Entrevista

Futuro secretário de Governo, general diz que vai atuar ‘sem preconceito político’

'Todo mundo foi eleito, tem valor e é igual. Dar atenção é uma obrigação', disse

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Mesmo vindo de fora do universo político, o futuro ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, não acredita que a interlocução com o Congresso Nacional seja, nas palavras dele, uma assombração. Em viagem a Bangladesh, o militar concedeu entrevista nesta segunda (26) e disse que assumirá o cargo sem preconceitos, recebendo parlamentares de qualquer legenda, independentemente da posição no espectro político. “Eu vou conversar com todo mundo. Todo mundo foi eleito, tem valor e é igual. Dar atenção é uma obrigação”, disse.

Com passagens por situação de conflitos no Haiti e no Congo, ele considera que Brasília será também um grande desafio.

Pergunta – A Secretaria de Governo continuará com a função de negociação com o Congresso Nacional?
Cruz – Na realidade, é de atenção e de interlocução com deputados e senadores, facilitando a comunicação entre o presidente e congressistas. Isso não tem problema nenhum. Eu nunca fui parlamentar, mas não vejo dificuldades nisso.

E qual é a experiência do senhor para fazer a interlocução política?

Cruz – Eu acredito que a minha experiência de vida me garante qualquer função desse nível. Você não precisa ser tão especializado. Mas a experiência de governos anteriores mostra que não é simples.

Acredita que será mais fácil do que lidar com cenários de guerra, com os quais o senhor está acostumado?

Cruz – Não é problema de ser difícil, precisa é de atenção. Há dificuldades normais de qualquer profissão, de qualquer função. Não é nenhuma assombração, não tem nada de inexequível.

O que um general pode trazer de diferencial na interlocução com o Congresso Nacional?

Cruz – Não vejo diferenciação para comparar com os outros, mas pode ter certeza que o forte será a atenção e a educação. A gente não tem preconceito político nenhum, não tem paixões partidárias.

O senhor disse que chega sem preconceitos. Pretende conversar com parlamentares que se identificam como de esquerda?

Cruz – Eu vou conversar com todo mundo. Todo mundo foi eleito, tem valor e é igual. Dar atenção é uma obrigação.

Então, não terá problemas em receber também petistas.

Cruz – Nenhum.

Por que acha que foi escolhido para essa função?

Cruz – O presidente eleito me conhece, sabe das minhas características, principalmente de que daremos o máximo de atenção possível a todos aqueles que precisarem da Secretaria de Governo. Tem de dar atenção. Ele confia. Não é problema de articulação, mas de atenção.

Acredita que, mesmo não sendo do universo político, não terá dificuldades?

Cruz – Não, não vejo problema. São dificuldades normais.

O senhor considera que terá uma missão parecida com a do oficial general John Kelly, chefe de staff de Donald Trump, escalado para acabar com a improvisação na Casa Branca e com intrigas palacianas?

Cruz – Não, acho que não, não tem amadorismo. Eu não vejo essa semelhança, porque a função vem ocorrendo normalmente. É a vida da política.

Além da interlocução política, a pasta terá novas funções?

Cruz – Eu ainda não tive a oportunidade de conversar com ele, porque estou em Bangladesh neste momento e volto ao Brasil na sexta-feira (30).

O Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito, disse que o senhor tinha sido escolhido para o posto de secretário nacional de Segurança Pública. Porque houve mudança?

Cruz – Eu tinha sido realmente convidado pelo juiz Sergio Moro. Mas o presidente eleito, na acomodação das funções, me convidou para essa outra função e, claro, ele tem prioridade.

Então, não houve veto do futuro ministro da Justiça para que o senhor assumisse o cargo?

Cruz – Não, não tem nada disso, longe disso. Seria uma honra trabalhar com Moro, é uma pessoa que está fazendo um fantástico trabalho, com coragem e perseverança. Nessa hora, é normal a acomodação de funções.

Depois de passar pelo Haiti e pelo Congo, Brasília será um desafio maior?

Cruz – Brasília é um grande desafio, é uma outra área. Será um desafio interessante. Depois de 50 anos de vida militar, você tem experiencia em várias áreas.

Pretende manter a postura do presidente de priorizar a interlocução com frentes parlamentares em vez de partidos políticos?

Cruz – Esse tipo de interlocução segue o ritmo determinado pelo presidente. E o presidente, desde que eu o conheço, tem um perfeito entendimento e não é uma pessoa radical. O andamento das coisas não pode ser predeterminado.

O senhor acha que consegue articular a votação da reforma da previdência no início do ano que vem?

Cruz – A previdência é um dos assuntos polêmicos e tudo é possível dependendo do andamento. Esse tipo de assunto, sensível para a população, depende do andamento.

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