Contra eleição de Lula

Moraes confirma encontro com Marcos do Val e vê ‘tentativa Tabajara’ de golpe

Em Lisboa, ministro disse que do Val não quis formalizar denúncia de coação e tentativa de golpe de Bolsonaro e Daniel Silveira

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O STF condenou os três primeiros réus há duas semanas. Foto: Nelson Jr/ STF

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes confirmou nesta sexta-feira, 3, que se encontrou com o senador Marcos Do Val (ES) em dezembro. Ontem, 2, o parlamentar divulgou um plano de Daniel Silveira (PTB) para gravar o ministro sem autorização durante um encontro entre os dois e com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em dezembro, numa tentativa de anular as eleições presidenciais.

“O que ele disse foi que o deputado Daniel Silveira o teria procurado e que teria participado de uma reunião com o então presidente da República e a ideia genial que tiveram foi colocar uma escuta para que o senador me gravasse e, a partir dessa gravação, pudessem solicitar a minha retirada da presidência dos inquéritos”, relatou o ministro após ser questionado em um evento do Grupo Lide realizada em Lisboa, do qual palestrou.

Moraes, que participa da conferência remotamente, a partir do Brasil, disse que Do Val afirmou que se tratava de uma questão de “inteligência”, e que não estava disposto a tornar o relato oficial por meio de um depoimento. O ministro, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chamou ainda o plano de “Operação Tabajara”.

“Levantei, me despedi do senador e agradeci a presença, até porque o que não é oficial para mim não existe. Foi exatamente essa a tentativa de uma ‘Operação Tabajara’, que mostra exatamente o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil. Tudo isso está sendo apurado, determinei a oitiva ontem do senador, a Polícia Federal já realizou essa oitiva e as investigações por parte da Polícia Federal seguirão para que nós possamos, assim que chegar, analisar a responsabilidade de todos aqueles que se envolveram na tentativa de golpe”, detalhou.

Na quinta-feira, a revista Veja publicou reportagem afirmando ter tido acesso a mensagens que comprovariam um encontro em dezembro de do Val com Bolsonaro e com o então deputado federal Daniel Silveira no Palácio da Alvorada.

Na ocasião, segundo a reportagem, Bolsonaro teria proposto ao senador que gravasse uma conversa com Moraes sem o conhecimento do ministro, na tentativa de que o magistrado dissesse algo comprometedor que pudesse levar a uma tentativa de prendê-lo e anular a eleição presidencial de outubro.

Segundo a revista, do Val relatou o episódio a Moraes e, posteriormente, recusou a proposta de gravar o ministro.

Também na quinta, do Val confirmou ter se reunido com Bolsonaro e Silveira, mas disse que a proposta de gravar Moraes partiu do então deputado federal, e que Bolsonaro apenas a ouviu em silêncio.

Ainda na conferência do Grupo Lide, Moraes fez um discurso defendendo novas medidas no combate aos ataques à democracia após os atos violentos do dia 8 de janeiro. Para o ministro, seria necessária uma regulamentação das redes sociais.

“Como instrumento altamente democrático, as redes sociais passaram a permitir a participação de todos, a opinião de todos, a livre expressão de todos. O que surgiu de uma maneira democrática, foi capturado pelos populistas, principalmente pela extrema direita, e transformado em um mecanismo de lavagem cerebral (…) essa lavagem cerebral transformou pessoas em zumbis. Pessoas repetindo ideias absurdas, pessoas cantando o hino nacional para pneus, pessoas esperando que ETs viessem para o Brasil resolver o suposto problema da urna eletrônica. O que poderia ser uma comédia, é uma tragédia. Uma tragédia que resultou na tentativa frustrada de golpe no dia 8 de janeiro”, disse.

“Levaremos, a partir de uma comissão constituída no Tribunal Superior Eleitoral, ao Congresso Nacional mecanismos de regulamentação das redes sociais. As redes sociais não podem ser nem mais, nem menos, controladas do que as demais empresas de mídia. A responsabilização por abusos na divulgação, na veiculação de notícias fraudulentas, na veiculação e divulgação de discursos de ódio, não deve ser maior, e não pode ser menor, do que o restante das mídias tradicionais. Há a necessidade de que haja uma legislação internacional, por meio de acordos. Da mesma forma que se combate o tráfico internacional de drogas, o tráfico internacional de pessoas, há a necessidade do combate a esse verdadeiro tráfico internacional de ideias contra a democracia”, finalizou o ministro.

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