GDF reduz fiscalizações de transporte pirata e índices despencam
Em abril os números caíram de 103 para 21 autos de infração
Os autos de infração realizados mensalmente pela Secretaria de Mobilidade do Governo do Distrito Federal caíram bruscamente no primeiro semestre deste ano. De janeiro a junho de 2015 foram 342 registros; contra apenas 232 em 2016.
A mudança mais visível na diminuição de fiscalização foi de março para abril, quando o número despencou de 103 para 21 autos. O período coincide com a mudança do então subsecretário de Fiscalização e Auditoria (Sufisa) Júnior Nicolas, que foi exonerado pelo secretário de Mobilidade do DF, Marcos Dantas, e substituído pelo delegado da Polícia Civil Júlio César de Oliveira.
Em maio, já na nova gestão, foram incríveis 5 autos de infração registrados em todo o Distrito Federal. Em junho o número subiu timidamente para 14, longe dos 74 registrados no mesmo mês do ano passado.
Penas mais duras
A Secretaria de Mobilidade do DF justifica que os índices caíram por causa da "intensificação das operações que, desde abril deste ano, conta com uma ação integrada de governo que envolve a Semob e os órgãos de segurança pública e de trânsito do DF, que passaram a punir a irregularidade de forma mais rigorosa".
Em 2015, 224 pessoas foram enquadradas no artigo 47 (exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado). Já em 2016, 40 pessoas foram enquadradas no artigo 47 e 35 pessoas pelo artigo 265, que prevê o atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública.
Em maio, a pedido da Secretaria de Mobilidade, a Polícia Civil passou a enquadrar como crime passível de cinco anos de prisão quem faz transporte pirata. Antes, a prática era considerada infração ao artigo 47 da Lei de Contravenções Penais – o motorista assinava um termo circunstanciado e era liberado em seguida.
Desde abril, porém, com o novo entendimento, ainda não houve condenação no artigo 265. A multa pra quem pratica esse tipo de ação é de R$ 2 mil em caso de primeira ocorrência, de R$ 3 mil em caso de reincidência e de R$ 5 mil a partir da terceira ocorrência.
Exoneração suspeita
À época em que o subsecretário de fiscalização foi exonerado, a pasta disse que o objetivo da mudança era "melhorar a articulação operacional" do departamento de fiscalização com outros órgãos do GDF, como Detran e DFTrans. Mas a saída, de fato, foi causada porque Nicolas queria fazer mais operações de combate ao transporte pirara e estaria enfrentando resistência dentro do GDF.
Em abril, o áudio de uma conversa entre Nicolas discutindo com o chefe de gabinete da secretaria, Moisés do Espírito Santo, foi divulgado e expôs um racha na pasta. Na gravação, feita no dia 20 de janeiro, Moisés liga para Júnior para saber sobre uma operação de combate a pirataria, que ocorreria no outro dia em Ceilândia, sem ele saber. Quando questionado sobre a operação, o subsecretário afirmou iria ocorrer sim. Então o chefe de gabinete relembrou a determinação do secretário Dantas, para que nenhuma operação fosse realizada sem a sua presença.
"Pois é, mas nós tivemos uma orientação do secretário para, nesta semana, a gente não fazer nenhuma ação. Só quando ele voltar. Nós recebemos seu plano de trabalho dos 90 dias. E aí sim ele iria combinar com você as operações", disse o chefe de gabinete. Alterado, Nicolas respondeu: “deixa eu falar, por favor, eu cumpri minha ordem no cronograma, meu dever como auditor fiscal. E agora estou na subsecretaria. Gostaria que o secretário me desse essa ordem verbal ou então por escrito, de preferência, que é para suspender as operações".
A discussão continua e Moisés rebate: “Veja bem. Não foi o Moisés que falou para você. Eu falei em nome do secretário. Você está descumprindo a ordem dele, é isso? Tá bom. Tudo bem. Você vai fazer a operação amanhã, não vai? Você está descumprindo a ordem do secretário”. Após a briga, a operação de fiscalização foi cancelada e o subsecretário que queria fazer mais operações de fiscalização foi exonerado.