Bajulação no ar

Conselheiro protesta censurando TV pública do TCE em Alagoas

Anselmo Brito impede cobertura e denuncia comércio na TV Cidadã

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Em uma atitude extrema e com o objetivo de denunciar o uso comercial de uma TV pública, o conselheiro Anselmo Brito, do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE/AL), impediu que a equipe da TV Cidadã transmitisse o 1º Encontro Técnico de Combate à Corrupção, promovido pela Escola de Contas. O ato também foi uma resposta ao fato de ter sido censurada por longos 20 dias a sessão do Pleno do TCE de Alagoas de 19 de julho, quando Brito discutiu com o conselheiro Cícero Amélio, afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em agosto.

O protesto de Anselmo Brito reproduziu a censura da TV Cidadã que o atingiu ao cobrar de Cícero Amélio o retorno de processos com pedidos de vistas feitos há sete e quatro anos. E surpreendeu até mesmo o presidente do TCE, Otávio Lessa, que também já foi alvo de denúncias de nepotismo feitas pelo conselheiro, que vive sob escolta policial cedida pelo Estado após ameaças ligadas à sua atuação combativa pela transparência e legalidade naquela Corte de Contas.

Procurado para explicar sua decisão, Anselmo Brito reafirmou suas críticas ao que chamou de “TV que recebe a cognominação de ‘TV Cidadã’”. Disse que a emissora deveria, de fato, ser uma TV institucional e do TCE, voltada apenas a cobrir ou exibir fatos relacionados à sua atividade junto à Corte de Contas, mas na verdade é utilizada “para fins comerciais ou de pura e simples bajulação”, devido à forte amizade existente entre o seu diretor Geraldo Câmara e o presidente Otávio Lessa. O que comprometeu o caráter livre e isento da TV pública.

Brito relatou ainda que Geraldo Câmara, que é diretor da Comunicação do TCE, tem um programa comercial chamado Bartepapo, que é apresentado em locais comerciais de Maceió, bares e restaurantes e o exibe graciosamente na TV Cidadã do TCE, cobrindo festas da maçonaria, fazendo homenagens a pessoas como um empresário Caio Porto, que faz passeios de barco pelas praias do Gunga e Barra de São Miguel. E criticou ainda as propagandas feitas dos estabelecimentos comerciais das ocasiões em que sediam as entrevistas.

“Isso é TV Cidadã ou institucional? Basta conferir o que está sendo e já foi exibido. É triste, é nossa realidade. Infelizmente não posso associar meu nome, em virtude do cargo que ocupo, nem o nome da Escola de Contas Públicas, que tenta e faz um trabalho sério para o cidadão, para legitimar algo viciado, patrocinado com dinheiro público e que somente atende a interesses que não o interesse público, mas comerciais e individuais, como os do próprio diretor de comunicação do Tribunal e da tal TV, o senhor Geraldo Câmara!”, denunciou Brito.

Veja um exemplo de motivo do repúdio de Anselmo Brito:

Liberdade e cidadania

Quanto à liberdade de imprensa da TV pública, Brito afirmou que Otávio Lessa teria censurado, através de ordem de não exibição, a sessão da discussão com Amélio. “Pois é, fez assim porque repercute negativamente em sua gestão e toda vez que isso acontecer a censura, que estava erradicada, volta a tona! Entendo que a imprensa livre, de verdade, profissional e eticamente é um dos fatores de transformação/evolução da sociedade. Mas não essa de ‘interesses’ inomináveis que está instalada na Corte de Contas. Disto eu tenho certeza! Não posso nem vou compactuar com essas situações!”, reforçou Anselmo Brito.

O diretor de comunicação Geraldo Câmara disse ao Diário do Poder não saber “porque cargas d’água” a televisão foi avisada de que não faria a cobertura do evento, que tinha como convidados três conselheiros do Maranhão, José Ribamar Caldas Furtado; da Bahia, Inaldo Paixão Santos Araújo; e do Tocantins, Doris de Miranda Coutinho, que lançou o livro “O Ovo da Serpente”. Câmara disse ter entrevistado os convidados no gabinete da Presidência do TCE para evitar constrangimentos

Servidor comissionado e apresentador do Bartepapo e Almoçando com a Notícia disse estar trabalhando o assunto junto à Presidência do TCE de Alagoas para evitar a repetição da situação e evitar distensão na instituição. E garantiu que a TV Cidadã está no ar para “servir e mostrar à população tudo o que tem que pode ser mostrado”.

“Temos tido esse cuidado de não só mostrar trabalhos de fora e do TCU, da Atricon. Temos programas próprios já, como o da OAB, que está aqui prestando serviço. Tudo que for direito do cidadão, estaremos mostrando sempre. Inclusive os programas que eu faço, que trouxe para cá sem nenhuma conotação comercial, sempre entrevistando pessoas e assuntos que digam respeito não só ao Tribunal, mas ao cidadão de um modo geral”, defendeu o diretor da comunicação do TCE, ressaltando que também falava em nome do presidente Otávio Lessa.

Geraldo Câmara dirige a TV Cidadã"Só o buffet"

Sobre os comerciais presentes em seus programas Bartepapo e Almoçando com a Notícia, Geraldo Câmara disse inexistir “caráter comercial” e explicou que não leva todos os programas que grava para a programação da TV Cidadão, “só os programas que dizem respeito à cidadania e várias pessoas do Tribunal têm sido entrevistadas”. E ainda garantiu que retira de dentro dos programas todas as conotações comerciais, “sem exceção”.

“A única conotação que existe lá dentro, que não é comercial, é uma parceria, é que o Almoçando com a Notícia tem um parceiro que é um buffet. Certo? Então agradeço à presença do buffet. Só. Mais nada. E não se recebe dinheiro por conta disso. Ele [Anselmo Brito] deveria estar defendendo a televisão que está sendo feita aqui a duras penas, com sacrifício muito grande, sem dinheiro ainda. A gente deveria defender a nossa categoria, é mais um veículo aqui, que já está na Sky, na Oops, na GVT e vai entrar na NET”, apelou Geraldo Câmara, ao negar ter praticado censura quanto à sessão da discussão de Brito com Amélio. “Houve um problema técnico que foi solucionado e a sessão foi colocada no ar no dia seguinte”, falou, sobre a sessão do dia 19 de julho, que somente foi colocada no ar em 8 de agosto.

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