Cinco bairros destruídos

2ª fase da Lágrimas de Sal apura supostos crimes da Braskem em Maceió

PF aprofunda análise de indícios de fraudes em laudos enviados a órgãos controle, para ocultar destruição de bairros da capital de Alagoas

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Milhares de casas foram destruídas pela mineração da Braskem, em cinco bairros de Maceió. (Foto: Edilson Omena/Tribuna Independente)

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (24) a segunda fase da Operação Lágrimas de Sal, para cumprir um mandado de busca e apreensão, para aprofundar investigações sobre crimes cometidos no contexto da exploração de sal-gema pela Braskem, que destruiu cinco bairros de Maceió.

A operação foi autorizada pela Justiça Federal em Alagoas, dois dias após senadores aprovarem o relatório final da CPI da Braskem com pedido de indiciamento da petroquímica, seus dirigentes, de outras duas empresas e de um total de 11 acusados de serem responsáveis pelo afundamento do solo, causado pelas cavernas subterrâneas abertas por minas de sal-gema. O desastre geológico causou tremores de terra e levou cerca de 60 mil maceioenses a deixarem suas casas e empresas nos bairros do Pinheiro, Bom Parto, Bebedouro, Mutange e parte do Farol.

A investigação avança com base na análise de elementos obtidos na primeira fase da operação, deflagrada em dezembro de 2023, que revelaram indícios de fraudes em relatórios e laudos topográficos apresentados a entidades fiscalizadoras com dados total ou parcialmente falsos, para ocultar o processo de subsidência (afundamento) do solo em andamento.

Material apreendido na Operação Lágrimas de Sal, em Maceió (Foto: Reprodução PF)

Os suspeitos são investigados pelos crimes de poluição qualificada, usurpação de recursos da União, apresentação de estudos ambientais falsos ou enganosos, inclusive por omissão, entre outros delitos, conforme a participação de cada um nos fatos apurados.

Na primeira fase da operação, a PF informou que as investigações já apuraram indícios de que as atividades de mineração, desenvolvidas por meio de 35 poços explorados de 1976 a 2019, descumpriram parâmetros de segurança previstos na literatura científica e nos respectivos planos de lavra.

A operação faz referência ao sofrimento da população expulsa de casa pelo desastre. E já havia cumprido 11 mandados em Maceió, dois no Rio de Janeiro e um em Aracaju, no ano passado.

Outro lado

Na 1ª fase da Lágrimas de Sal, o Diário do Poder solicitou posicionamento da Braskem sobre a operação. E fez o seguinte questionamento: “Houve apresentação de dados falsos e omissão de informações por parte da empresa para garantir operações em Maceió?”.

Por meio de nota, a Braskem informou que estava acompanhando a operação da PF e que está à disposição das autoridades. Posição que se repete, hoje, com a seguinte nota:

“A Braskem tomou conhecimento da diligência realizada pela Polícia Federal nesta manhã, em Maceió, e informa que está à disposição das autoridades, como sempre atuou”

Pedidos de indiciamento

A CPI da Braskem pediu os seguintes indiciamentos, ao concluir a investigação, nesta semana:

  • Marcelo de Oliveira Cerqueira, diretor-executivo da Braskem desde 2013, e atualmente vice-presidente executivo de Manufatura Brasil e Operações Industriais Globais;
  • Alvaro Cesar Oliveira de Almeida, diretor industrial de 2010 a 2019;
  • Marco Aurélio Cabral Campelo, gerente de produção;
  • Galileu Moraes, gerente de produção de 2018 a 2019;
  • Paulo Márcio Tibana, gerente de produção de 2012 a 2017;
  • Paulo Roberto Cabral de Melo, gerente-geral da planta de mineração de 1976 a 1997;
  • Adolfo Sponquiado, responsável técnico da empresa no local de mineração entre 2011 e 2016;
  • Alex Cardoso da Silva, responsável técnico em 2007, 2010, 2017 e 2019.

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