Ex-governador entrega cargo de secretário, após ser fritado por Renan Filho em Alagoas
Ronaldo Lessa não resistiu ao desgaste imposto pela falta de apoio à pasta da Agricultura
Conforme antecipou o Diário do Poder antes mesmo de sua posse, o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) teve uma breve passagem de menos de quatro meses pelo comando Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas (Seagri), por ter sido fritado pelo próprio governador Renan Filho (MDB). Lessa entrega o cargo nesta sexta-feira (28), após resistir à falta de apoio do governador às ações necessárias para agricultores alagoanos e à pressão do PDT pelo fim do desgaste imposto ao partido e ao seu maior representante em Alagoas.
O pedetista confirmou à reportagem que decidiu entregar o cargo na noite de ontem (27), durante reunião da Executiva do PDT de Alagoas. Os motivos giram em torno da falta de condições de trabalho para o avanço das políticas públicas para a agricultura, que Lessa já havia antecipado em entrevista ao Diário do Poder em maio, quando afirmou que esperaria até junho para atender ao apelo do PDT Nacional e da militância local, para reavaliar a composição com o clã do senador Renan Calheiros (MDB-AL).
“A decisão foi ontem e hoje estou saindo da secretaria. Vou esclarecer os pontos [de motivação] numa nota que estou preparando e divulgarei após a audiência com o governador”, confirmou o governador nesta manhã, à reportagem.
Fritura antes da posse
Seis dias após a nomeação de Lessa e antes mesmo de sua posse, o Diário do Poder publicou a reação negativa de produtores que pediam nas redes sociais a saída de Lessa do cargo, criticando a decisão meramente política de Renan Filho. E revelou que o governador justificou a interlocutores que representam o setor que a nomeação fez parte de um acordo político e pediu paciência, afirmando que Ronaldo Lessa deve durar pouco tempo na pasta. A relação com o setor foi pacificada, mas o governo ainda lhe nega condições de atuar com sua equipe.
O ex-governador pedetista vem absorvendo o desgaste pela inércia do governo em políticas da agricultuira como, por exemplo, a distribuição de sementes, cuja licitação só iniciou tramitação após o limite de tempo hábil para as entregas e o plantio.
Irmão do presidente do Tribunal de Contas de Alagoas, Otávio Lessa, o ex-governador coordenava a bancada federal de Alagoas na legislatura passada do Congresso Nacional. E chegou a liderar pesquisas para senador, em 2017, sendo cotado para disputar o governo. Mas desistiu de tudo para apoiar as reeleições de Renan Filho e do senador Renan, amargando uma derrota de seu projeto de se reeleger para a Câmara Federal, em 2018.
No início de abril, pouco mais de um mês após ser nomeado secretário de Renan Filho, o ex-governador expôs sua insatisfação com o descumprimento de um acordo político que previa nomeações de sua equipe, em vídeo publicado nas redes sociais. E apareceu, em horário de expediente do dia seguinte, ao lado do principal rival da família Calheiros, o prefeito de Maceió (AL), Rui Palmeira (PSDB).
O MDB guarda mágoa do ex-governador não apenas da última pré-campanha de 2018, quando avaliou a possibilidade de enfrentar os Calheiros. Mas os ressentimentos são também de 2016, quando Lessa rompeu com Renan Filho para apoiar a reeleição do prefeito de Maceió, contribuindo com a articulação política da derrota do candidato emedebista Cícero Almeida, apoiado pelo governador e seu pai, então presidente do Senado.
A expectativa é de que o prefeito tucano convide Lessa para ingressar na Prefeitura de Maceió, para ampliar suas bases políticas na capital e no interior de Alagoas.
O Diário do Poder questionou ao governador se ele atuou pela saída de Lessa da Seagri e sobre o motivo de não ter apoiado as políticas públicas para a agricultura, na gestão de Lessa. E aguarda respostas às mensagens enviada via aplicativo e através de sua assessoria de imprensa.