Maior parte em dinheiro

Luiz Estevão diz que ex-ministro pagou R$ 800 mil por celas na Papuda para corruptos do PT

Ex-senador diz que Márcio Thomaz Bastos encomendou e pagou obra para abrigar mensaleiros

acessibilidade:
Ex-senador Luiz Estevão.

Antes de ser condenado a 25 anos de prisão por peculato, estelionato e corrupção, o ex-senador Luiz Estevão executou uma obra clandestina na Penitenciária Federal da Papuda, a pedido do ex-ministro de Justiça do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos (falecido em 2014). Estevão revelou em entrevista publicada na última edição da revista Veja que a construção de novas celas, em 2012, foi encomendada pelo ex-ministro de Lula, para segregar condenados pelo escândalo do mensalão petista do restante da massa carcerária.

Primeiro senador a ser cassado pelo desvio de R$ 169 milhões da obra do TRT de São Paulo, Luiz Estevão também foi o primeiro criminoso de colarinho branco a ser preso após condenação em 2ª instância. Mesmo assim, elogia o atual ministro Sérgio Moro, ao lamentar o esforço gigantesco para derrubar instrumentos que frearam a corrupção, como a delação premiada e a própria prisão de condenados em 2ª instância.

A obra de R$ 800 mil no presídio da Papuda, segundo Estevão, foi paga e encomendada por Márcio Thomaz Bastos. O ex-senador disse que um dia o ex-ministro petista o convidou para um almoço em São Paulo e fez a encomenda, preocupado com as futuras condenações de petistas no escândalo do mensalão.

“Lá, ele disse assim: ‘Olha, Estevão, estou muito preocupado porque, você sabe, o nosso pessoal vai ser condenado mesmo, e o sistema prisional não tem condições de abrigar essas pessoas'”, relatou Estevão à Veja, sobre a conversa com o ex-ministro de Lula.

Ao ressaltar que a obra não foi para proveito próprio, o ex-senador disse que a obra consistia em transformar um depósito abandonado do presídio em celas. “Eu apresentava as notas fiscais, e o [ex-]ministro pessoalmente me reembolsava. Não gastei nada do meu bolso. Foi tudo pago pelo doutor Márcio, um total de 800 mil reais”, disse Estevão, sobre o pagamento feito majoritariamente em dinheiro.

Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília (DF). Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Corruptos na Papuda

Na entrevista, o ex-senador bilionário lembrou do tratamento igualitário que recebeu durante 1.200 dias em que esteve preso na Papuda. E falou da boa convivência que manteve com condenados do mensalão e da Lava Jato, a exemplo dos ex-ministros de Lula, José Dirceu e Geddel Vieira Lima. Outros mensaleiros com quem Estevão conviveu na prisão foram o petista Henrique Pizzolato e o publicitário o Ramon Hollerbach.

“Eu e Zé Dirceu dormimos na mesma cela, tivemos uma convivência extremamente boa. Ele não reclama de nada, não se queixa de nada, nunca o vi se lamentando, o que também é o meu perfil. Já o Geddel chorava muito”, relembrou Estevão.

O quadro profundamente depressivo de alguns dos corruptos presos preocupava o ex-senador. “Havia uma preocupação muito grande com a possibilidade de suicídio de alguns desses presos do mensalão e da Lava Jato”, disse o ex-senador.

Cumprindo pena em regime semiaberto e trabalhando com vendas e aluguéis de imóveis, em Brasília (DF), Luiz Estevão conclui que a Lava Jato fez diminuir a roubalheira, porque as pessoas agora têm medo da prisão. “A corrupção passou a ser um caminho perigoso”.

Sem inocentes

Confrontado pelo jornalista Hugo Marques com a afirmação de que empresários apanhados em casos de corrupção costumam se apresentar como vítimas de achaque, Luiz Estevão lembrou que empresários nunca saem tristes de “conversinhas” em que se acertam pagamentos de propina.

“O empresário não é vítima. Digamos que ele torce para ser vítima, torce para ser chamado para uma ‘conversinha’. Quando recebe um convite para uma ‘conversinha’, ele não sai chorando da sala, sai soltando foguetes. […] Nesse submundo, não há inocentes”, concluiu.

Reportar Erro