Números absurdos

Desmatamento na Amazônia atingiu área 3 vezes maior que tamanho da capital de São Paulo

A extração ilegal de madeira já é quase dobro do ano anterior que mesmo período do ano anterior

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Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que o desmatamento na Amazônia quase dobrou em comparação ao ano passado, , quando a derrubada recorde da floresta virou alerta global. São 5.076 km² desmatados de agosto de 2019 até o 26 de março de 2020 contra 2.649 km² no mesmo período em 2018-2019.

A área desmatada de agosto até março é três vezes superior a cidade de São Paulo.

Precisaria-se de, pelo menos, 16 cidades de Fortaleza (313,8 km²) para preencher a extensão de floresta desmatada só entre 2019-2020.

O principal fator da depredação é a extração ilegal de madeira, afetando principalmente o estado do Pará – que concentrou 44% de todo o desmatamento amazônico no ano passado.

Os satélites do Deter mostram que, entre 1º de fevereiro e 26 de março, 65 km² de mata foram devastados no Pará, ante 62 km² verificados nos dois meses completos do ano passado. Em Rondônia, outro Estado que lidera os índices de desmatamento, o corte ilegal também já supera o de fevereiro e março de 2019 e chega a 43 km² nos dois meses deste ano.

Depredação e pandemia

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) analisa que a degradação ambiental é um dos motivos para a pandemia do Covid-19. Como os coronavírus são transmitidos de animais para humanos, a destruição e invasão humana de habitats selvagens podem incitar processos evolutivos mais rápidos e diversificar as doenças.

Para a Pnuma, impedir o avanço das mudanças climáticas, da redução e fragmentação dos habitats, do comércio ilegal e da poluição são algumas das maneiras de evitar que cada vez mais doenças afetem a sociedade humana.

O coronavírusjá entrou nas terras indígenas. Atualmente, há seis casos confirmados de contaminação por covid-19 entre indígenas e dois óbitos, segundo informações da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), subordinada ao Ministério da Saúde .

O pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA), Antonio Oviedo, afirma que o avanço do crime organizado sobre a floresta continua, o que potencializa ainda mais o risco de contaminação dos indígenas, já que é dentro das terras demarcadas que estão as madeiras mais nobres da Amazônia.

“Temos registros novos de abertura de picadas na mata. O madeireiro entra na floresta de quadriciclo, de moto, durante a chuva mesmo. Não esperam mais a seca. O crime agora acontece o ano todo, e mesmo com uma pandemia avançando pelo país. O garimpo também segue a pleno”, diz Oviedo ao jornal “O Estado de São Paulo”.

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que pediu apoio ao federal imediato. “É um volume assustador de desmatamento. Se não houver uma medida drástica e imediata de fiscalização, não haverá mais tempo. Vamos ter um ano de 2020 pior que o ano passado”, disse o governador. “É preciso lembrar que estamos no período chuvoso e que, portanto, é retirada de madeira, não é queimada. Na hora em que o período chuvoso acabar, poder ter um crescimento absurdo.”

Desmatador não faz home office

O cientista sênior do Ipam ( Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) Paulo Moutinho lembra que desmatador não faz home office. Em entrevista à revista “Época”, ele defendeu operações estratégicas de fiscalização da mata e alertou que o descaso com a zona rural pode levar a problemas de saúde da população urbana e até o risco de alastramento de novas epidemias.

O temor de uma onda de infecções levou o governo federal a tirar os agentes do Ibama do campo – e grileiros, especuladores de terra e desmatadores estariam se aproveitando do espaço, o que elevará ainda mais o desmatamento na Amazônia.

“Grileiros e especuladores de terra acham que o risco à saúde vale à pena. É, para eles, um bom momento para se aproveitar do patrimônio público. Eles colocam algumas cabeças de gado em um terreno, como se dissessem que ali há uma atividade produtiva, e vendem terras que são do poder público. É um lucro fácil. E também há a destruição da floresta. Há várias áreas derrubadas no ano passado que não queimaram porque houve uma intervenção do Exército. Desta vez não há este obstáculo. E desmatador não faz home office.”

 

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