Direita x Esquerda  

Infectologista renomado expõe divisão ideológica nos CRMs do Brasil

Franciso Cardoso mapeou a distribuição ideológica na composição das diretoria de CRMs espalhados pelo Brasil.

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O infectologista Francisco Cardoso durante contribuição à CPI da COVID - Foto: Agência Câmara

As eleições dos Conselhos Regionais de Medicina cravaram vitória do segmento alinhado com a política de direita em 21 unidades da federação. Ao Diário do Poder, o infectologista, Francisco Cardoso, que presidiu a Associação Nacional dos Médicos e se destacou ao defender o ‘tratamento precoce’ contra a covid-19 no auge da pandemia, esclareceu como se dá a distinção entre direita e esquerda no meio médico brasileiro.

De acordo com a explicação, são consideradas ‘chapas de esquerda’ aquelas que apoiam programas como Mais Médicos, que são favoráveis à abertura indiscriminada de faculdades de medicina, revalidação de diplomas obtidos no exterior e pregam contra a liberdade do médico em escolher tratamento individualizado ao paciente.

Para o infectologista, esse entendimento “deriva das políticas aplicadas pelos governos do PT. Coincidentemente, as chapas de esquerda tem, dentro da liderança, membros ligados à direção de partidos como Psol, PT e PCdoB ”, ponderou.

Na direção oposta, grupos se organizaram para resistir ao que chamam de “politização da medicina”, levantando a bandeira da autonomia do profissional de medicina, contrariedade ao mais médicos, oposição ao desempenho de procedimentos médicos por quem não tem CRM e até oposição às resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo identificados como grupo de direita.

Atento aos efeitos da política sobre a medicina, Cardoso mapeou a distribuição ideológica na composição das diretoria de CRMs espalhados pelo Brasil. O levantamento que revela a influência política sobre as entidades ficou assim:

CRMs com diretoria de direita –

Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Alagoas, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Amazonas, Rondônia, Roraima, Amapá, Para e Acre.

CRMs com diretorias de esquerda:

Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso do Sul , Pernambuco e Paraíba.

Resolução da discórdia

Questionado sobre resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que, homologada pela ministra da Saúde, reconhece religiões de matrizes africanas “como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS”, o médico afirmou que “O CNS nunca prezou pela saúde e sim pela política. É um conselho dominado por partidos comunistas e outras frentes de esquerda”.

Cardoso considera a ‘chancela’ da ministra da Saúde sobre o documento “uma vergonha, uma loucura. Clara politização da Saúde. Lamento que a ministra Nísia tenha assinado esse documento. Hoje em dia é até difícil comentar esse assunto porque se costuma falar que estamos criticando a religião. Não é uma crítica à religião, mas à instrumentalização da religião para fins políticos. O que o Candomblé tem a ver com saúde pública? Então por que não se oficializa também práticas cristãs, budistas e islâmicas?”, indagou.

O infectologista fez contraponto entre a diretriz assinada e a defesa da ‘evidência científica’ usada para justificar a promoção de vacinação em massa, no auge da pandemia, sem discutir efeitos colaterais, e barrar tratamentos contra a covid.  “Mas parece que agora essas evidências não são mais necessárias”, ironizou.

Outro ponto delicado da resolução em tela é a “redução da idade de início de hormonização para 14 anos”. Sobre esse assunto, Cardoso explicou que a categoria se respalda, obrigatoriamente, pelo Conselho Federal de Medicina, que, por sua vez, proíbe tal prática. “O médico que fizer hormonização em crianças vai perder o CRM”, garantiu.

O problema é que em São Paulo profissionais ligados ao Hospital das Clínicas da USP estariam ‘pagando para ver’. “Soubemos que, a título de experimento científico, profissionais ligados ao HC da USP, que é um dos hospitais mais importantes do mundo, estariam promovendo hormonização em menores de 16 anos. Apesar de, lamentavelmente, o Ministério Público ter se omitido, a Alesp passou a investigar as denúncias”, pontuou.

De acordo com o infectologista, “mesmo com eventual autorização de responsáveis tais procedimentos são ilegais no Brasil. Há um limite para isso”. Perguntado sobre a origem das denúncias envolvendo o HC, o médico disse que “um grupo de psiquiatras do Instituto de Psiquiatria da USP se dispôs a avançar sobre a questão da transexualidade para ser usado pela mídia como referência no assunto. Tudo muito bem elaborado”.

O profissional renomado não desconfia da influência do governo de São Paulo ou da própria administração do hospital sobre os supostos casos. Mas acredita na iniciativa de profissionais que defendem “teses absurdamente estranhas e podem estar sendo financiados por entidades internacionais”.

Cardoso destacou também que “a pauta da desconstrução da sexualidade humana para combate ao modelo tradicional de família e sociedade é agenda de prioridade da esquerda há décadas”, arrematou.

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