Incitação à violência

Deputado apoia queima de viatura em Maceió e é acusado de defender bandido

Antônio Albuquerque ofereceu advogado a incendiário e foi criticado por deputada

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Deputado Antônio Albuquerque defendeu queima de mais viaturas da SMTT. Foto: Comunicação ALE e Redes Sociais

Não bastasse minimizar a prática de crime ambiental, criticando a apreensão de pássaros silvestres em Alagoas, o deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB-AL) parabenizou um motorista de transporte clandestino de passageiros por atear fogo em uma viatura de fiscalização de trânsito de Maceió (AL), no final de julho, após ter seu carro apreendido. Albuquerque incentivou a reação criminosa contra viaturas em discurso no plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), na sessão do dia 7. E depois de afirmar que mais viaturas deviam ser incendiadas, voltou ontem (13) ao assunto, pedindo “desculpas” ao parlamento por ter “exagerado”.

Albuquerque foi acusado pela a deputada Cibele Moura (PSDB-AL) de “defender bandido”, por justificar a queima da viatura e se oferecer para bancar os custos do advogado do motorista Genilson dos Santos, 42, preso em flagrante em 30 de julho.

Apoiador da decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de desligar radares eletrônicos em todo o Brasil, o deputado reafirmou ontem a sua defesa sobre as supostas razões que o motorista infrator teria para cometer crime de dano ao patrimônio público da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito de Maceió (SMTT)

“Outro dia eu vi um cidadão preso, porque no auge de sua revolta, ele foi lá e incendiou uma viatura. Ele devia ter incendiado todas. Se não tiver dinheiro para pagar um advogado, eu banco o advogado para aquele cidadão. Só faltou que ele tivesse colocado fogo em mais carros. Não apenas naqueles carros da SMTT. Devia ter colocado fogo em outros carros, de pessoas mais importantes. Quem sabe, assim, chamava um pouco mais a atenção”, disse Albuquerque, na sessão da última quarta (7), sugerindo que fosse ampliado o ataque criminoso à viatura.

Ontem, deputado do PTB voltou a fazer acusações de supostas irregularidades, sem expor casos concretos da suposta “indústria de multas” que afirma existir na capital alagoana. E foi elogiado pelo “pedido de desculpas”, pelos deputados Galba Novaes (MDB-AL) e pelo presidente da ALE, Marcelo Victor (SD-AL). O deputado Davi Maia (DEM-AL) discordou da declaração de Albuquerque minimizando a prática criminosa de rinha de galo, mesmo dizendo que o colega foi feliz ao se desculpar.

Assista ao momento em que Albuquerque apoia o ataque à viaturas:

Reação isolada

Mas a deputada Cibele Moura, sobrinha do superintendente da SMTT, Antônio Moura, enfrentou sozinha os argumentos de Albuquerque, ao dizer que ainda não poderia elogiar o deputado. E relatou que inúmeros agentes de trânsito a procuraram preocupados com a insegurança para trabalhar pelo cumprimento das legislação de trânsito, após as falas do colega de plenário.

“Infelizmente, não vou dar os parabéns porque o senhor deputado afirma que pagará o advogado do bandido. E trato ele como bandido, porque quem comete crime é bandido. É muito triste a gente defender bandido. Não entrei nessa Casa para isso. Tenho certeza de quem nenhum dos deputados entraram aqui para isso. E aqui não quero nem fazer a defesa das instituições, do MP, da PM, muito menos da SMTT. Mas gostaria muito defender os trabalhadores, o agente, o policial, as pessoas que acordam para ir trabalhar nas instituições. Quando a gente falou em incendiar carros, está botando a segurança dessas pessoas em risco”, disse a jovem parlamentar eleita aos 21 anos.

Veja como a deputada reagiu ao primeiro pronunciamento de Albuquerque:

E sua reação ao pedido de desculpas do deputado, ontem (13):

Albuquerque não interpreta suas falas como apologia ao crime. “Segmentos da imprensa dizem que fiz apologia ao crime. Não há crime mais hediondo do que aqueles que são praticados em nome da lei, por agentes que se fazem ou se dizem em nome da lei. Quando falei do abuso de segmentos do Ministério Público, é porque não tenho medo dessas instituições. É porque tenho a obrigação política e moral de defender o cidadão alagoano que me conduziu e reconduziu em sete vezes consecutivas ao exercício do mandato”, ao dizer ter recebido milhares de mensagens de apoio à suas declarações a favor da queima das viaturas.

Sobre as declarações do deputado, a SMTT disse ao Diário do Poder que não vai se pronunciar sobre o assunto.

Condenação recente

Há menos de um mês, os juízes do Núcleo de Processos de Improbidade da 1ª instância do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) condenaram Antônio Albuquerque à perda de seu cargo e dos direitos políticos por cinco anos, por improbidade administrativa, por tomar empréstimos que somaram mais de R$ 1 milhão junto ao Banco Rural, utilizando ilegalmente cheques do Legislativo como garantia de quitação e a verba de gabinete para comprovação de renda.

A condenação decorrente da Operação Taturana, de 2007, só terá efeitos após o trânsito em julgado. E o deputado afirmou em nota que acredita que instâncias superiores do Judiciário “irão reconhecer e corrigir tais ilegalidades, erros e equívocos, levados a efeito com flagrante abuso de autoridade, anulando a inoportuna sentença, reconhecendo a sua manifesta improcedência, fazendo, assim, prevalecer à verdade e à lei”.

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