Continuam acreditando

Desmentir notícias falsas não muda crença das pessoas que as recebem, aponta estudo

Correções, mesmo que vinda de veículos profissionais de imprensa, tiveram pouco impacto entre entrevistados

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Depois que é submetido a uma notícia falsa, uma pessoa tem poucas chances de mudar sua crença, mesmo que a informação errada seja corrigida. É o que aponta um estudo feito em parceira entre a a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e as universidades Emory e da Carolina do Norte (EUA).

Desmentir as fake news, mesmo que as correções venham de veículos profissionais de imprensa, se mostrou inócuo. “Durante a eleição, qualquer informação dificilmente é desconstruída. Por isso as campanhas estão interessadas em gastar milhões distribuindo fake news”, diz Felipe Nunes, um dos pesquisadores da UFMG.

O estudo mostrou a eleitores mineiros quatro fake news positivas e quatro negativas sobre o PT. Na primeira parte da pesquisa, em maio, um terço dos entrevistados foi submetido apenas a fake news; um terço teve acesso à correção feita pelo partido ou alvo; e outro terço, à checagem de um veículo de comunicação.

No primeiro grupo, 44,9% das pessoas acreditaram nas notícias falsas positivas e 35,2%, nas negativas. Quase não houve diferença para o segundo grupo, que teve as notícias desmentidas: 44,7% e 35,7% acreditaram, respectivamente. Quando a checagem é profissional, há impacto entre as notícias falsas positivas. A parcela que acredita cai para 37,1%. Porém, entre as negativas, o índice muda pouco: 33,1%
De acordo com o pesquisador, quando uma notícia está falando mal de algo, a pessoa acredita mesmo que essa informação seja depois desmentida. Já quando uma notícia falsa positiva é corrigida por um veículo profissional de imprensa, a pessoa costuma confiar porque não acredita que uma notícia boa pode estar relacionada à política.

A segunda parte do experimento, em outubro, ocorreu apenas com dois grupos: o que não teve as notícias desmentidas e o que teve a correção. O resultado aponta que a crença na informação falsa se mantém intacta. Acreditaram nas notícias falsas positivas 35,4% no primeiro grupo e 36,3% no segundo. Para as negativas, o resultado foi 32,3% e 34,2%.

“As pessoas têm tanta certeza e convicção que dizer a elas que é mentira não faz a menor diferença”, aponta o pesquisador Felipe Nunes.

O resultado da pesquisa aponta que o esforço pelo combate às fake news é inútil entre os convertidos. “Vamos ter que caminhar para um pacto para não usarem o mecanismo. Ou as campanhas começam a combater esse mal ou dificilmente teremos eleições não determinadas por notícias falsas”, afirmou o pesquisador.

O que mostrou o experimento:

MAIO
44,9% acreditaram em notícias falsas positivas sobre o PT em maio;
35,2% acreditaram em notícias falsas negativas.

Quando expostos a uma checagem profissional que desmente as notícias:
37,1% acreditaram nas positivas;
33,1% acreditaram nas negativas.

OUTUBRO
5,4% acreditaram em notícias falsas positivas em outubro;
32,3% acreditaram em notícias falsas negativas.

Quando expostos a uma checagem profissional que desmente as notícias:
36,3% acreditaram nas positivas;
34,2% acreditaram nas negativas.

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