Sementes da resistência

Estado ameaça extinguir sementes crioulas em Alagoas, denuncia entidade

ASA Alagoas denuncia falta de política para agricultura familiar em Alagoas

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As sementes mais resistentes e adaptadas ao Semiárido Alagoano, as sementes crioulas, estão ameaçadas de serem extintas, pela ausência de política para fortalecimento da agricultura familiar em Alagoas. A conclusão baseada em estudos técnicos é da Articulação Semiárido Alagoano (ASA Alagoas), que realiza de hoje 29 até sexta-feira (31) o 8º Encontro Estadual de Sementes Crioulas, na Associação de Agricultores Alternativos (Aagra), no Sítio Jacaré, em Igaci (AL). Em pauta, o investimento de R$ 14 milhões anuais de recursos públicos na compra de sementes comerciais inadequadas.

Agricultores e agricultoras, técnicos, professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Instituto Federal de Alagoas (IFAL), e representantes de entidades e convidados discutirão sobre a situação das semente crioulas no Estado, afetadas pelas sementes transgênicas, o agrotóxico e a falta de políticas para fortalecer a agricultura familiar.

Denunciando a falta de comprometimento do Estado em políticas de convivência no Semiárido, cerca de 180 pessoas que vivem nas regiões do alto e médio Sertão, Agreste, Bacia Leiteira e Mata Alagoana participarão do Encontro. Eles avaliarão as potencialidades da agricultura familiar, e farão propostas para a produção agroecológica e o combate à fome e a miséria no campo e na cidade. Os participantes visitarão experiências exitosas da agricultura familiar, que fortalecem a convivência no Semiárido.

As sementes crioulas, batizadas pelos(as) agricultores(as) em Alagoas como sementes da resistência, são sementes adaptadas ao clima e ao solo da região. Consideradas patrimônio cultural da agricultura familiar, sofrem ameaças de serem extintas. É o que mostra o teste de transgenia promovido através do Sementes do Semiárido e executado pela Cooperativa dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs).

Os testes comprovam que sementes estão sendo contaminadas devido à transgenia. Além das sementes transgênicas, a agricultura sofre com o perigo da contaminação pelo agrotóxico.

Segundo o coordenador executivo da ASA Alagoas pela (Coppabacs), Mardônio Alves da Graça “não se trata apenas de uma contaminação e simplesmente. À medida que uma variedade crioula é contaminada não poderá ocorrer à descontaminação, e o agricultor perde a autonomia de produção, virando refém do comércio de transgênico e dos pacotes tecnológicos, associados ao agrotóxico”.

Ainda, de acordo com Mardônio da Graça, “historicamente o estado de Alagoas tem ido à contramão dessas experiências de sementes crioulas, e tem aplicado cerca de R$ 14 milhões anualmente na compra de sementes comerciais produzidas em condições diferentes da realidade do sertão”.

Através do Programa de Manejo da Agrobiodiversidade Sementes do Semiárido, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), são desenvolvidas ações para conservação e produção das sementes, nos bancos comunitários de sementes de 80 comunidades em 25 municípios do Semiárido alagoano.

O titular da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) disse que o próprio governador Renan Filho tem uma posição crítica a respeito do volume de compra das sementes e tenta criar uma política de Estado para a agricultura familiar, agregando a demanda por sementes crioulas.

Ouça a posição de Lessa sobre o tema:


(Com informações da ASA Brasil)

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