medicamentos, preocupa profissionais de saúde e educadores. O jogo se propaga nas redes sociais. Adolescentes, em sua maioria saudáveis, competem entre si para ver quem pode ingerir a maior quantidade de medicamentos, sem passar mal. Ao Diário do Poder, a psicóloga Mônica Falcão Caldas, afirmou que o resultado poder ser “desastroso e trágico”.
“Os jovens, no intuito de obter aprovação e valorização por parte do grupo de amigos tentam demonstrar que são destemidos e onipotentes, comportamentos característicos da adolescência”, explicou a especialista.
E completou: “A saúde mental dos adolescentes, em geral, está comprometida. Os pais e responsáveis devem ficar alertas, quanto às atividades online de seus filhos, dialogando, sempre que possível, sobre os perigos da automedicação”.
Em maio deste ano, na cidade de Ohio, EUA, um adolescente de 13 anos morreu de overdose, após participar de um desafio viral no TikTok. O jovem tomou mais de 14 comprimidos de um antialérgico como parte do Desafio Benadryl, que consiste em ingerir grandes quantidades do medicamento e filmar como o corpo reage.
Jacob Stevens estava acompanhado de um grupo de amigos, que começou a gravar assim que o menino tomou os remédios. Ao engolir as pílulas, seu corpo começou a se contrair. Segundo o site de notícias, Stevens foi levado para o hospital, onde ficou internado por seis dias, mas acabou tendo morte cerebral declarada pelos médicos. Sua família optou por desligar os aparelhos que o mantinham vivo.
Walter Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e conselheiro federal de Farmácia pelo estado do Pará, faz um apelo enfático para conscientizar os jovens.
“O uso indiscriminado de medicamentos, por si só, pode levar a efeitos colaterais graves e interações medicamentosas perigosas. Mas, nesse caso, onde o objetivo é atingir o consumo em altíssimas quantidades, esses problemas são potencializados, assim como o risco de intoxicação e overdose. Em muitos casos, os jovens não estão cientes do quanto essa prática imprudente pode ser arriscada”, informa Walter.
O Conselho Federal de Farmácia alerta que os medicamentos historicamente constituem a principal causa de intoxicação no Brasil, batendo os agrotóxicos, os raticidas e até mesmo produtos de uso domiciliar. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, apontam que eles foram responsáveis por 103.648 ou 58,3% dos 177.766 casos de intoxicação registrados no país em 2022. De todas as vítimas, 28,8 mil ou 27,85% eram adolescentes e jovens, com idades entre 10 e 19 anos.
Outro aspecto que envolve as intoxicações por medicamentos e merece destaque, segundo o presidente do CFF, representa uma verdadeira tragédia cotidiana.