Deputados repudiam elogio de comissão a Greenwald, na Assembleia de Minas

A iniciativa de deputados estaduais petistas de aprovar um voto de congratulações direcionado ao jornalista Glenn Greenwald foi criticada por parlamentares durante a sessão plenária da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) desta quarta-feira (17). A homenagem foi aprovada ontem pela Comissão de Direitos Humanos da ALMG e foi atacada por deputados que prometeram apresentar requerimento para, além de derrubar o elogio institucional, aprovar um repúdio oficial do Legislativo mineiro ao responsável pela divulgação de diálogos atribuídos ao ministro da Justiça Sérgio Moro e procuradores da Operação Lava Jato.

A homenagem foi solicitada pelo deputado André Quintão e pela deputada Beatriz Cerqueira, ambos do PT. E a reação contra o difusor das conversas não comprovadas e obtidas por meio de hackers e em defesa das autoridades que conduziram a Lava Jato foi iniciada em plenário pelo deputado Coronel Sandro (PSL), com apoio dos deputados Bartô (Novo), Bruno Engler (PSL), Delegado Heli Grilo (PSL), Cleitinho Azevedo (Cidadania) e Sargento Rodrigues (PTB).

Coronel Sandro defendeu que o voto de congratulações é motivo de “vergonha” para a ALMG; acrescentou que o jornalista estaria a serviço de grupos políticos que buscam apenas a libertação do ex-presidente Lula, preso e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Em aparte, o deputado Bruno Engler defendeu ainda a aprovação de requerimento de manifestação de repúdio a Glenn Greenwald.

Deputado Sargento Rodrigues, na Assembleia de Minas. Foto: Willian Dias/ALMG

Prisão sugerida

Sargento Rodrigues, elevou o tom e defendeu a prisão do jornalista fundador do site The Intercept Brasil, ao afirmar que os textos do jornalista foram produzidos a partir do uso de informações, obtidas de forma ilegal. “Esse moço deveria estar preso. Homenageá-lo seria inadmissível. Ele cometeu crime. Querem livrar a cara de Lula e desmoralizar as investigações”, afirmou o parlamentar.

O deputado Delegado Heli Grilo disse que Glenn Greenwald busca apenas “amenizar a situação do Lula”, e que “a Casa não deveria passar essa vergonha”.

O deputado Bartô defendeu que a iniciativa da Comissão de Direitos Humanos de aprovar um voto de congratulações ao jornalista Glenn Greenwald precisa ser cancelada pelo Parlamento, porque “a questão coloca em descrédito essa Casa”.

Bartô leu o requerimento de sua autoria com o deputado Coronel Sandro, pedindo a anulação do voto de congratulações. E atribuiu ao jornalista suspeitas de espionagem, distorção de mensagens e fraude.

O deputado Cleitinho Azevedo declarou apoio ao requerimento. E o deputado Virgílio Guimarães (PT) defendeu que requerimentos só sejam votados em data posterior à de sua apresentação.

O deputado João Vitor Xavier (Cidadania) demonstrou preocupação com a possibilidade de os pedidos de homenagens se “tornarem um cabo de guerra na Casa”.

‘Nirvana em Minas’

Por meio do Twitter, o jornalista Greenwald reagiu às falas dos deputados mineiros, ironizando que não deveria haver problemas em Minas, para o tema ser objeto do debate em plenário. “Não há nada mais importante em Minas Gerais para esses deputados se concentrarem do que denunciar isso? Eles devem ter construído o nirvana naquele estado se gritar sobre isso é o mais importante para eles. Parabéns”, escreveu.

O homenageado pelo PT também criticou a fala do deputado Sargento Rodrigues, que sugeriu sua prisão. “Parece que uma das mais importantes visões políticas na agenda da extrema direita é fantasiar sobre prender jornalistas. É uma maneira estranha de definir um movimento politico”, reagiu o jornalista.

Antes de agradecer pela homenagem aprovada ontem e elogiar sua equipe de jornalistas e editores, Greenwald deu conotação maliciosa à expressão usada pelo deputado Coronel Sandro que o chamou de “militante político travestido de jornalista”. “‘Travestido’ – eles adoram falar sobre isso. Isso evidentemente dá eles muito prazer (sic)”. (Com informações da Ascom da ALMG)