Farras e banquetes

Governo Renan Filho gastou mais de R$ 71 milhões com festas e eventos

Gabinete Civil gastou 19% do total das despesas de R$ 36,1 milhões com festas

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Desde o primeiro mandato do governador Renan Filho (MDB), em 2015, os gastos do governo de Alagoas com festas e banquetes em homenagens ultrapassam os R$ 71,6 milhões, no estado com taxa de desemprego acima da média nacional e com trabalhadores sem motivo algum para comemorar: atingindo 14,6% da população economicamente ativa.

Matéria de capa da última edição da Gazeta de Alagoas expôs que, no dia 1º de janeiro deste ano, um coquetel servido no Palácio Floriano Peixoto custou R$ 19.350 aos cofres públicos para um grupo seleto dos convidados para a solenidade de posse do governador reeleito. O serviço foi pago sem licitação, conforme a Nota de Empenho 01643 consultada pela reportagem no Portal da Transparência do governo do Estado. O valor corresponde a 450 unidades de coquetéis, cujo preço unitário equivale a R$ 43.

Os gastos de Renan Filho com a solenidade de posse de seu segundo mandato são ínfimos, se comparados ao total desembolsado somente com festividades e homenagens. De acordo com o Portal da Transparência, entre 2015 – quando assumiu o seu primeiro governo – e este ano, as despesas com festas somam R$ 40,24 milhões. Deste total, R$ 36,1 milhões já foram pagos. Somente o gabinete civil do governo gastou 19% do total – o equivalente a R$ 7,66 milhões.

A reportagem do jornalista Carlos Nealdo destaca que, entre as empresas que receberam recursos do governo destaca-se o Buffet Garry Kasparov, que recebeu R$ 10,9 milhões entre 2015 e 2019. Na solenidade de posse do primeiro mandato de Renan Filho, em 1º de janeiro de 2015, a empresa recebeu R$ 15.750 também por serviço de coquetel. Nem todos os serviços contratados foram sem licitação. No caso desse serviço prestado pelo Garry Kasparov, a contratação aconteceu por meio de pregão, conforme a nota de empenho 00212. No entanto, em novembro de 2015, a empresa recebeu R$ 15.996,80 num contrato sem licitação, por serviço de almoço.

Quando somados os gastos com eventos, as despesas do governo de Alagoas com festividades e homenagens ultrapassam os R$ 71,6 milhões. Somente a empresa JHB Gomes Produções recebeu R$ 23,3 milhões dos R$ 26,5 milhões que tem empenhados. Em novembro de 2015, por exemplo, a empresa recebeu R$ 214,1 mil – num contrato sem licitação – como pagamento dos serviços de organização, montagem e locação de infraestrutura (mobiliário, tendas e banheiros) para atender a demanda do programa Alagoas Presente, realizado nos dias 27 e 28 de novembro daquele ano.

48,9% em extrema pobreza

Num estado onde 48,9% da população de Alagoas –  ou seja, quase 1,5 milhão de habitantes – vivem em situação de extrema pobreza, os gastos com festividades e eventos da era Renan Filho impressionam.

De acordo com o Portal da Transparência do governo de Alagoas, a empresa Padrão Locações e Eventos já recebeu R$ 5,2 milhões por serviços prestados ao Estado entre 2015 e 2019. Em setembro de 2016, por exemplo, recebeu R$ 193,2 mil – num contrato sem licitação, conforme a nota de empenho 01183 – para organização do projeto Governo Presente, realizado nos dias 13,14,15,20 e 23 daquele mês, nos municípios de Ouro Branco, Pariconha, Água Branca, Pilar e Murici.

Outra empresa que prestou serviços para eventos do governo, a A De Vasconcelos Santana recebeu R$ 589,2 mil de Renan Filho. Por um deles – prestado em julho de 2016 – recebeu R$ 297,8 mil, num contrato também sem licitação, conforme a nota de empenho 00855, consultada pela reportagem no Portal da Transparência.

O desemprego em Alagoas atinge 14,6% da população economicamente ativa. A taxa é maior do que a média nacional de 12%. O número de desempregados até reduziu, mas porque parte deles passou a figurar entre os desalentados, que são os que já perderam a esperança de encontrar um emprego. Estes são 15,2% da população economicamente ativa. No quesito desalentados, Alagoas tem a segunda maior taxa do país, perdendo apenas para o Maranhão, que tem taxa de 18,4%.

De acordo com o IBGE, 34,1% dos trabalhadores alagoanos exercem suas atividades sem registro em Carteira de Trabalho, portanto sem garantias e direitos trabalhistas. Além disso, outros 28,6% dos alagoanos trabalham por conta própria. Empreendendo para sobreviver, muitas vezes. De acordo com os dados, 51,3% dos desempregados em Alagoas são homens e 48,7% são mulheres. Em relação à idade, o desemprego atinge principalmente a faixa etária de 25 a 39 anos, com taxa de 39,3%. Os jovens de 18 a 24 anos são os segundos que mais sofrem com o problema, entre eles a taxa é de 32,5%. Como se vê, ainda não dá para comemorar. (Com informações e reportagem de Carlos Nealdo, da Gazeta de Alagoas)

 

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