Gritos contra 'ditadura'

Deputado protesta contra decreto que impede acesso à orla de Maceió, após ter covid-19

Antônio Albuquerque ameaçou "desmanchar" sirene de blitz em bairro com 3ª maior incidência

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Deputado Antônio Albuquerque protesta contra medidas de controle da covid-19, na orla de Maceió (AL). Foto: Reprodução/Redes Sociais

Recuperado da covid-19 que já matou 98 e contaminou 1.867 em Alagoas, o deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB) abordou aos gritos, na manhã desta sexta-feira (8), guardas municipais que davam cumprimento ao decreto estadual que impõe restrições de acesso às praias de Maceió. Há 11 dias, o deputado Antônio Albuquerque divulgou o resultado de seu exame, positivo para o novo coronavírus, conforme material coletado há 16 dias.

Exaltado com os agentes públicos que emitiram alerta sonoro para motoristas que estacionaram veículos em área restrita pelo decreto, o parlamentar retirou a máscara de uso obrigatório nas ruas do estado, para fazer seu discurso. E sob aplausos de alguns moradores de seu prédio ainda ameaçou “desmanchar” a sirene, caso a ação se repetisse diante de onde mora, na Ponta Verde, bairro nobre de Maceió com a terceira maior incidência do novo coronavírus na capital alagoana.

“Isso é uma pouca vergonha! Estão querendo dizer que um homem respirando a própria saliva está melhor do que respirando ar puro! Isso é um [inaudível] de socialista ridículo! Isso é uma covardia! E a população aceitando calada, acovardada. Isso é uma vergonha! Eu moro aqui! Eu sou um cidadão! Eu não apenas represento o povo do meu estado, já há sete mandatos. Isso é uma ditadura ridícula! É uma coisa horrível Eu estou cansado de ser perseguido nesse estado de covardes. E não ligue mais essa sirene, não! Diga para o Antônio Moura [superintendente de Trânsito] que venha ligar!”, esbravejou Antônio Albuquerque, diante dos agentes parados.

Ao voltar para casa e passar pela portaria, Albuquerque gritou seu último recado: “Agora fica aí esse toque de recolher! Na minha porta não fica. Se ligar essa sirene de novo, eu desmancho ela, sem dó!”.

Apesar do discurso do deputado que já foi condenado em processo resultante da Operação Taturana, todos os carros que descumpriam o decreto prosseguiram sendo autuados, conforme o Código de Trânsito Brasileiro, por estacionar em local proibido pelo decreto do governador Renan Filho (MDB), aliado do deputado.

O Diário do Poder apurou que nenhum dos veículos irregulares seria de propriedade do deputado.

Ao divulgar o resultado de seu exame, positivo para a covid-19, no dia 27, Albuquerque pediu que rogassem a Deus por ele.

Veja:

A Prefeitura de Maceió informou que está enviando uma representação pedindo ao Ministério Público Estadual de Alagoas que apure eventual cometimento de crime e/ou descumprimento de normas sanitárias pelo deputado.

Ele reclama de perseguição

Ao falar de uma suposta perseguição do governo do Estado, Albuquerque repete discursos que vem fazendo desde que foi alvo da Operação Taturana, em 2007. O deputado é o mesmo que, em agosto de 2019, parabenizou um motorista de transporte clandestino de passageiros pela ação criminosa de atear fogo em uma viatura de fiscalização de trânsito de Maceió, após ter o carro apreendido. Depois, pediu desculpas ao parlamento por ter “exagerado”.

No ano passado, os juízes do Núcleo de Processos de Improbidade da 1ª instância do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) condenaram Antônio Albuquerque à perda de seu cargo e dos direitos políticos por cinco anos, por improbidade administrativa, por tomar empréstimos que somaram mais de R$ 1 milhão junto ao Banco Rural, utilizando ilegalmente cheques do Legislativo como garantia de quitação e a verba de gabinete para comprovação de renda.

A condenação decorrente da Operação Taturana só terá efeitos após o trânsito em julgado. E, à época, o deputado afirmou em nota que acredita que instâncias superiores do Judiciário “irão reconhecer e corrigir tais ilegalidades, erros e equívocos, levados a efeito com flagrante abuso de autoridade, anulando a inoportuna sentença, reconhecendo a sua manifesta improcedência, fazendo, assim, prevalecer à verdade e à lei”.

 

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