Porto Alegre

Cliente negra humilhada no Carrefour mostra que João Alberto não é caso isolado

Ela foi acusada de furto injustamente e obrigada a se despir diante de seis seguranças

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Houve protesto em Porto Alegre no Carrefour do bairro Partenon, o mesmo que humilhou Regina Ritzel Ferreira, uma mulher negra submetida a revista humilhante.

Enquanto o Carrefour anunciava a criação de um fundo de R$25 milhões para financiar ações contra o racismo, surgem informações de que o cruel e covarde  assassinato de João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre, pode não ter sido um “caso isolado”, como tem se manifestado a empresa.

Há denúncia da existência de “salinhas” usadas por seguranças do Carrefour para autênticas sessões de tortura, inclusive psicológica, a clientes sob suspeita de de furto.

Em 2018, a publicitária Regina Ritzel Ferreira, 37 anos, foi uma dessas pessoas acusadas injustamente de furto e humilhada por seguranças do hipermercado Carrefour no bairro Partenon, em Porto Alegre. Regina é negra. Após uma revista humilhante, os próprios seguranças concluíram que a suspeita era improcedente.

Humilhação criminosa

Regina fazia compras com as duas filhas, quando seu celular tocou. “Abri a bolsa para atender a ligação e depois guardei meu telefone novamente. Passei no caixa, paguei minhas compras, peguei a nota, saí do supermercado e, no estacionamento, fui abordada por trás por dois seguranças que me pegaram pelo braço”, segundo seu relato ao site gaúcho Matinal Jornalismo.

Ela foi conduzida para a tal salinha e coagida a ficar seminua diante de seis seguranças. “Eles falaram que eu tinha roubado um produto”, segundo relatou Regina ao Matinal. “Minhas filhas começaram a chorar desesperadamente enquanto eu era obrigada a tirar a roupa”.

“Depois constataram o equívoco e pediram desculpas”, diz ela, mas “o gerente teve o desplante de perguntar se eu queria alguma coisa do mercado, mas o tempo todo fui humilhada e constrangida”. Hoje a Rayssa, filha mais nova de Regina, desenvolveu medo por supermercados e a família já não frequenta o Carrefour.

Em setembro de 2019 condenou o Carrefour a pagar indenização de R$35 mil a ela e às filhas, que assistiram os maus tratos.

Em sua decisão, a juíza Nelita Teresa Davoglio deixou claro que o caso não foi isolado. Em vez de pagar, o Carrefour recorreu da decisão.

Juíza já não consegue entrar no Carrefour

Após o assassinato de João Alberto em Porto Alegre, várias denúncias de agressões e de deinstrações de intolerância, em lojas do Carrefour, vieram a público.

No Twitter, a juíza Cristiana de Faria Cordeiro descreveu o caso de uma mulher negra presa por furtar comida numa filial do Rio de Janeiro:

– “Ela foi levada para uma salinha onde foi brutalmente espancada com um pedaço de madeira, inclusive. Não teve coragem de nos contar o mais cruel, e só falou para a psicóloga que a atendeu antes de ser liberada: foi sodomizada, estuprada, como ‘lição e castigo’.”

A juíza Cristiana ainda relembrou que a mulher chegou à audiência de custódia com um curativo no ânus. “Desde então, não consigo entrar num Carrefour”, escreveu a juíza.

“Impossível um neguinho ter um EcoSport”

O site Matinal também relata o caso de ocorrido em 2009, quando seguranças do Carrefour de Osasco, São Paulo, o vigilante Januário Alves de Santana após acusá-lo de roubar o próprio carro.

Um dos funcionários disse na ocasião que era “impossível um neguinho ter um EcoSport”. Januário levou coronhadas e socos, perdeu um dente e precisou passar por uma cirurgia.

Presidente do Carrefour pediu desculpas

Além de criar um fundo milionário para ações de combate ao racismo, no qual aportou R$25 milhões, o Carrefour entrou em contato com a família.

O pai de João Alberto, pastor João Batista Rodrigues Freitas, contou ter recebido um telefonema do presidente do grupo, o francês Alexandre Bompard, que, com ajuda de intérprete, pediu desculpas e disse que estaria à disposição para qualquer coisa que a família precisasse.

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