Guerra em Arapiraca

Expulso do MDB e alvo de Renan, vice de Alagoas tem candidatura negada pela Justiça

Defesa de Luciano Barbosa vai recorrer contra decisão para seguir candidato a prefeito de Arapiraca

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Vice-governador Luciano Barbosa entre o senador Renan Calheiros e o governador Renan Filho, em campanha vitoriosa do MDB em 2018. Foto: Divulgação

O ex-ministro da Integração do governo de FHC e atual vice-governador de Alagoas, Luciano Barbosa, teve rejeitados pela Justiça Eleitoral os atos partidários que validariam o registro de sua candidatura a prefeito do segundo maior colégio eleitoral do estado, Arapiraca (AL). A decisão do início da noite de ontem (25) decorre de desdobramentos da iniciativa de Luciano Barbosa de confrontar os interesses políticos de seu ex-aliado histórico, o senador Renan Calheiros, que preside o MDB e se uniu ao presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, para contestar convenções municipais que embasaram a candidatura, e expulsar do partido o vice do governador Renan Filho (MDB).

Agora tratado como uma uma ameaça à linha de sucessão do governador, Luciano Barbosa seguirá em campanha eleitoral. E sua defesa disse que vai recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL), para tentar tornar o vice-governador apto à disputa pelo retorno ao cargo que já exerceu por dois mandatos em Arapiraca.

A decisão da juíza eleitoral Ana Raquel da Silva Gama tornou nulo o registro da candidatura de Luciano Barbosa, que tem como vice Rute Nezinho (PL), por concluir pela nulidade dos atos partidários das três convenções realizadas em Arapiraca.

“Indefiro o DRAP [Demonstrativo de Regularidade dos Atos Partidários] em questão, visto que a ata de Convenção Municipal realizada no dia 15/09/2020 fora anulada pelo próprio MDB em 15/09/2020, em decisão interna corporis, bem como declaro a nulidade das atas das Convenções realizadas no dia 16/09/2020, tanto a presidida pelo órgão Estadual quanto pelo órgão Municipal do MDB, de maneira que a chapa composta por candidatos a Prefeito e Vice-Prefeito –formada por membros do MDB e PL, já qualificados no relatório – não possui as condições legais para concorrer às eleições deste ano”, concluiu a juíza Ana Raquel.

A defesa do vice-governador disse que Luciano Barbosa recebeu com tranquilidade a sentença. “Na decisão, a juíza reconheceu que todos os atos praticados pelo MDB de Arapiraca para a indicação de Luciano Barbosa e dos candidatos a vereadores cumpriu, fielmente, o estatuto do partido, e afirma que a decisão do diretório estadual que anula a citada convenção deve ser discutida em outra ação. Diante dessa vitória parcial, a candidatura de Luciano Barbosa e dos vereadores segue firme, na certeza de que a Justiça Eleitoral, em breve, restabelecerá a democrática e soberana decisão dos arapiraquenses”, disse a nota da defesa de Luciano Barbosa.

Apoio do MP Eleitoral

Luciano Barbosa conta com um trunfo considerável na luta pela manutenção de sua candidatura. Em parecer publicado na última quarta-feira (21), o Ministério Público Eleitoral se mostrou favorável à habilitação e validade do registro da candidatura do vice-governador. O promotor eleitoral Rogério Paranhos Gonçalves ainda contesta a ata apresentada pelo Diretório Estadual do MDB em Alagoas contra a candidatura de Luciano Barbosa.

Governador de Alagoas Renan Filho e vice-governador Luciano Barbosa. Foto: Agência Alagoas

Crise na sucessão de Alagoas

O problema central da crise interna é a possibilidade de renúncia do aliado histórico de Renan para reassumir a Prefeitura de Arapiraca, em 2021, retirando do domínio do clã Calheiros a linha sucessória do governador Renan Filho (MDB), assumida pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (SDD-AL), símbolo da resistência dos deputados à tentativa dos Calheiros de mandar no voto de aliados na eleição para a Mesa Diretora do Legislativo, em 2019.

A interferência de Renan em Arapiraca, com apoio de Baleia Rossi, tem como pano de fundo as consequências políticas dos planos do vice-governador. Porque a candidatura de Luciano Barbosa fortalece Marcelo Victor, que foi eleito presidente do Legislativo em 2019, contrariando os interesses de Renan Filho em eleger seu tio Olavo Calheiros (MDB-AL), após uma intervenção frustrada do governador no voto dos deputados.

Apoiado pela maioria absoluta da Assembleia, Marcelo Victor deve assumir o governo em 2022, quando Renan Filho deve disputar uma vaga no Senado. O Diário do Poder apurou que o vice-governador esperava há meses de Renan Filho uma definição sobre se o governador disputará ou não um mandato de senador.

Diante da indefinição, tomou a decisão de arriscar ser prefeito, com a garantia de, se perder, retornar ao cargo de vice-governador e poder disputar uma reeleição ao governo, em 2022. Decisão que irritou profundamente os Calheiros, ainda mais pela possibilidade de, com a guerra travada, Luciano converter rivais de Renan como aliados, no segundo maior colégio eleitoral de Alagoas. Leia mais aqui.

Leia a Nota Pública do MDB de Alagoas sobre a decisão.

 

 

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